Governo moçambicano na Beira para avaliar impacto de ciclone
rl | Lusa | AFP
19 de março de 2019
Conselho de Ministros realiza-se esta terça-feira na cidade da Beira, devastada pelo ciclone Idai. Há registo de mais de 84 mortos, mas tudo indica que poderá haver "mais de mil óbitos", disse o Presidente Filipe Nyusi.
"Até ao momento, formalmente, há registo de acima de 84 óbitos, mas tudo indica que poderemos registar mais de mil óbitos", afirmou esta segunda-feira (18.03) o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, num discurso dirigido à nação, assinalando que "o país vive um verdadeiro desastre humanitário de grandes proporções".
Ciclone Idai devasta cidade da Beira
01:12
O Presidente deixou claro que a prioridade do Governo é, neste momento, salvar vidas. A FRELIMO, o partido no poder, adiou a reunião do seu Comité Central. O Governo anunciou também que o Conselho de Ministros desta terça-feira vai ter lugar na cidade da Beira, para que se possa avaliar a situação na região do país mais afetada pelo ciclone - parte dos cerca de 500 mil habitantes da Beira continuam ainda sem energia e linhas de comunicação.
Equipas das Nações Unidas e Cruz Vermelha estão no terreno desde o fim de semana. Karin Manente, representante do Programa Mundial de Alimentação da ONU em Moçambique, garantiu à ONU News que a ajuda tem estado a chegar à população. "A Organização Internacional para as Migrações (OMI) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) estão já a proporcionar abrigo e medicamentos e a Cruz Vermelha e várias organizações não-governamentais estão muito ativas. Esse trabalho está a ser feito", garante.
Comida não chega
Segundo a ONU, cerca de 22 mil pessoas encontram-se em áreas de difícil acesso. Julia Luís reside em Inhamizua, uma vila perto da cidade da Beira, e encontra-se neste momento num centro de acomodação, onde a comida não é suficiente. "Aqui não há comida. É um problema, nós não temos nada. A noite passada, não comemos", lamenta.
Governo moçambicano na Beira para avaliar impacto de ciclone
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O Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas pediu 35 milhões de euros para ajudar as vítimas do ciclone. No entanto, diz a representante deste organismo em Moçambique, haverá necessidade de mais recursos para fazer frente "à segunda leva de cheias que está a assolar o centro do país".
Uma preocupação também levantada por Alberto Mondlane, governador da província de Sofala. "A maior ameaça agora, mais do que a do próprio ciclone, é a água. Porque a montante está a chover e as bacias hidrográficas estão a aumentar o seu nível. Nós estamos na zona baixa, significa que todas as águas vêm para cá", lembra.
Ajuda humanitária
Nas últimas horas, têm sido divulgadas algumas ajudas. A Cáritas Portuguesa e o Governo de Espanha, por exemplo, anunciaram que irão disponibilizar verbas para o apoio humanitário às vítimas deste desastre natural. Também o Governo português garantiu já estar em contacto com o Ministério do Interior de Moçambique.
A Índia anunciou também que vai enviar três navios com ajuda humanitária para a cidade da Beira. Segundo um comunicado divulgado na página oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano, os três navios, que devem chegar esta quinta-feira (21.03), irão carregados de "alimentos, roupa e medicamentos". Além disso, a bordo vão estar "três médicos e cinco enfermeiros para prestar assistência médica imediata", indicou a mesma nota.
Entretanto, nas redes sociais, são já vários os apelos e angariações de fundos organizados pelos próprios moçambicanos para ajudar as vítimas do ciclone Idai. Também a LAM - Linhas Aéreas de Moçambique - lançou uma campanha solidária de recolha de bens de primeira necessidade.
Aos quatro helicópteros já no terreno, juntaram-se ontem outros dois, fez saber o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC). Nesta fase, os meios aéreos são uma ajuda fulcral, não só nas operações de busca e resgate de pessoas, como também na distribuição de comida e medicamentos às pessoas que se encontram nas áreas de difícil acesso.
Ciclone Idai causa mortes e destruição
Ciclone Idai faz mais de 200 mortos em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi. Cerca de 90% da cidade moçambicana da Beira foi destruída com a passagem do ciclone Idai, segundo a Cruz Vermelha.
Foto: picture-alliance/AP/C. Haga
Ciclone Idai faz mais de 200 mortos
A passagem do ciclone Idai afetou mais de 1,5 milhões de pessoas em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Mais de 200 pessoas morreram nos três países e milhares estão desalojadas. O levantamento do número de vítimas está por concluir, dado que há locais de difícil acesso devido à subida do nível dos rios.
Foto: picture-alliance/AP/C. Haga
Beira é a cidade mais atingida de Moçambique
Há pelo menos 84 mortos em Moçambique, segundo os últimos dados. Mas o Presidente Filipe Nyusi afirma que "tudo indica que poderemos registar mais de mil óbitos". A cidade da Beira foi a mais afetada. Os ventos e chuvas fortes deixaram a cidade parcialmente destruída, sem luz nem telecomunicações.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Ciclone visto do espaço
Esta imagem de satélite feita pela NASA mostra a passagem do ciclone Idai pelos países africanos. "A situação é terrível, a magnitude da devastação é enorme", disse o líder da equipa de avaliação da Cruz Vermelha na Beira, Jamie LeSueur. "Enquanto o impacto físico do Idai começa a emergir, as consequências humanas ainda não estão claras", lê-se num comunicado.
