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ConflitosBurundi

Governo do Burundi cometeu genocídio entre 1972-1973

Lusa
22 de dezembro de 2021

Uma investigação da Comissão de Verdade e Reconciliação do Burundi (TRC) concluiu que os assassinatos cometidos no Burundi em 1972 e 1973 podem ser considerados um "genocídio" contra o grupo étnico hutu.

Ruanda Symbolbild Völkermord
Foto ilustrativaFoto: picture-alliance/AP Photo/R. Mazalan

Trata-se de ações cometidas pelas forças de segurança e outras instituições leais ao Governo de então. As conclusões foram apresentadas segunda-feira (20.12) no Parlamento do Burundi, e divulgadas esta quarta-feira (22.12) pela imprensa local.

 "Segundo o nosso estudo, todas as instituições do Estado, desde o Presidente da República aos políticos locais, o partido UPRONA [então no poder], a justiça e o Exército participaram e facilitaram as prisões e assassínios de hutus", disse o presidente da Comissão de Verdade e Reconciliação do Burundi (TRC), Pierre Claver Ndayicariye.

A comissão desenterrou os restos mortais de 19.897 pessoas atirados para 691 valas comuns das 1.900 já identificadas até agora em dez províncias do país.

"As valas comuns estão entre os sinais inegáveis que confirmam que o poder da época planeou e executou os massacres contra nacionais do grupo étnico hutu em 1972-1973", disse Ndayicariye.

A TRC também reconheceu que, além dos assassínios generalizados contra os hutus, houve crimes contra a Humanidade que "custaram a vida de alguns tutsis".

Pierre Claver Ndayicariye, presidente da Comissão de Verdade e Reconciliação do Burundi (TRC)Foto: Getty Images/AFP/STR

Acusações rejeitadas

Abel Gashatsi, deputado do partido UPRONA, negou qualquer responsabilidade do seu partido nos massacres de 1972-1973. Segundo o deputado, o país era então administrado por um Conselho de Segurança e pelo Presidente da República, Michel Micombero.

"Não se realizou nenhuma reunião do partido UPRONA como formação política para planear e executar esses crimes. Portanto, a TCR não pode culpar o nosso partido político", alegou Gashatsi.

Durante o período colonial, as administrações alemã e belga separaram a população do Burundi em dois grupos: tutsis (15% da população e com acesso às esferas políticas e educação formal) e hutus (camponeses relegados para segundo plano).

Essas diferenças geraram tensões que, após a independência do Burundi em 1962, resultaram em várias ondas de violência.

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Os números

Em 1972, um levantamento pró-hutu no sul do país contra o então Presidente Michel Micombero (tutsi) matou cerca de 2.000 tutsis.

Em retaliação, as forças de segurança iniciaram nesse ano uma campanha para assassinar todos os hutus com um determinado nível de educação, matando cerca de 200.000 pessoas.

Da mesma forma, os confrontos entre hutus e tutsis pelo controlo social e político do Burundi desencadearam uma guerra civil que, de 1993 a 2005, causou mais de 300.000 mortes e um milhão de pessoas refugiou-se em países vizinhos.

O TRC foi criado em maio de 2014 para investigar os conflitos interétnicos que abalaram o pequeno país africano desde a independência da Bélgica em 01 de julho de 1962 até à assinatura do cessar-fogo com o último grupo rebelde em 04 de dezembro de 2008.

No entanto, uma nova lei aprovada pelo Parlamento do Burundi em outubro de 2018 estendeu o mandato da Comissão da Verdade e Reconciliação por quatro anos para cobrir também o período colonial desde 1885.

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