Equipas do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades de Moçambique já se deslocaram para apurar os danos causados pelo ciclone. Sofala é a província mais afetada, avançou o porta-voz do INGC à DW África.
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As autoridades moçambicanas estão a apurar os danos causados pelo ciclone Idai, informou à DW África na tarde desta sexta-feira (15.03) o porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades de Moçambique (INGC), Paulo Tomás.
"Tivemos um impacto nas províncias de Inhambane, Manica, Tete, Zambézia, e grande impacto na província de Sofala, que foi o ponto de entrada do ciclone. Mas em relação à Sofala, perdemos a comunicação, então não temos, até ao momento, aquilo que foi o verdadeiro impacto. Mas uma equipa que está a se deslocar para a cidade da Beira", avançou o porta-voz em entrevista à DW.
O ciclone Idai, desde a noite de quinta-feira, atinge vários distritos naquelas províncias do país. A cidade da Beira, na província de Sofala, no centro, é um dos locais mais afetados, segundo as informações do INGC.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, qualificou como "muito preocupantes" os danos causados pelo Idai. O chefe de Estado, porém, não avançou detalhes sobre mortos ou feridos.
Governo moçambicano apura estragos do ciclone Idai
DW África: Qual é a situação nas zonas afetadas pelo ciclone?
Paulo Tomás (PT): Tivemos um impacto nas províncias de Inhambane, Manica, Tete, Zambézia, e grande impacto na província de Sofala, que foi o ponto de entrada do ciclone. Mas em relação à Sofala, perdemos a comunicação, então não temos, até ao momento, aquilo que foi o verdadeiro impacto, mas temos uma equipa que está a se deslocar, saindo do distrito de Caia, que é onde temos uma base logística, para a cidade da Beira. E entramos em contato com o Instituto Nacional de Comunicações de Moçambique, que também está a trabalhar com as operadoras, que estão a fazer um levantamento para restabelecer a comunicação. Temos alguma informação preliminar sobre alguns distritos. Estamos a falar do distrito de Vilankulo, na província de Inhambane, onde houve a destruição de 11 casas e a queda de duas torres, uma da Televisão de Moçambique e outra da Rádio Moçambique. Estamos a falar também da província da Zambézia, no distrito de Chinde, onde houve a destruição parcial de 11 casas, um posto de maternidade e um posto policial. Também no distrito de Pambane, onde houve a destruição de sete casas, sendo cinco parcialmente e duas totalmente. Na província de Manica, houve a destruição de infraestruturas escolares na cidade de Manica e no distrito de Mossurize. Portanto, estes são dados preliminares avançados. É preciso dizer que temos equipas que se deslocaram aos diversos pontos para fazer o apuramento dos danos. Só esta manhã é que houve condições de as equipas irem ao terreno.
DW África: E em termos de número de vítimas, de deslocados, desalojados, já há estimativas?
PT: Como o ciclone foi no final desta quinta-feira (14.03), então hoje é que se está a fazer esta contabilização, [para saber] se é necessário estabelecer centros de acomodação. Mas na província da Zambézia, no distrito de Chire, estão a ser assistidas 1.500 pessoas num centro de acomodação em uma escola, e no distrito de Chinde também vão ser assistidas 500 pessoas em dois centros de acomodação. Para onde não há comunicação via terrestre, vai-se estabelecer uma ponte aérea para o distrito de Chinde. Então, até ao momento são esses os pontos onde temos a contabilização das pessoas que vão ser assistidas. Em relação aos outros pontos, ainda estamos a apurar. Mas para a província de Sofala, o Estado sul-africano está a apoiar. Já estão posicionados, na cidade da Beira, médicos e paramédicos, também alocaram seis ambulâncias e um helicóptero. Contudo, ainda não sabemos o nível de destruição que houve na cidade da Beira, então aguardamos a equipa que se deslocou até lá, para que no seu retorno possa nos dar alguma informação.
DW África: E que outro tipo de ajuda as famílias afetadas estão a receber ou vão receber?
PT: O apoio que está a ser dado é em termos de géneros alimentares e também na componente de abrigo.
DW África: Há previsão de quando o ciclone Idai deverá dissipar-se?
PT: O Instituto Nacional de Meteorologia continua, neste momento, a monitorizar a evolução do sistema, mas a informação que nós temos é que este ciclone está a enfraquecer. Porém, ainda há chuva em alguns pontos do país, em províncias que eu já havia citado. Então, o Instituto de Meteorologia continua a monitorizar, e, portanto, em termos precisos de quando este ciclone vai-se dissipar, ainda não temos a informação concreta.
Ciclone Idai causa mortes e destruição
Ciclone Idai faz mais de 200 mortos em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi. Cerca de 90% da cidade moçambicana da Beira foi destruída com a passagem do ciclone Idai, segundo a Cruz Vermelha.
Foto: picture-alliance/AP/C. Haga
Ciclone Idai faz mais de 200 mortos
A passagem do ciclone Idai afetou mais de 1,5 milhões de pessoas em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Mais de 200 pessoas morreram nos três países e milhares estão desalojadas. O levantamento do número de vítimas está por concluir, dado que há locais de difícil acesso devido à subida do nível dos rios.
