O Governo moçambicano deverá poupar 7,2 mil milhões de meticais em 2018. Um analista ouvido pela DW África diz que a decisão ajudará a controlar custos, numa altura em que o país atravessa uma profunda crise económica.
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O ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, disse a jornalistas nesta terça-feira (05.12) que a decisão do Governo vai permitir poupar ao Orçamento do Estado, só em 2018, um montante estimado em 7,2 mil milhões de meticais, o equivalente a mais de 100 milhões de euros.
Segundo Maleiane, o decreto agora aprovado pelo executivo vai reduzir os encargos financeiros resultantes da obrigação do Estado de garantir os direitos e regalias dos dirigentes superiores do Estado e de titulares de cargos governativos.
As novas medidas visam uniformizar os procedimentos e instituir limites para as despesas como arrendamento de imóveis, subsídios de combustíveis, comunicações e bónus especiais, afirmou Maleiane.
Compra de viaturas
Uma das áreas abrangidas pela decisão está relacionada com a compra de viaturas protocolares, assunto que tem estado a gerar controvérsia na sociedade, com vários sectores a acusar o Governo de despesismo.
Futuramente só serão adquiridas viaturas com uma cilindrada até 1.500 centímetros cúbicos. Segundo o ministro Maleiane, pretende-se mais disciplina: "No mercado, buscaremos o carro que seja ajustado às capacidades, e não só aquilo que a sociedade aceita como o razoável para poder usar".
Em relação aos subsídios de combustíveis e comunicações, atribuídos aos quadros e dirigentes do Estado, Maleiane reconheceu que "o peso de combustíveis e das comunicações é muito grande e, por isso, a decisão foi fixar um limite máximo".
O ministro da Economia e Finanças explicou ainda que, na base do novo decreto, o Estado vai deixar de comprar viaturas para alienação a dirigentes públicos. Em sua substituição, será pago um subsídio de funções.
A alienação de viaturas é um dispositivo legal adoptado pelo governo moçambicano através do qual são atribuidas viaturas a quadros superiores, funcionários com formação superior e dirigentes da função pública. É uma forma de incentivo face aos baixos salários que são pagos no setor, comparativamente às instituições privadas e ONGs.
"Decisão correcta"
06 12 Moçambique cortes orçamentais - MP3-Mono
Para o analista Fernando Gonçalves, ouvido pela DW África, o pacote de medidas orçamentais tem a ver com a crise económica que o país atravessa, mas também "há uma recomendação do FMI para que o governo reduza as despesas do Estado. Penso que é uma decisão correta que vai ajudar muito a controlar os custos na administração pública", diz.
Questionado se as novas medidas são suficientes face à atual crise, Gonçalves afirmou que "se houver outras medidas que forem possíveis tomar, essas são sempre bem-vindas".
Ainda na mesma sessão o Governo aprovou um decreto sobre os procedimentos da emissão e gestão da dívida pública. Trata-se de um documento que, segundo o ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, visa conferir rigor e transparência na negociação, contratação e emissão da dívida pública, bem como na concessão de garantias.
Moçambique: Guerra civil com pausas de paz
A paz nunca foi uma certeza em Moçambique. Ela apenas tem intercalado confrontos militares desde a independência. Acordos de paz mal concebidos parecem estar na origem dos conflitos. Mas há novos bons sinais à vista.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
O começo da guerra civil
A guerra entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO começou em 1977, isso cerca de dois anos após a proclamação da independência do país. A RENAMO contestava a governação da FRELIMo e queria democracia. Este movimento tinha o apoio da ex-Rodésia e da África do Sul, dois vizinhos de Moçambique. A guerra matou milhões de moçambicanos e quase paralisou a economia do país.
Acabar com a guerra era o obetivo deste acordo, alcançado em 1984. Foi assinado entre os antigos Presidentes de Moçambique e da África do Sul, Samora Machel e Peter Botha, respetivamente. Ficou acordado que Pretória deixava de apoiar a RENAMO e Maputo parava o apoio ao ANC. Este último que lutava contra o Apartheid. Mas ninguém respeitou o acordo.