Foto: NASA
Deslocados à procura de abrigo
Milhares de pessoas estão desalojadas na zona centro de Moçambique. O Presidente Filipe Nyusi, que sobrevoou a região, indicou que aldeias inteiras desapareceram nas enchentes e que há regiões totalmente incomunicáveis. "Vimos durante o voo corpos flutuando, um verdadeiro desastre humanitário de grandes proporções", assinalou o chefe de Estado.
Foto: DW/B. Chicotimba
Estrada de acesso à cidade da Beira fechada
Com as fortes chuvas, o nível dos rios subiu. Um deles, o rio Haluma, transbordou e cortou a estrada nacional 6, espinha dorsal do centro de Moçambique e única via de acesso à Beira. A cidade ficou isolada. Em entrevista à AFP, o ministro do Meio Ambiente de Moçambique, Celso Correia, afirmou que "este é o maior desastre natural ocorrido no país".
Foto: DW/A. Sebastião
Motoristas isolados na estrada
Isolados na estrada nacional 6, única via de acesso à Beira, moçambicanos aguardam até que a via seja desbloqueada. Formou-se uma longa fila de camiões e outros veículos. Os ventos fortes derrubaram postes.
Foto: DW/A. Sebastião
Noutras vias, mais destruição
A estrada número 260, que liga Chimoio a Mossurize, também não escapou à intempérie. A ponte sobre o rio Munhinga foi arrastada, isolando os dois distritos. Formaram-se enormes buracos nas rodovias, a isolar zonas de Moçambique e a dificultar o acesso às equipas de socorro.
Foto: DW/B. Chicotimba
A fúria das águas
A ponte sobre o rio Haluma, em Nhamatanda, zona central de Moçambique, ficou submersa. É mais uma zona afetada pelas cheias e pelo nível elevado dos rios. Uma camioneta que transportava dez pessoas foi arrastada ao passar pelo local. Seis pessoas morreram e quatro conseguiram salvar-se, penduradas em cima de um camião basculante.
Foto: DW/B. Chicotimba
População precisa de ajuda médica
Mais de cem salas de aulas ficaram destruídas nas regiões mais afectadas pelo ciclone e cheias nos distritos moçambicanos de Chinde, Maganja da Costa, Namacurra e Nicoadalá. Em visita à Zambézia, o Presidente Filipe Nyusi afirmou que, além de bens alimentares, a população necessita também, com prioridade, de assistência médica.
Foto: DW/M. Mueia
Ciclone Idai leva a cancelamento de voos
A passagem do fenómeno também afetou os transportes aéreos. O aeroporto da Beira ficou inoperante entre quinta-feira (14.03.) e domingo (17.03). Todos os voos domésticos foram suspensos. Dezenas de voos previstos para descolar do aeroporto internacional de Maputo, o maior de Moçambique, foram cancelados. O fecho dos aeroportos também dificultou a chegada de ajuda humanitária.
Foto: Getty Images/AFP/E. Josine
Depois de Moçambique, Zimbabué e Malawi
O ciclone Idai atingiu a Beira na quinta-feira (14.03), tendo seguido depois para oeste, em direção ao Zimbabué e ao Malawi, afetando mais milhares de pessoas, em particular nas zonas orientais da fronteira com Moçambique. Casas, escolas, empresas, hospitais e esquadras ficaram destruídas. Estradas e pontes desapareceram, o que dificulta os trabalhos de resgate.
Foto: picture-alliance/S. Jusa
Plantações devastadas pela força do ciclone
No Zimbabué, o número de mortos após a passagem do ciclone Idai chega a 82. O Presidente Emmerson Mnangagwa disse que a resposta do Governo está a ser coordenada pelo Departamento de Proteção Civil através dos comités de Proteção Civil nacional, provincial e de distrito, com o apoio de parceiros humanitários.
Foto: picture-alliance/S. Jusa
Ciclone Idai chega ao Malawi
Os distritos de Chikwawa e Nsanje, no Malawi, ficaram inundados com a passagem do ciclone Idai. Segundo o balanço mais recente do Departamento de Gestão de Riscos, no país foram registadas 56 mortes. Quase 1 milhão de pessoas foram afetadas pela passagem do ciclone. De acordo com a Federação Internacional da Cruz Vermelha, 80 mil viram as suas casas destruídas e estão sem onde se refugiar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gumulira
Cheias nos rios aumentam risco de doenças
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou as autoridades para a importância de se levar a cabo um levantamento dos estragos nos serviços de saúde, já que o agravamento das cheias nos próximos dias, devido à continuação de chuvas fortes, aumenta o risco do aparecimento de doenças transmissíveis pela água e pelo ar.