Chuvas: Governo precisa de 33ME para superar prejuízos
Lusa
28 de janeiro de 2022
O Governo são-tomense solicitou aos parceiros internacionais mais de 33 milhões de euros para recuperar infraestruturas, comércio e apoiar agricultores, após as fortes chuvas que atingiram o país no final de dezembro.
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"Das principais consequências das enxurradas, as que requerem a intervenção urgente do Governo, estão estimadas em 33.234.264,00 euros subdivididas em três grandes domínios”, lê-se no relatório que o executivo submeteu aos parceiros internacionais, nomeadamente ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).
Nos dias 28 a 29 de dezembro de 2021, ocorreu na ilha de São Tomé "uma situação meteorológica anómala e extrema", a mais grave em três décadas, e que causou "um vasto número de consequências que vão desde perda de vida humana, alagamento da capital do país e inundação das instituições, casas comerciais, restaurantes, viaturas parqueadas, tornando intransitável toda a área da cidade capital”.
Ao nível de infraestruturas rodoviárias, segundo o documento, a que a Lusa teve acesso, prevê-se a "intervenção em cerca de 10 pontes para que seja reposta a circulação entre as comunidades” e ainda "devem ser feitas intervenções nas montanhas que estão nas margens das estradas onde se verificam muitas derrocadas e limpeza dos rios na região norte do país”.
Avultados prejuízos
O documento indica que, "além de danificar pontes e estradas, as enxurradas destruíram várias habitações, o centro de tratamento de água da cidade Neves, além de terem causado avultados prejuízos noutros setores, como a agricultura”.
"O diagnóstico técnico e financeiro apresentado pelas equipas técnicas multissetoriais estima que os custos para recuperação das infraestruturas danificadas pelas enxurradas estão avaliados em 21.350.264,56 euros" sublinha o relatório.
No setor do comércio, o documento refere que cerca de 80% dos gerentes dos estabelecimentos pediram apoio financeiro e "diminuição das cobranças alfandegárias e impostos”, como forma de "mitigar os prejuízos causados pela inundação”.
"De acordo as declarações efetuadas e confirmadas pela comissão multissetorial, os prejuízos apurados até ao momento ascendem a cerca de 1.274.000,00 euros” refere o documento, acrescentando que como forma de colmatar o prejuízo "o Governo pretende mobilizar uma linha de crédito no valor de estimado em 3.000.000,00 euros, que deverá ser posta à disposição dos agentes económicos a uma taxa de juros bonificados e de rápido acesso”.
Setor agrícula afetado
O relatório do Governo refere que "as enxurradas foram muito prejudiciais” para o setor agrícola e da pecuária, causando danos na criação e cultivo, bem como nas "infraestruturas rurais, com destaque para as pistas rurais que se tornaram intransitáveis”.
O documento indica que para o setor agropecuário "estima-se uma necessidade de financiamento na ordem de 2.500.000,00 euros” para ações "de caráter urgente”.
No setor da saúde, o Governo recomenda que se aprovisione o stock de medicamentos, prevendo "um eventual surto de viroses e doenças” relacionadas com o consumo de água imprópria, que poderá aumentar os "casos de malária, febre tifoide, ascaridíase (lombriga) e cólera” no país.
"Para o efeito, o montante necessário estimado para atender a estas necessidades, incluindo o montante necessário para o asfaltamento do pátio interior do Hospital Ayres de Menezes, [...] assim como a reabilitação dos centros de saúde, para melhor atender aos anseios da população, ronda os 3.610.000,00 euros”, indica o executivo.
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Região Autónoma do Príncipe
O relatório também inclui verbas para a Região Autónoma do Príncipe, apesar de realçar que "não houve grandes problemas ou ocorrências muito graves, como consequências das fortes chuvas dos dias 28 a 29” de dezembro passado.
Para aquela ilha, o Governo solicita verbas para recuperar danos na escola Secundária Santo António II, efetuar "intervenção no Hospital Manuel Quaresma Dias da Graça, aquisição de medicamentos e de uma ambulância para os serviços de proteção social e bombeiros”.
