Governadores do Huambo evitam morar no palácio provincial
José Adalberto (Huambo)
20 de novembro de 2017
Na província angolana, apenas dois dos últimos cinco governadores fixaram residência no palácio. Há quem diga que os políticos temem "forças ocultas". Outros acusam os dirigentes de "falta de cultura de Estado".
Publicidade
O Palácio do Governo é um dos mais emblemáticos e glamorosos edifícios da cidade do Huambo e é a residência oficial do governador da província. No entanto, atualmente o prédio serve apenas para a realização de audiências.
Dos últimos cinco governadores nomeados para representar o Governo central no Huambo, entre 2002 e 2017, apenas dois aceitaram viver nas instalações erguidas para acolher quem chega para chefiar a província.
Albino Malungo, que liderou o Governo local entre 2008 e 2009, e Kundi Pahama, atual governador da província do Cunene, que governou o Huambo entre 2014 e 2016, ocuparam a residência oficial. Já Paulo Kassoma, Faustino Muteka e o atual governador, João Baptista Kussumua, recusaram morar no Palácio do Governo.
20.11 Huambo: Governadores recusam morar no Palácio - MP3-Mono
Uma opção que não passa despercebida aos habitantes do Huambo. Nas ruas da capital da província, comenta-se que os responsáveis temem pela sua vida e, por isso, recusam-se a morar no Palácio do Governo. Acreditam que o edifício possui "forças ocultas" e que só quem está preparado tradicionalmente contra forças ocultas é capaz de morar no Palácio.
Para o psicólogo Abraão Messamessa, a atitude dos governadores é incompreensível, uma vez que o palácio é o símbolo do poder político "num Estado civilizado". Segundo o especialista, "a soberania reside no governo e não se pode confiar em surperstições".
O psicólogo lembra também a questão financeira, afinal, a manutenção do Palácio implica despesas para o Estado. "É um desperdicío, porque é uma casa orçamentada e o Estado paga serviços e, neste momento, estão a duplicar-se as despesas, porque estas casas anexas têm de ser pagas pelo Estado", diz Messamessa.
"Medo das forças ocultas"
Para o docente universitário na área de linguística africana Américo Bilami, o "medo das forças ocultas" não é razão suficiente para explicar o facto de os governadores se recusarem a ocupar a moradia oficial.
"Não é de facto a melhor via que os governantes têm vindo adotar. Se calhar, há um certo receio, porque de facto dos cinco governadores apenas dois, de forma livre, decidiram viver no palácio da província. Há também superstição, mas isso não é convincente", afirma Bilami.
De acordo com o académico, por detrás desta "superstição" dos governadores, estão questões "meramente pessoais ou económicas". "Há muitos governantes que preferem arrendar uma casa, e desta se calhar têm um valor ínfimo e, há uma subfaturação".
Para Bento Gungui, residente no Huambo, é normal o governador da província residir fora do palácio. Ele defende que os dirigentes políticos têm o direito de escolher onde moram.
"A lei não veta o direito de o governador exercer o direito de perferência. Penso que pode, porque no palácio já passaram muitos governadores. Assim, os governadores pensam que vão encontrar aí uma situação que o outro deixou, associando já a questão da superstição. Nós estamos em África", opina o cidadão, também fazendo referência à superstição.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".