Ao menos 12 pessoas morreram e dezenas tiveram ferimentos graves. Entre as vítimas fatais estava o condutor do veículo. Governo diz que excesso de velocidade por ter causado a tragédia.
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Pelo menos 12 pessoas morreram e outras dezenas estão gravemente feridas após o capotamento de um autocarro na província de Inhambane, sul de Moçambique. O acidente aconteceu na Estrada Nacional 1 (EN1), na tarde deste domingo (03.09). Entre as vítimas fatais está o condutor do veículo. O Governo está a tentar reconhecer o corpo das vítimas ao mesmo tempo em que investiga as causas da tragédia.
O veículo fazia o trajeto entre a capital Maputo e a cidade de Quelimane, na província da Zambézia, no centro do país. Ao chegar ao distrito de Zavala, em Inhambane, o autocarro despistou-se devido ao rebentamento de um pneu da frente, em seguida capotou e incendiou-se. Muitos passageiros conseguiram sair do veículo sem sofrer ferimentos graves.
Orlando Zucula é um dos sobreviventes. Ele disse à reportagem da DW o que "o carro estava em alta velocidade, e então arrebentou o pneu". Ainda segundo o sobrevivente, "o motorista descontrolou-se, entrou na mata e virou o carro".
Manuel Sabão, outro sobrevivente da tragédia, viaja com destino a cidade de Quelimane e disse que foi tudo muito de repente e que não percebeu nada. "Eu subi na Macia para ir direto a Quelimane. Este acidente aconteceu de repente. Ouvi só mulheres a chorarem", relatou.
04.09.2017 Acidente-Mortos-Inhambane - MP3-Mono
Reconhecimento das vítimas
Segundo a porta-voz do Governo provincial, Assissa Carrimo, a causa do acidente pode ser atribuída a um erro humano. Por outro lado, acrescentou que as autoridades estão a ter dificuldades para fazer o reconhecimento de todas as vítimas na medida em que ainda continuam à espera dos familiares para efetuarem as respetivas identificações.
"Houve um erro humano ligado ao excesso de velocidade, deste acidente que resultou em 12 óbitos carbonizados e não reconhecidos ate ao momento. A dificuldade que estamos a encontrar até o momento é que não conseguimos localizar a lista de passageiros. Não esta ser fácil identificar quem são os passageiros que estavam na viatura. Estamos a continuar com os trabalhos para os identificar através de familiares".
Segundo o médico do hospital rural de Quissico, Daniel Manjate, que recebeu a maioria dos feridos, as vítimas que sofreram ferimentos já estão fora de perigo. "Na sala de observação ficamos com quatro pacientes não há necessidade de transferência todos os doentes, pois conseguimos controlar ao nível interno".
Na manhã desta segunda-feira, o governador de Inhambane, Daniel Chapo, pediu aos membros do Governo para observarem um minuto de silêncio em memória das 12 vitimas mortais.
Recentemente, a DW publicou uma matéria sobre a falta de infraestrutura da EN1, principal rodovia do país. Entre as províncias de Inhambane e Zambézia, onde se concentrou a reportagem, muitos automobilistas alertaram para o risco de acidentes naquela estrada. Em 2015, o Governo prometeu reparos, mas até agora nada aconteceu.
Maxixe: Obras sem qualidade são adjudicadas por milhões
Em Maxixe, Moçambique, somam-se os casos de obras públicas sobrefaturadas. A DW África juntou exemplos de obras cujo processo de adjudicação não foi transparente e nas quais os orçamentos foram inflacionados.
Foto: DW/L. da Conceição
Favorecimento na seleção das empresas
Em Maxixe, parte das obras de construção civil têm sido adjudicadas à empresa SGI Construções Lda. que não se encontra registada no Boletim da República e que apenas tem escritórios em Maputo. A empresa, com laços fortes com o Presidente do município, Simão Rafael, faturou, nos últimos dois anos, mais de 30 milhões de meticais (cerca de 427 mil euros) em obras que até hoje ainda não terminaram.
Foto: DW/L. da Conceição
Falta de transparência
Como se vê na imagem, para além de não se saber a data do início desta obra, não se conhece o fiscal nem a distância exata para a colocação de pavés. Sabe-se apenas que tem um prazo de execução de 90 dias.