O orçamento para a Região Autónoma do Príncipe está estimado no "valor de 1.500.000,00 euros" e inclui ainda a "reabilitação da ponte sobre o Rio Papagaio, tendo como indispensáveis na prevenção e resiliência de consequências das mudanças climáticas”.
São Tomé e Príncipe: Como a pandemia mudou a vida das pessoas
Na capital do país, São Tomé, profissionais dos mais diversos setores ralatam as intempéries causadas pela Covid-19, mas falam em esperança num futuro sem pandemia.
Foto: João Carlos/DW
Impacto negativo das restrições
Quem chega às ilhas de São Tomé e Príncipe, plantadas no meio do Oceano Atlântico, depara com um ambiente de quase total abstração sobre a existência da Covid-19. A maior parte da população não usa máscara facial. Mas a pandemia do novo coronavírus obrigou a muitas restrições e teve um forte impacto negativo na vida social e económica deste país da África Central.
Foto: João Carlos/DW
Normalidade em plena pandemia
Apesar dos vários avisos e informações oficiais recomendarem cuidados preventivos e proteção por causa do coronavírus e de suas variantes, muitos são-tomenses levam a sua vida quotidiana com normalidade, praticamente a ignorar que a Covid-19 constitui um problema de saúde pública. No entanto, há quem reconheça que a doença provocou perturbações no quotidiano da população.
Foto: João Carlos/DW
A vida está mais difícil
Taxista, 40 anos de idade, pai de quatro filhos, Euclides Gonçalves é quem sustenta a família. A vida que já não era está fácil ficou ainda mais difícil desde o início da pandemia de Covid-19. "Sentimos muita pressão com esta pandemia", afirma. "O negócio arrefeceu e é mais complicado ganhar dinheiro", diz o taxista, reconhecendo que "vivemos um momento de crise mundial".
Foto: João Carlos/DW
Subsídio do Estado é irrisório
O subsídio de cerca de 60 euros atribuído apenas uma vez pelo Governo são-tomense foi irrisório face à dimensão dos prejuízos que os taxistas sofrem depois do surto da pandemia. "O santomense nunca acreditou que houve Covid-19 em São Tomé e Príncipe", afirma Euclides, explicando a razão pela qual já não exige aos passageiros o uso de máscaras.
Foto: João Carlos/DW
Clientes também têm dificuldades
Fernando Afonso Vila Nova, motoqueiro de 62 anos de idade, também tem limitações para sustentar a família. Ainda com filhos na escola, consegue o sustento com muito sacrifício, já agravado pelo acidente de viação que lhe afetou as pernas e um braço. A crise pandémica agudizou a sua situação e de muitos colegas: "Há pouco movimento porque os clientes também passam por dificuldades".
Foto: João Carlos/DW
Nem barba, nem cabelo e tampouco bigode
A Barbearia Rita é uma das mais antigas da cidade de São Tomé. Edne Sacramento, cabeleireiro há 17 anos e pai de três filhos, testemunha em que medida a Covid-19 prejudicou a sua atividade. "Antes da pandemia, tínhamos muitos clientes", relata. Mas "depois da pandemia, muitos sentiam aquele receio de vir cá ao salão cortar cabelo, apesar de cumprirmos as regras todas".
Foto: João Carlos/DW
Escassez de mercadorias
Maria Helena da Mata, há mais de 30 anos no comércio, diz que é "muito forte" o impacto na sua atividade. O país depende totalmente do exterior: "Houve falta de transporte marítimo, o que provocou escassez de mercadorias". Além disso, a crise afetou a situação das famílias. "As pessoas não têm dinheiro, não têm poder de compra. Isso faz com que o comércio esteja também numa situação caótica".
Foto: João Carlos/DW
Encerramentos e incertezas
Os setores da restauração, viagens e eventos não ficaram ilesos. Elisabete Carvalho avalia a atual conjuntura com algum alívio porque fez investimentos próprios sem recorrer a créditos. Ainda assim, foi obrigada a fechar os serviços e isso acabou por afetar muitas famílias que empregava. "Neste momento, tudo é uma incerteza", refere.
