O primeiro-ministro, Patrice Trovoada, augura bons tempos para São Tomé e Príncipe graças à cooperação com a China, embora não avance valores. Especialista ouvido pela DW África diz que é preciso cautela.
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Após terminar a visita de trabalho a Pequim, o primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, regressa ao país com a notícia de que o Governo chinês deverá investir dezenas de milhares de dólares durante os próximos cinco anos no arquipélago. Mas um especialista em Ciências Polícias ouvido pela DW África alerta que é preciso cautela.
A informação foi divulgada por Trovoada na segunda-feira (17.04) durante uma entrevista à televisão pública são-tomense. A visita de trabalho à China foi marcada pela assinatura de um acordo geral de cooperação, na semana passada, que deverá garantir investimentos "importantes" para alavancar a economia do país. O primeiro-ministro não avançou valores.
"Esses montantes são importantes, compõem-se de donativos, ajuda orçamental, perdão da dívida antiga que nós tínhamos e toda uma série de ações de cooperação", disse Trovoada, que ressaltou que "tudo isso é um montante bastante importante, que demonstra a vontade da China de cooperar."
Cooperação
A aproximação entre os dois países acontece depois de São Tomé e Príncipe ter cortado as relações diplomáticas com Taiwan, reconhecendo desde então Pequim como o único Governo chinês legítimo. Ambos têm agora as condições e os instrumentos jurídicos e legais necessários para a cooperação mútua.
Para o primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, que foi recebido pelo seu homólogo, Li Keqiang, e pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a República Popular da China é atualmente o principal parceiro de cooperação bilateral do país.
"O Presidente Xi Jinping frisou o facto de em, quatro meses, fazermos grandes progressos. Criámos uma boa base de confiança", afirmou Patrice Trovoada. Essa confiança entre os dois países, segundo o primeiro-ministro, "terá que dar provas a cada passo".
Financimento chinês
Durante a viagem de trabalho a Pequim, Trovoada manifestou o seu interesse às autoridades chinesas de ainda este ano ver materializado um dos maiores projetos do seu Governo: a transformação do porto e do aeroporto de São Tomé, que desde 2015 aguarda financiamento.
18.04.2017 Visita de Patrice Trovoada à China (edit) - MP3-Mono
Para além disso, a economia do país também deverá receber investimentos de empresas chinesas. De acordo com o primeiro-ministro, o interesse dos empresários da China pelo arquipélago é grande.
"Nós recebemos várias empresas, visitámos várias empresas, empresas de topo da economia chinesa. A Datang, por exemplo, é uma empresa que produz duas vezes a energia que consome um país como a França. Fomos muito bem recebidos", relatou Trovoada, que lembrou que são engenheiros da Datang que estão em São Tomé a trabalhar na central elétrica de Santo Amaro.
A equipa do Governo são-tomense também visitou empresas de outros ramos, incluindo empresas que operam em África no setor das obras públicas.
Especialista pede cautela
Com uma dívida atual superior a 50% do Produto Interno Bruto (PIB), avaliado em 350 milhões de dólares, São Tomé e Príncipe espera,com o apoio da China, promover o desenvolvimento do país para os cerca de 180 mil habitantes.
No entanto, o professor de Ciências Políticas no Instituto Universitário de Contabilidade, Administração e Informática, Eugênio Teani, que aplaude a cooperação com China, alerta também o Estado são-tomense para manter ao mesmo tempo uma boa relação com outros países parceiros.
"Não podemos virar-nos agora para China, [e pensar] que a China vai fazer tudo. Temos de manter a cooperação que temos, sobretudo com Portugal, Angola, Gabão ou Guiné Equatorial, porque a situação internacional hoje é muito complexa", avisa.
A preocupação do professor reflete-se nos possíveis conflitos políticos e militares que a Coreia do Norte poderá causar naquela região da Ásia. Na opinião de Teani, isso poderia afastar durante algum tempo os investimentos e parcerias da China com países como São Tomé e Príncipe.
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
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TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
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Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
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Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
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Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
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Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
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Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
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Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
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À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
Foto: Imago
De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
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Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
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O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.