Foto: DW/L. da Conceição
Figuras ligadas à FRELIMO criam empresa
Esta obra, orçada em mais de sete milhões de meticais, foi adjudicada à MACROLHO Lda, uma empresa com sede em Inhambane e que tem, segundo a imprensa local, participações de sócios ligados ao partido FRELIMO, como o ex-governador de Inhambane, Agostinho Trinta. Faturou, nos últimos dois anos, mais de 40 milhões de meticais em obras que, até agora, ainda não foram entregues. O prazo já expirou.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras faturadas e abandonadas
Esta via é a entrada do bairro Eduardo Mondlane. Desde 2016, o munícipio já gastou na reparação desta estrada - com cerca de 200 metros -, mais de quatro milhões de meticais. Até à data, apenas foram executados 150 metros. Ao que a DW África apurou, o empreiteiro apenas trabalha nos dias de fiscalização dos membros da assembleia municipal. O dinheiro faturado dava para pavimentar mais de 1 km.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras sobrefaturadas
Este é o estado atual de várias obras na cidade de Maxixe. Na imagem, a via do prolongamento da padaria Chambone, foi faturada em mais de cinco milhões de meticais (cerca de 71 mil euros) no ano de 2016. No entanto, esta mesma obra voltou a ser faturada este ano, não tendo o valor sido tornado público.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras sem qualidade
Desde o ano de 2015, o conselho municipal da cidade de Maxixe já gastou mais de 10 milhões de meticais (cerca de 142 mil euros) com as obras de reparação de buracos nas avenidas e ruas do centro da cidade. No entanto, o trabalho não tem qualidade e os buracos continuam a danificar carros ligeiros. O empreiteiro desta obra é também a SGI Construções Lda.
Foto: DW/L. da Conceição
MDM denuncia corrupção
A bancada do MDM na assembleia municipal de Maxixe denunciou que as viaturas adquiridas pela edilidade não estão a ser compradas em agências, mas no mercado negro em África do Sul. Diz a oposição que as últimas duas viaturas adquiridas custaram mais de sete milhões de meticais. Um preço quatro vezes superior, quando comparado ao valor das duas viaturas no mercado em Moçambique.
Foto: DW/L. da Conceição
“Não interessa qualidade, queremos faturar”
Jacinto Chaúque, ex-vereador do município de Maxixe, está a ser investigado pelo Gabinete de Combate à Corrupção de Moçambique. Da investigação consta, entre outros, uma gravação telefónica entre Chaúque e o empreiteiro desta obra, na avenida Ngungunhane, e em que o ex-vereador afirma que “não interessa a qualidade. Queremos faturar nestas obras”. Chaúque está a aguardar julgamento.
Foto: DW/L. da Conceição
Preços altos nas construções de edifícios
Em 2015, o conselho municipal de Maxixe construiu um posto policial no bairro de Mabil. Esta infraestrutura - com apenas dois quartos, uma sala comum e uma cela com capacidade para cinco pessoas – custou mais de 1,3 milhões de meticais, não contando com a aquisição de material como mesas ou cadeiras. Ao que a DW África apurou junto do mercado, esta obra não custaria mais de 300 mil meticais.
Foto: DW/L. da Conceição
Um milhão de meticais por cada sede do bairro
As sedes dos bairros são outro exemplo. Todas as sedes dos bairros construídas pelo conselho municipal contam com a mesma planta. Cada uma custou cerca de um milhão de meticais (cerca de 14 mil euros). O preço real de mercado para uma casa tipo dois, sem mobília de escritório, é de cerca de 300 meticais.
Foto: DW/L. da Conceição
Empreiteiro exige dinheiro de volta
O empreiteiro Ricardo António José reclamou, em 2015, a devolução do dinheiro que foi exigido pelo ex-chefe da Unidade Gestora Executora e Aquisições, Rodolfo Tambanjane. O montante pago por Ricardo José era referente ao valor da comissão de Tambanjane por ter selecionado esta empresa e não outra. Rodolfo Tambanjane foi preso, tendo saído depois de pagar caução. O caso continua em tribunal.