Foto: picture-alliance/AP/C. Haga
Beira é a cidade mais atingida de Moçambique
Há pelo menos 84 mortos em Moçambique, segundo os últimos dados. Mas o Presidente Filipe Nyusi afirma que "tudo indica que poderemos registar mais de mil óbitos". A cidade da Beira foi a mais afetada. Os ventos e chuvas fortes deixaram a cidade parcialmente destruída, sem luz nem telecomunicações.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Ciclone visto do espaço
Esta imagem de satélite feita pela NASA mostra a passagem do ciclone Idai pelos países africanos. "A situação é terrível, a magnitude da devastação é enorme", disse o líder da equipa de avaliação da Cruz Vermelha na Beira, Jamie LeSueur. "Enquanto o impacto físico do Idai começa a emergir, as consequências humanas ainda não estão claras", lê-se num comunicado.
Foto: NASA
Deslocados à procura de abrigo
Milhares de pessoas estão desalojadas na zona centro de Moçambique. O Presidente Filipe Nyusi, que sobrevoou a região, indicou que aldeias inteiras desapareceram nas enchentes e que há regiões totalmente incomunicáveis. "Vimos durante o voo corpos flutuando, um verdadeiro desastre humanitário de grandes proporções", assinalou o chefe de Estado.
Foto: DW/B. Chicotimba
Estrada de acesso à cidade da Beira fechada
Com as fortes chuvas, o nível dos rios subiu. Um deles, o rio Haluma, transbordou e cortou a estrada nacional 6, espinha dorsal do centro de Moçambique e única via de acesso à Beira. A cidade ficou isolada. Em entrevista à AFP, o ministro do Meio Ambiente de Moçambique, Celso Correia, afirmou que "este é o maior desastre natural ocorrido no país".
Foto: DW/A. Sebastião
Motoristas isolados na estrada
Isolados na estrada nacional 6, única via de acesso à Beira, moçambicanos aguardam até que a via seja desbloqueada. Formou-se uma longa fila de camiões e outros veículos. Os ventos fortes derrubaram postes.
Foto: DW/A. Sebastião
Noutras vias, mais destruição
A estrada número 260, que liga Chimoio a Mossurize, também não escapou à intempérie. A ponte sobre o rio Munhinga foi arrastada, isolando os dois distritos. Formaram-se enormes buracos nas rodovias, a isolar zonas de Moçambique e a dificultar o acesso às equipas de socorro.
Foto: DW/B. Chicotimba
A fúria das águas
A ponte sobre o rio Haluma, em Nhamatanda, zona central de Moçambique, ficou submersa. É mais uma zona afetada pelas cheias e pelo nível elevado dos rios. Uma camioneta que transportava dez pessoas foi arrastada ao passar pelo local. Seis pessoas morreram e quatro conseguiram salvar-se, penduradas em cima de um camião basculante.
Foto: DW/B. Chicotimba
População precisa de ajuda médica
Mais de cem salas de aulas ficaram destruídas nas regiões mais afectadas pelo ciclone e cheias nos distritos moçambicanos de Chinde, Maganja da Costa, Namacurra e Nicoadalá. Em visita à Zambézia, o Presidente Filipe Nyusi afirmou que, além de bens alimentares, a população necessita também, com prioridade, de assistência médica.
Foto: DW/M. Mueia
Ciclone Idai leva a cancelamento de voos
A passagem do fenómeno também afetou os transportes aéreos. O aeroporto da Beira ficou inoperante entre quinta-feira (14.03.) e domingo (17.03). Todos os voos domésticos foram suspensos. Dezenas de voos previstos para descolar do aeroporto internacional de Maputo, o maior de Moçambique, foram cancelados. O fecho dos aeroportos também dificultou a chegada de ajuda humanitária.
Foto: Getty Images/AFP/E. Josine
Depois de Moçambique, Zimbabué e Malawi
O ciclone Idai atingiu a Beira na quinta-feira (14.03), tendo seguido depois para oeste, em direção ao Zimbabué e ao Malawi, afetando mais milhares de pessoas, em particular nas zonas orientais da fronteira com Moçambique. Casas, escolas, empresas, hospitais e esquadras ficaram destruídas. Estradas e pontes desapareceram, o que dificulta os trabalhos de resgate.
Foto: picture-alliance/S. Jusa
Plantações devastadas pela força do ciclone
No Zimbabué, o número de mortos após a passagem do ciclone Idai chega a 82. O Presidente Emmerson Mnangagwa disse que a resposta do Governo está a ser coordenada pelo Departamento de Proteção Civil através dos comités de Proteção Civil nacional, provincial e de distrito, com o apoio de parceiros humanitários.
Foto: picture-alliance/S. Jusa
Ciclone Idai chega ao Malawi
Os distritos de Chikwawa e Nsanje, no Malawi, ficaram inundados com a passagem do ciclone Idai. Segundo o balanço mais recente do Departamento de Gestão de Riscos, no país foram registadas 56 mortes. Quase 1 milhão de pessoas foram afetadas pela passagem do ciclone. De acordo com a Federação Internacional da Cruz Vermelha, 80 mil viram as suas casas destruídas e estão sem onde se refugiar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gumulira
Cheias nos rios aumentam risco de doenças
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou as autoridades para a importância de se levar a cabo um levantamento dos estragos nos serviços de saúde, já que o agravamento das cheias nos próximos dias, devido à continuação de chuvas fortes, aumenta o risco do aparecimento de doenças transmissíveis pela água e pelo ar.