Foto: Avant Verlag/Birgit Weyhe
Acordo Geral de Paz de Roma
Colocou finalmente fim a guerra em 1992. Foi patrocinado pela Comunidade Santo Egídio, instituição católica italiana. Nessa altura o país já estava devastado e tinha transitado do sistema socialista para o da economia de mercado. Afosno Dhlakama, líder da RENAMO, e Joaquim Chissano, ex-Presidene de Moçambique, assinaram um acordo que pôs fim a uma guerra de 16 anos.
Eleições: nova era de desentendimentos
Em 1994 o país dava os seus primeiros passos rumo a democracia: início do multipartidarismo e realização das primeiras eleições, patrocinadas pela ONU. O primeiro Presidente eleito do país foi Joaquim Chissano. A RENAMO contestou, mas acabou por aceitar os resultados eleitorais.
Foto: Getty Images/AFP/Gianluigi Guercia
Eleições 1999: RENAMO revolta-se
Nas segundas eleições, em 1999, Joaquim Chissano e a FRELIMO voltaram a ganhar. Mas o processo foi novamente marcado por graves irregularidades, a RENAMO diz que houve fraude e contestou com mais veemência. E no ano 2000 apoiantes da RENAMO manifestaram-se em Montepuez província de Cabo Delgado, contra os resultados. Cerca de 700 manifestantes terão sido detidos e mortos por asfixia nas celas.
Foto: Marc Dietrich-Fotolia.com
Rastilho para o barril de pólvora já arde
As sucessivas irregularidades nas eleições, a lei eleitoral desajustada e difícil integração dos ex-guerrilheiros da RENAMO no exército nacional foram os principais pontos que aumentaram a tensão com o Governo. A falta de confiança que caracteriza a relação entre as partes aumentou.
Foto: Gerald Henzinger
As armas falam novamente
Em 2013 a polícia e homens da RENAMO confrontaram-se. Era o início dos conflitos armados. Nesse ano a RENAMO recusa a aprovação da Lei Eleitoral e não participa nas autárquicas. Há um interregno no conflito para a realização de eleições gerais em 2014. A RENAMO perde e acusa a FRELIMO de fraude. O país volta a ser palco de guerra. RENAMO exige governar as seis províncias onde diz ter ganho.
Foto: Fernando Veloso
Guebuza e Dhlakama: o braço de ferro até ao fim
Em setembro de 2014 o Presidente Armando Guebuza e o líder da RENAMO chegam a acordo para por fim ao conflito armado. Abriu-se assim caminho para as eleições gerais, onde a RENAMO participou. Mas as negociações entre os dois homens nunca foram fáceis. Para começar os encontros foram poucos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Na guerra vale tudo
Em Setembro de 2015 Dhlakama sofreu dois atentados. Um deles contra a coluna em que viajava, de Manica a Nampula. Afonso Dhlakama saiu ileso, mas segundo relatos morreram várias pessoas. Mais tarde várias viaturas da comitiva do líder da RENAMO foram queimadas. Dhlakama acusou a FRELIMO pelos atentados.
Foto: DW/A. Sebastião
Cerco a casa de Afonso Dhlakama
Em outubro de 2015 a guarda pessoal do líder da RENAMO foi desarmada pelas forças governamentais durante um cerco à sua residência na cidade da Beira. O Governo pretendia um desarmamento forçado dos homens da RENAMO. O desarmamento da maior força da oposição é um dos pontos controversos nas negociações de paz.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Diálogo de paz pouco frutífero
Infindáveis rondas marcaram as negociações de paz. E em paralelo as armas falavam nas matas, membros da RENAMO eram assassinados a média de um por mês em 2016. Observadores e mediadores, nacionais e internacionais, entraram e saíram do barulho sem conseguir muito. Houve também adiamentos de rondas e algumas pausas no processo.
Foto: Leonel Matias
Dhlakama e Nyusi: maior proximidade, bons sinais
Em agosto de 2017 o Presidente Nyusi deslocou-se à Gorongosa, bastião da RENAMO, para se encontrar com Dhlakama. Os dois líderes acordaram sobre os próximos passos no processo de paz. Esperavam um acordo de paz até ao final de 2017, mas tal não deverá acontecer. Entretanto, Dhlakama está satisfeito com o andamento das negociações. O sigilo entre os dois parece ser o segredo de um bom entendimento.