Governo da Guiné-Bissau assegura ter tudo sob controlo
Iancuba Dansó (Bissau)
23 de outubro de 2019
Pouco depois da denúncia de tentativa de golpe de Estado, Governo garante ter a situação sob controlo. Comissão de Consolidação da Paz das Nações Unidas espera que as presidenciais tenham lugar na data marcada.
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Mauro Vieira, o presidente da Configuração para a Guiné-Bissau da Comissão de Consolidação da Paz das Nações Unidas, não comenta as notícias sobre a alegada tentativa de golpe de Estado. Espera apenas que nada ponha em causa a realização das eleições presidenciais, marcadas para 24 de novembro.
"Confio na sabedoria política do povo da Guiné-Bissau, das autoridades, dos poderes constituídos e tenho certeza que é uma sociedade pacífica, tranquila, em que todos circulam livremente, e tenho confiança de que nada interferirá neste processo. É muito importante que aconteça", afirmou Mauro Vieira.
O diplomata brasileiro encontrou-se esta quarta-feira (23.10) com o Presidente guineense, José Mário Vaz. Antes, o chefe de Estado reuniu-se com as chefias militares e representantes do chamado P5 (Nações Unidas, União Europeia, União Africana, CEDEAO e CPLP). À saída do encontro com José Mário Vaz, os militares não falaram, e o habitual porta-voz do P5, Ovídeo Pequeno, também recusou prestar declarações à imprensa.
Governo da Guiné-Bissau assegura ter tudo sob controlo
Situação controlada, diz Governo
Na segunda-feira à noite, o primeiro-ministro guineense denunciou no Facebook uma alegada tentativa de golpe de Estado. Aristides Gomes acusou Umaro Sissoco Embaló, antigo primeiro-ministro e candidato presidencial do Movimento para Alternância Democrática (MADEM-G15), de estar envolvido, supostamente para travar as eleições presidenciais.
Tanto Sissoco Embaló, como o MADEM-G15 rejeitam as acusações do primeiro-ministro, tendo o candidato presidencial acusado Aristides Gomes de querer desviar a atenção dos guineenses.
Na terça-feira, o Governo mandou reforçar a segurança na capital, Bissau. Armando Mango, porta-voz do Executivo, garante que a situação está sob controlo: "Queremos assegurar a população que aqui pode-se viver e que não há nada", disse.
Segundo a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), o contingente da sua força de interposição no país, a ECOMIB, será reforçado face à realização das eleições presidenciais, em novembro.
Sumos, bolachas e até "bifes" para diversificar rendimento do caju
O caju é a principal fonte de rendimento dos produtores guineenses. A fim de estimular a economia, os produtores de Ingoré uniram-se na cooperativa Buwondena, onde produzem sumo, bolachas e até "bife" de caju.
Foto: Gilberto Fontes
O fruto da economia
Sendo um dos símbolos da Guiné-Bissau, o caju é a principal fonte de receita dos camponeses. A castanha de caju representa cerca de 90% das exportações do país. Este ano, foram exportadas 200 toneladas de castanha de caju, um encaixe de mais de 250 mil euros. A Índia é o principal comprador. O caju poderá trazer ainda mais riqueza ao país, se houver maior aposta no processamento local do produto.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no processamento
Em Ingoré, no norte da Guiné-Bissau, produtores de caju uniram-se na cooperativa Buwondena - juntamos, em dialeto local balanta - para apostar no processamento do caju. Antes, aproveitava-se apenas a castanha, desperdiçando o chamado pedúnculo, que representa cerca de 80% do fruto. Na cooperativa produzem-se agora vários produtos derivados do caju.
Foto: Gilberto Fontes
“Bife” de caju
Depois de devidamente preparado, o pedúnculo, que é a parte mais fibrosa do caju, pode ser cozinhado com cebola, alho e vários temperos. O resultado final é o chamado “bife” de caju.
A partir das fibras, produz-se também chá, mel, geleia, bolacha, entre outros. Ao desenvolverem novos produtos, os produtores diversificam a dieta e aumentam os seus rendimentos.
Foto: Gilberto Fontes
Néctar de caju
Depois de prensadas as fibras do caju, obtém-se um suco que é filtrado várias vezes, a fim de se produzir néctar e sumo. Com 50% desse suco e 50% de água com açúcar diluído, obtem-se o néctar de caju. Este ano, a cooperativa Buwondena produziu quase 400 litros desta bebida.
Foto: Gilberto Fontes
Sumo de caju
O sumo resulta da pasteurização do suco que foi filtrado do fruto, sem qualquer adicionante. Cada garrafa destas de 33cl de sumo de caju custa quase 0.40€. Ou seja, um litro de sumo pode render até 1.20€. O que é bem mais rentável que vinho de caju, produzido vulgarmente na Guiné-Bissau, que custa apenas 0.15€ o litro. Em 2016, foram produzidos na cooperativa quase 600 litros de sumo de caju.
Foto: Gilberto Fontes
Mel de caju
Clode N'dafa é um dos principais especialistas de transformação de fruta da cooperativa. Sabe de cor todas as receitas da cooperativa e só ele faz alguns produtos, como o mel. Mas devido à falta de recipientes, este produziu-se pouco mel de caju. Desde que se começou a dedicar ao processamento de fruta, Clode N'dafa conseguiu aumentar os seus rendimentos e melhorar a vida da sua família.
Foto: Gilberto Fontes
Castanha de caju
Este continua a ser o produto mais vendido pela cooperativa. O processamento passa por várias etapas: seleção das melhores castanhas, que depois vão a cozer, passam à secagem, ao corte e vão à estufa. As castanhas partidas são aproveitadas para a produção de bolacha de caju. Este ano, a cooperativa conseguiu fixar preço da castanha de caju em 1€ o quilo, protegendo os rendimentos dos produtores.
Foto: Gilberto Fontes
Potencial para aumentar produção
A maior parte dos produtos são vendidos localmente, mas alguns são comercializados também em Bissau e exportados para o Senegal. A produção decorre sobretudo entre os meses de março e junho, período da campanha do caju. No pico de produção, chegam a trabalhar cerca de 60 pessoas. Se a cooperativa conseguisse uma arca frigorífica para armazenar o caju, continuaria a produção depois da campanha.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no empreendedorismo
A cooperativa Buwondena aposta na formação a nível de empreendedorismo, para que os produtores possam aumentar o potencial do seu negócio. A cooperativa pretende criar uma caixa de poupança e crédito. O objetivo é que, através de juros, os produtores possam rentabilizar as suas poupanças e apostar noutros negócios.
Foto: Gilberto Fontes
É urgente reordenar as plantações
A plantação de cajueiros é outra das preocupações da cooperativa: uma plantação organizada, com ventilação é fundamental para aumentar a rentabilidade.
Devido ao peso do sector do caju na economia da Guiné-Bissau, todos os anos são destruídos entre 30 e 80 mil hectares de floresta para a plantação de cajueiros. Especialistas defendem uma reordenação urgente das plantações.