Violência e Covid-19 em debate no Parlamento moçambicano
Lusa | ms
27 de maio de 2020
O Governo moçambicano está hoje e quinta-feira na Assembleia da República para responder a perguntas das três bancadas parlamentares sobre a violência armada nas regiões centro e norte e sobre a situação da pandemia.
Publicidade
Na lista de perguntas que submeteu ao Parlamento, a bancada da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder e com maioria parlamentar, quer saber do executivo a estratégia para colocar fim aos ataques armados no centro e norte.
"A bancada parlamentar da FRELIMO pretende saber do Governo que passos estão sendo dados visando devolver a paz e a tranquilidade às populações de Cabo Delgado e da zona centro do país", refere-se na lista de perguntas que a bancada maioritária quer ver respondidas pelo executivo.
Na área da saúde, o partido pretende saber que ações o Governo está a empreender para travar a propagação do novo coronavírus. A FRELIMO questiona igualmente sobre medidas para o aumento da produção e produtividade agrícola e o alargamento da rede elétrica pública no país.
"Anarquia" na educação
Por seu turno, a bancada da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, considera que o setor de educação enfrenta uma situação de anarquia, devido ao impacto da Covid-19 e pretende saber do Governo o caminho para a reposição da ordem nessa área. "Qual é a estratégia do Governo para se colocar ordem neste setor e evitar o colapso?", questiona a RENAMO.
Ataques em Moçambique: "O país está a parar"
01:25
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro partido, pretende obter explicações sobre formas de acabar com a violência armada nas regiões centro e norte e a estratégia de contenção da disseminação da Covid-19.
"A situação militar nas zonas centro e norte têm vindo a endurecer, pondo em causa a estabilidade sociopolítica e económica das populações e provocando deslocações forçadas, destruição de bens públicos e privados e violação sistemática dos direitos humanos", considera o MDM.
Ataques no norte e no centro
Cabo Delgado, região onde avançam megaprojetos para a extração de gás natural, vê-se a braços com ataques de grupos armados classificados como uma ameaça terrorista desde outubro de 2017 e as autoridades moçambicanas contabilizam um total de 162 mil pessoas afetadas pela violência na região. A violência já matou, pelo menos, 550 pessoas desde 2017.
No centro do país, desde agosto de 2019, incursões armadas atribuídas a uma dissidência da guerrilha da RENAMO têm visado forças de segurança e civis em aldeias e nalguns troços de estrada da região, tendo causado mais de 20 mortos e vários feridos, além da destruição de veículos.
Moçambique tem 213 casos de infeção pelo novo coronavírus, um morto e 71 pessoas recuperadas. A nível global, segundo o balanço mais recente, a pandemia já provocou mais de 348 mil mortos e infetou mais de 5,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Quase 2,2 milhões de doentes foram considerados curados.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.