Governo do Congo-Brazzaville e rebeldes assinam cessar-fogo
AFP | Reuters | Lusa | tms
23 de dezembro de 2017
Rebeldes da região de Pool, que contestavam a reeleição do Presidente, concordaram em entregar as armas. Acordo também pretende reestabelecer a livre circulação de pessoas.
Publicidade
O Governo do Congo-Brazzaville assinou, este sábado (23.12), um acordo de cessar-fogo com os rebeldes da região de Pool, no sudeste do país. Desde abril de 2016, a região tem sido palco de violência devido à reeleição do Presidente Denis Sassou Nguesso – há mais de 30 anos no poder.
Representantes do Governo de Brazzaville e do ex-líder rebelde Frédéric Bintsamou, também conhecido como pastor Ntumi, assinaram o acordo em Kinkala, a 70 quilómetros da capital, antes de realizar uma conferência de imprensa na capital do país, segundo o correspondete da agência AFP.
O secretário do Conselho Nacional de Republicanos, Jean-Gustave Ntondo, da formação política do pastor Ntumi, assegurou que "o acordo entra em vigor hoje".
Da parte do Governo, a assinatura do acordo foi supervisionada pelo ministro do Interior, Raymond Zéphyrin Mboulou.
Cessar-fogo
Sob o acordo, os rebeldes concordaram em entregar as armas e permitir a livre circulação do comércio entre a capital Brazzaville e o centro comercial de Pointe Noire. Durante as hostilidades, comboios e carros foram muitas vezes proibidos pelas milícias.
Além disso, os rebeldes concordaram em "não criar obstáculos" para a reestruturação da autoridade estatal na região de Pool.
O Governo comprometeu-se a garantir "o processo de desmobilização e de reintegração profissional, social e económica dos ex-combatentes após a devolução das armas". O Estado também supervisionará uma comissão que vai monitorar a paz.
Os ataques dos rebeldes e a resposta militar do Governo deixaram pelo menos 138 mil pessoas em situação humanitária difícil. Grupos de direitos humanos acusam as tropas governamentais cometer abusos contra a população.
Rebeldes na República Centro-Africana também entram em acordo
Também foi anunciado, este sábado, o cessar-fogo assinado por dois grupos armados rivais no noroeste da República Centro-Africana.
Segundo o Centro de Diálogo Humanitário (HD), que ajudou a mediar o acordo, o anti-Balaka, uma milícia autoproclamada maioritariamente cristã, e o grupo 3R, que afirma defender a comunidade étnica minoritária Peul, acordaram, em meados de dezembro, cessar as hostilidades no distrito Nana-Mambere do Bouar região. "Ambos os grupos se comprometeram com um cessar-fogo incondicional, bem como a cessação de todas as hostilidades e ataques contra combatentes armados do lado oposto", disse a ONG com sede em Genebra num comunicado.
"O acordo também proíbe o uso de armas, bem como qualquer ataque como a queima de aldeias e armazéns, o roubo de gado, assaltos contra civis ou qualquer outro tipo de ação" que possa violar o acordo, disse a HD.
Missões de paz da ONU em África
Os capacetes azuis da Organização das Nações Unidas têm intervido em vários países africanos. A MONUSCO, missão de paz da ONU na República Democrática do Congo, é a maior e mais cara de todas. Mas há várias.
Foto: picture-alliance/AA/S. Mohamed
RD Congo: a maior missão da ONU
Desde 1999, que a Organização das Nações Unidas (ONU) tenta pacificar a região oriental da República Democrática do Congo (RDC). A missão conhecida como MONUSCO conta com cerca de 20 mil soldados e um orçamento anual de 1,4 mil milhões de euros. Ainda que esta seja a maior e mais cara missão da ONU, a violência no país persiste.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Darfur: impotente contra a violência
A UNAMID é uma missão conjunta da União Africana e da ONU na região de Darfur, no Sudão, considerada por alguns observadores um fracasso. “O Conselho de Segurança da ONU deve trabalhar mais arduamente para encontrar soluções políticas, em vez de gastar dinheiro no desdobramento militar a longo prazo”, afirmou o especialista em segurança, Thierry Vircoulon.
