Guerrilheiros da RENAMO na Zambézia estão animados com o anúncio da retoma do processo de desarmamento. A Presidência moçambicana disse que as últimas bases militares da RENAMO deverão ser encerradas. Falta é saber como.
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O processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) do braço armado do maior partido da oposição moçambicana foi retomado, depois de uma paralisação temporária. A dúvida é como será conduzido, uma vez que a própria Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) reconhece que houve falhas na primeira fase.
Hermínio Morais, membro da comissão política nacional do maior partido da oposição, esteve há dias na província da Zambézia e alertou para a existência de pequenos problemas nos primeiros grupos de guerrilheiros que foram desarmados das províncias de Manica, Sofala e Tete.
"As pessoas foram desarmadas e integradas na sociedade, mas até este momento alguns vivem em casas alugadas, parou o subsídio de reintegração de um dia para o outro e podem ser escorraçados das casas onde estão a arrendar", destacou.
Pormenores estão a ser ultimados
Depois de um encontro entre o líder da RENAMO, Ossufo Momade, e o Presidente da República, Filipe Nyusi, na semana passada, foi anunciada a criação de um grupo que se vai debruçar sobre o problema dos atrasos nas pensões dos ex-guerrilheiros.
Secretário-geral da RENAMO diz que DDR está no bom caminho
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Além disso, prevê-se o encerramento das últimas cinco bases militares da RENAMO. Como é que isso será feito? O secretário-geral da RENAMO, André Magibire, disse esta quarta-feira (13.03), em Quelimane, que os pormenores ainda estão a ser ultimados.
"Houve um encontro a 5 de abril, no qual os dois dirigentes acordaram em retomar o processo de DDR. Neste momento está a ocorrer a calendarização por parte do secretariado que assiste a comissão dos assuntos militares. Já que iniciou, temos que ter paciência", afirmou.
Dois guerrilheiros da base militar, que pediram para não serem identificados, disseram à DW África que estão prontos para entregar as armas.
"Estamos a cumprir a situação aqui. É muito grave. Não temos meios. Estamos a viver só por viver, não temos regalias. Só estamos à espera do DDR. Temos esperança, mas até agora as ordens ainda não chegaram para que sermos desarmados, reintegrados ou desmobilizados", disse um deles.
Outro guerrilheiro confessou que tem contado os dias à espera do DDR: "Estamos mal, a sofrer. Esperávamos que fossem desmobilizados até este momento, pode ser amanhã ou hoje, estamos dispostos."
Um terço dos cinco mil guerrilheiros da RENAMO ainda não depôs as armas. Segundo a Presidência moçambicana, as últimas bases militares do partido deverão ser encerradas "nas próximas semanas".
Guerrilheiras da RENAMO aguardam paz e reintegração
A desmilitarização também se faz no feminino. As mulheres estão prontas para entregar as armas, assegura a Liga Feminina da RENAMO, e aguardam com expetativa a reintegração nas forças governamentais.
Foto: DW/M. Mueia
Na expetativa do acordo
Muitas mulheres na RENAMO são guerrilheiras e aguardam a sua reintegração social. Estão interessadas em entregar as armas e exercerem outras atividades profissionais. Esperam pelo acordo final entre as principais partes envolvidas no processo de deliberação, neste caso as bancadas parlamentares da RENAMO e A FRELIMO.
Foto: DW/Marcelino Mueia
O aguardado regresso à vida civil
Teresa Abdul, da província do Niassa, começou a combater quando tinha apenas 14 anos. Aguarda o desarmamento e o regresso à vida civil com muita expectativa. “Este processo é muito melhor. Temos muitas pessoas que passaram pela guerra, lutaram, mas até agora não estão a ser reintegradas nos seus lugares, é triste. Caso este processo ocorra, estaremos agradecidos porque todos estarão na linha”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Luta de quase quatro décadas
As mulheres do maior partido da oposição comemoraram o 38º aniversário da criação da Liga Feminina a 5 de Julho de 2018. As celebrações a nível nacional tiveram lugar na província moçambicana da Zambézia, juntando representantes do partido oriundos maioritariamente das províncias.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Que se cumpra o acordo feito com Dhlakama
Albertina Naene, ex-guerrilheira, ingressou nas fileiras militares da RENAMO com apenas 13 anos. Hoje, com 46, apela ao Presidente para prosseguir com os acordos de cessação definitiva das hostilidades militares."O Governo da FRELIMO está a atrasar o processo. Deveria cumprir o que ficou acordado com o presidente Dhlakama. Queremos que aqueles nossos irmãos saiam para virem conviver connosco”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Encontros para motivar e mobilizar apoiantes
A morte do líder da RENAMO não significa o fim do regime partidário. As autoridades políticas da RENAMO na província da Zambézia, têm mantido encontros constantes depois da morte de Afonso Dhlakama. Os encontros não visam apenas traçar planos de atividade para as delegações distritais e membros do partido, também servem para motivar os seus simpatizantes e eleitores.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Maria Inês Martins - presidente da Liga da Mulher da RENAMO
Para a presidente da Liga da Mulher da RENAMO, a integração dos guerrilheiros nas forças governamentais podia começar pelos que, depois dos acordos de paz de 1992, foram integrados e depois afastados “sem justa causa”. “Foram desmobilizados e despromovidos, a outros foram dadas reformas compulsivas. Esta seria uma prova de que o Presidente Nyusi está disponível para cumprir o que acordaram".
Foto: DW/M. Mueia
O desejo de uma vida em paz
Populares querem paz, para continuar a produzir comida, dizem as vendedeiras ao longo da estrada EN1 em Malei, distrito de Namacurra, na Zambézia. Apesar da zona não ter sido afetada pelo conflito no ano passado, algumas vendedeiras dizem que
temiam a situação. Dormiam em prontidão, com malas preparadas para abandonarem as suas casas, em caso de conflito.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Partido "envelhecido"
A RENAMO, continua a ser um partido político com muitos membros idosos. De acordo com o politólogo Ricardo Raboco, a derrota da RENAMO nos pleitos eleitorais está também associada a este fator. Mas o politólogo também opina que, em Moçambique, os mais velhos são mais fiéis à RENAMO e poucos emigram para outras formações políticas. E há cada vez mais idosos a filiar-se pela RENAMO.