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ConflitosEtiópia

Tigray: Governo etíope e rebeldes negoceiam a paz

mjp | com agências
24 de outubro de 2022

Representantes do Governo de Abiy Ahmed e dos rebeldes da região de Tigray vão sentar-se à mesa das negociações na África do Sul, sob a égide da União Africana, para pôr fim à guerra de dois anos no norte da Etiópia.

Foto: Eduardo Soteras/AFP

Negociadores do Governo etíope e das autoridades rebeldes de Tigray já estão na África do Sul para dar início às conversações em busca de uma solução pacífica para a guerra que dura há dois anos na região norte da Etiópia.

O início do diálogo promovido pela União Africana (UA) está marcado para esta segunda-feira (24.10), após uma violenta onda de confrontos que fez soar os alarmes da comunidade internacional.

Kindeya Gebrehiwot, porta-voz das autoridades rebeldes da Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF, na sigla em inglês), anunciou a chegada da sua delegação à África do Sul no Twitter, este domingo.

"Urgente: cessação imediata das hostilidades, acesso humanitário sem restrições e retirada das forças eritreias. Não pode haver uma solução militar", acrescentou.

O Governo em Adis Abeba anunciou, em comunicado, que a sua delegação partiria para a África do Sul na manhã desta segunda-feira, acrescentando que "vê as conversações como uma oportunidade para resolver pacificamente o conflito e consolidar a melhoria da situação no terreno". No entanto, as autoridades etíopes frisaram que as suas forças "continuaram a recuperar o controlo de grandes centros urbanos nos últimos dias", em Tigray.

O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, disse na semana passada que a guerra no Tigray terminará e que a "paz prevalecerá" após quase dois anos de conflito. "Não vamos continuar a lutar para sempre", afirmou Ahmed.

As anteriores negociações, convocadas no início de outubro na África do Sul pela UA, fracassaram antes mesmo de começarem, para o que foram invocadas dificuldades logísticas.

Foto de arquivo: Mekele após ataque aéreo do Exército etíope, em outubro de 2020Foto: UGC/AP/picture alliance

Um conflito "fora de controlo"

O conflito no norte da Etiópia recomeçou em agosto, pondo fim a uma trégua de cinco meses. A comunidade internacional tem manifestado a sua preocupação com a recente intensificação dos combates em Tigray, cercada pelas forças federais etíopes, apoiadas ao norte pelo Exército da Eritreia - país na fronteira norte de Tigray - e ao sul por tropas de regiões etíopes vizinhas.

As forças etíopes e eritreias conquistaram na semana passada, após vários dias de bombardeamentos, Shire, uma das principais cidades de Tigray, com cerca de 100 mil habitantes antes da guerra e que acolheu muitas pessoas deslocadas pelo conflito. O Governo prometeu recuperar aeroportos e outras infraestruturas federais sob o controlo dos rebeldes da TPLF.

Na passada segunda-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a situação na Etiópia estava a ficar "fora de controlo".

O conflito estalou em novembro de 2020, quando Abiy Ahmed enviou tropas para Tigray, acusando a TPLF, partido governante da região que resistia à autoridade central, de atacar campos do Exército etíope, após vários meses de tensões políticas e administrativas. 

O preço desta guerra, que decorre em grande parte longe de observadores independentes, com jornalistas impedidos de aceder a região, é desconhecido. Sabe-se que provocou o deslocamento de mais de 2 milhões de pessoas e atirou centenas de milhares de etíopes para uma situação de quase fome e sem assistência humanitária, segundo a ONU.

Abiy Ahmed recebeu o Nobel da Paz em 2019, pela aproximação da Etiópia à EritreiaFoto: Håkon Mosvold Larsen/AP Photo/picture alliance

"Já passou da hora" de regressar à paz

Na sexta-feira, o Conselho de Segurança da ONU reuniu-se à porta fechada para discutir a escalada do conflito e a situação dos civis no terreno. No final da reunião, a enviada dos EUA às Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfiled, disse que milhares de forças da Etiópia, da Eritreia e de Tigray estão ativamente envolvidas nos combates.

"A escala dos combates e mortes rivaliza com o que estamos a ver na Ucrânia, e civis inocentes estão a ser apanhados no fogo cruzado", disse. "Ao longo de dois anos de conflito, cerca de meio milhão - meio milhão - de pessoas morreram, e os Estados Unidos estão profundamente preocupados com o potencial para mais atrocidades em massa."

Perante o corpo diplomático presente na reunião do Conselho de Segurança, Thomas-Greenfield defendeu que "já passou da hora de todas as partes" pousarem as armas e regressarem à paz, assim como "já passou da hora de cessar as hostilidades" e de garantir acesso humanitário a todos os necessitados. "E já passou da hora das Forças de Defesa da Eritreia interromperem a sua ofensiva militar conjunta e da Etiópia pedir à Eritreia que retire os seus soldados do norte da Etiópia", acrescentou.

O Conselho de Paz e Segurança da UA também se reuniu na sexta-feira, saudando "os compromissos mútuos de participar verdadeiramente no processo de paz" e afirmando que esperava um "resultado frutuoso".

A equipa de mediação da UA para as conversações deverá incluir o enviado do Corno de África Olusegun Obasanjo, o antigo vice-Presidente da África do Sul Phumzile Mlambo-Ngcuka e o antigo Presidente queniano Uhuru Kenyatta.

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