Foto: picture-alliance/dpa/A. G. Farran
Sul do Sudão: fechar os olhos ao conflito?
A guerra civil no Sul do Sudão já fez com que, desde 2013, mais de quatro milhões de pessoas abandonassem as suas casas. Alguns estão abrigadas em campos de ajuda da ONU. Mas, quando os confrontos entre as forças do Governo e os rebeldes começaram na capital Juba, em julho de 2016, os capacetes azuis não foram bem sucedidos na intervenção.
Foto: Getty Images/A.G.Farran
Mali: mais perigosa missão da ONU no mundo
As forças de paz da ONU no Mali têm estado a monitorizar o cumprimento do acordo de paz realizado entre o Governo e a aliança dos rebeldes liderada pelos tuaregues. No entanto, grupos terroristas como o AQMI continuam a levar a cabo ataques terroristas que fazem com que a Missão da ONU no Mali (MINUSA) seja uma das mais perigosas do mundo. A Alemanha cedeu mais de 700 militares e helicópteros.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
RCA: abusos sexuais fazem manchetes
A missão da ONU na República Centro-Africana (MINUSCA) não ajudou a melhorar a imagem das Nações Unidas no continente africano. As tropas francesas foram acusadas de abusar sexualmente de crianças pela campanha Código Azul. Três anos depois, as vitimas não têm ajuda da ONU. Desde 2014, 10 mill soldados e 1800 polícias foram destacados para o país. A violência diminuiu, mas a tensão mantém-se.
Foto: Sia Kambou/AFP/Getty Images
Saara Ocidental: Esperança numa paz duradoura
A missão da ONU no Saara Ocidental, conhecida por MINURSO, está ativa desde 1991. Cabe à MINURSO controlar o conflito existente entre Marrocos e a Frente Polisário que defende a independência do Saara Ocidental. Em 2016, Marrocos, que ocupa este território desde 1976, dispensou 84 funcionários da MINURSO após um discurso do secretário-geral da ONU que o país não aprovou.
Foto: Getty Images/AFP/A. Senna
Costa do Marfim: um final pacífico
A missão da ONU na Costa do Marfim cumpriu o seu objetivo a 30 de junho de 2016, após 14 anos. As tropas têm vindo a ser retiradas, gradualmente, o que, para o ex secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, significa “um ponto de viragem das Nações Unidas na Costa do Marfim”. No entanto, apenas depois da retirada total das forças e a longo prazo é que se saberá se a missão foi ou não bem sucedida.
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo
Libéria: missão cumprida
A intervenção da ONU na Libéria chegou ao fim. Desde o fim da guerra civil, que durou 14 anos, que a Missão da ONU na Libéria (UNMIL) tem assegurado a estabilidade na Libéria e ajudado a construir um Estado funcional. O Governo do país quer agora garantir a segurança da Libéria. O país ainda está a lutar com as consequências de uma devastadora epidemia do Ébola que o assolou.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Sudão: Etiópia é promotora da paz?
Os soldados da Força de Segurança Interina da ONU para Abyei (UNISFA) patrulham esta região, rica em petróleo, e que, tanto o Sudão, como o Sudão do Sul, consideram ser sua. Mais de quatro mil capacetes azuis da Etiópia estão no terreno. A Etiópia é o segundo maior contribuinte para a manutenção da paz no mundo. No entanto, o seu exército é acusado de violações de direitos humanos no seu país.
Foto: Getty Images/AFP/A. G. Farran
Somália: Modelo futuro da União Africana?
As forças de paz da ONU na Somália estão a lutar sob a liderança da União Africana numa missão conhecida como AMISOM. Os soldados estão no país africano para combater os islamitas al-Shabaab e trazer estabilidade ao país devastado pela guerra. Etiópia, Burundi, Djibouti, Quénia, Uganda, Serra Leoa, Gana e Nigéria contribuem com as com suas tropas para a AMISOM.