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Moçambique: "medidas dolorosas" para estabilizar economia

Lusa | ar
25 de outubro de 2016

O Ministério da Economia e Finanças de Moçambique admitiu que as medidas em curso face à crise económica no país são dolorosas mas também necessárias para a retoma do crescimento da economia moçambicana.

Mosambik - Metical
Foto: DW/M. Sampaio

"Os cortes no âmbito das medidas de contenção podem ser dolorosos, no curto-prazo, mas serão benéficos no médio e longo prazos. São necessários para reequilibrar a economia", disse esta terça-feira (25.10.) aos jornalistas em Maputo, o diretor nacional de Estudos Económicos e Financeiros no Ministério da Economia e Finanças, Vasco Nhabinde, à margem do Fórum Público sobre os Desafios Macroeconómicos de Moçambique e da Conjuntura Atual.

Para relançar a economia do país, que registará este ano o seu pior crescimento dos últimos dez anos, prosseguiu Nhabinde, o Governo é obrigado a proceder a cortes em encargos como subsídios, bónus e despesas com viagens.

"Do lado fiscal, tem de haver cortes com peso no Orçamento do Estado, principalmente em despesas não produtivas, salvaguardando os investimentos com um efeito multiplicador na economia", acrescentou o diretor nacional de Estudos Económicos e Financeiros.

Condições para regressar aos níveis de cresimento económico da última década

De acordo com Vasco Nhambinde, se os pressupostos para a retoma forem rigorosamente observados, o país tem condições para voltar, a médio-prazo, aos níveis de crescimento económico da última década.

Por seu turno, Valdemar Sousa, administrador e porta-voz do Banco de Moçambique, assinalou que o país poderá fechar o ano com um Produto Interno Bruto (PIB) de 3,5%, situação que exige a mobilização de esforços de todos os segmentos da sociedade moçambicana.

Os moçambicanos são de novo chamados a consentir sacrifícios enormesFoto: DW/R. da Silva

"Os nossos compatriotas são de novo chamados a consentir sacrifícios enormes, sublinho que estamos a viver momentos extremamente dolorosos", acrescentou.

Os gestores da macroeconomia do país, continuou, devem pautar-se por uma ampla flexibilidade no ajustamento dos cenários às dinâmicas internas e externas, que, por vezes, se alteram com muita imprevisibilidade.

Crescimento económico de 3,5% em 2016

 Na semana passada, o Banco de Moçambique (BM) reviu a previsão de crescimento económico para 3,5% e a inflação para pelo menos 29% em 2016 e alertou para o "nível crítico" das reservas líquidas, que cobrem apenas três meses de importações.

O valor da previsão de crescimento económico, apresentado em conferência de imprensa pelo governador do banco central, Rogério Zandamela, no final de uma reunião do Comité de Política Monetária, compara com os 6,4% registados no ano anterior e situa-se abaixo dos 4,5% anteriormente estimados pela instituição e pelo Governo e os 3,7% calculados pelo Fundo Monetário Internacional.

 A inflação, segundo Zandamela, situou-se em setembro nos 25%, mas não teve em conta ainda o efeito da subida do preço dos combustíveis, e terá uma "tendência crescente" num intervalo que se deverá situar entre os 29% e os 34% até ao fim do ano.

Inflação 29% em 2016
Os valores da inflação são justificados pela queda do metical (variação anual de 77% face ao dólar, 92,9% face ao euro e 93,4% face ao rand), descida da produção interna, e aumento dos preços de bens na África do Sul.

Zandamela alertou que as reservas internacionais líquidas continuam a deteriorar-se, para uma cobertura de apenas três meses de importações, como resultado da "procura de divisas para importação de bens essenciais e pagamento do serviço dívida externa", num cenário de congelamento da ajuda dos parceiros internacionais.

 "Estamos a níveis críticos", observou o governador, que substituiu em setembro Ernesto Gove no cargo, dando conta da amortização do serviço da dívida, num total acumulado de 397 milhões de dólares (365 milhões de euros) em 2016, quando a dívida pública moçambicana disparou para 86% do Produto Interno Bruto (PIB) em resultado da revelação de avultados empréstimos ocultados nas contas públicas. 

  

 

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