RD Congo e M23 acertam trégua em Doha
24 de abril de 2025
O governo da República Democrática do Congo (RDC) e o grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23) comprometeram-se a trabalhar por uma trégua no conflito armado no leste do país, após negociações de paz realizadas nas últimas semanas em Doha, sob os auspícios do Catar.
"Em um espírito de entendimento mútuo e com um compromisso compartilhado de resolver o conflito por meios pacíficos, representantes da República Democrática do Congo e da AFC/M23 realizaram negociações de paz facilitadas pelo Estado do Catar", afirmaram em comunicado conjunto o Governo congolês e a Aliança Rio Congo (AFC), que inclui o M23.
Compromisso mútuo
Após um diálogo que classificaram como "franco e construtivo", ambas as partes concordaram em trabalhar para concluir uma trégua que reforce a eficácia do cessar-fogo. Reafirmaram também o compromisso com a cessação imediata das hostilidades, rejeitaram discursos de ódio e intimidação e apelaram às comunidades locais para que respeitem os compromissos assumidos.
O acordo inclui a promessa de cumprir todas as decisões tomadas até agora, com o objetivo de permitir um diálogo mais amplo e construtivo, que contribua para a paz duradoura na região.
Segundo o comunicado, esse futuro diálogo abordará as causas profundas da crise e as formas concretas de pôr fim ao conflito no leste da RD Congo. Os representantes governamentais e do M23 afirmaram estar prontos para respeitar os compromissos assumidos ao longo das negociações e durante a sua implementação.
Conflito e impacto
O anúncio surge depois de a rádio patrocinada pela ONU, Radio Okapi, ter informado que o M23 abandonou temporariamente as negociações na terça-feira passada devido a divergências. Este foi o primeiro encontro presencial entre as partes desde a intensificação da ofensiva rebelde em janeiro.
Desde então, o M23 capturou várias localidades nas províncias de Kivu do Norte e Kivu do Sul, incluindo as capitais Goma e Bukavu — regiões estratégicas e ricas em recursos minerais como ouro e coltan. A escalada do conflito resultou em cerca de 1,2 milhão de deslocados e mais de 8.500 mortos, segundo dados oficiais.
A actividade armada do M23, um grupo composto maioritariamente por tutsis sobreviventes do genocídio ruandês de 1994, foi retomada em 2021. A situação no leste do país continua instável, apesar da presença da missão de paz da ONU, a Monusco, ativa desde 1999.