Foto: João Carlos/DW
O peixe de cada dia
Nascido na localidade de Praia Gambôa, arredores de São Tomé, o pescador Cristovão da Trindade confirma que a sua atividade também sofreu com a redução da campanha e limitação à circulação das "palaiês" [vendedeiras de peixe], afetando o rendimento de toda a comunidade. Agora que diminuiu o número de casos de infetados, ele e os demais pescadores tentam recuperar o tempo perdido.
Foto: João Carlos/DW
Acostumar-se ao teletrabalho
O jurista Weiko Bastos diz que a pandemia pesou fundamentalmente na redução da receita e dos honorários. Levou à diminuição da quantidade e qualidade de clientes. Isso, aliado ao confinamento, atingiu igualmente o orçamento da sua família, forçada a fazer contenção de gastos. "Não estávamos preparados para o teletrabalho e não tinha Internet em casa. As dificuldades eram maiores", recorda.
Foto: João Carlos/DW
Estudar em casa
O professor e escritor, Lúcio Amado é um observador crítico da sociedade são-tomense. Considera que a principal preocupação da população é a sobrevivência, o que faz com que se não dê muita atenção à luta contra a Covid-19. No entanto, reconhece, a pandemia teve reflexos perversos no sistema de ensino. As turmas tinham números elevados de alunos que foram forçados a ficar em casa.
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Dançar conforme a música
Tem um disco novo que devia ter sido lançado em 2020, o que não aconteceu devido à Covid-19. "Tive que suspender todos os trabalhos", explica Kalú Mendes, produtor e um dos músicos de referência de São Tomé e Príncipe. '"Também as grandes editoras começaram a ter problemas financeiros", afirma. No entanto, continua a trabalhar e espera ter o disco no mercado em 2022.
Foto: João Carlos/DW
Resistir à turbulência
Outra referência das artes das ilhas, João Carlos Nezó resiste às intempéries no sul de São Tomé: "Aqui o mercado de arte é muito pequeno", dependente de turistas estrangeiros. Com a pandemia, deixou de vender. Ficou em primeiro lugar num concurso da Aliança Francesa, que lhe dava o passaporte para participar numa residência artística. "Não pude ir porque a pandemia durou dois anos", lamenta.
Foto: João Carlos/DW
Quebra brutal no turismo
Ligada a um empreendimento turístico ecológico no sul de São Tomé, Luísa Carvalho lamenta a quebra de turistas. "Todos os dias há cancelamentos de reservas. Antes da pandemia, tínhamos muita procura", garante a gerente. "De julho até então", adianta, "têm estado a aparecer alguns clientes curiosos", que fogem um pouco à situação, por exemplo, na Europa. Ms prevê: "Isto já não será como era antes".
Foto: João Carlos/DW
Resistência à vacinação
No início, havia resistência da maioria dos são-tomenses em aceitar a vacina contra a Covid-19, devido a rumores sobre a Astrazeneca. No entanto, com a campanha iniciada a 15 de março, aumentou a adesão da população, diz Solange Barros, coordenadora do Programa Nacional de Vacinação. "As vacinas são todas eficazes". Mas, dá conta, a adesão à segunda dose ficou muito aquém do esperado.
Foto: João Carlos/DW
À espera da terceira dose
Daniel Costa reconhece que "a pandemia afetou toda a gente". Para este antigo militar das Forças Armadas, as restrições impostas pelo confinamento e fracos salários agravaram o nível de pobreza da população. Sentiu-se algum alívio com as medidas de apoio do Governo aos mais carenciados. Diz que está pronto para tomar a terceira dose de qualquer vacina e aconselha as pessoas a se vacinarem.
Foto: João Carlos/DW
Manter a esperança e o otimismo
Apesar de algum receio, há uma mensagem de esperança entre os são-tomenses. Os nossos entrevistados acreditam que "as coisas poderão melhorar" nos próximos tempos, sobretudo para a atividade turística afetada sobremaneira. Vive-se uma "normalidade aparente", como diz Elisabete Carvalho, mas a expetativa está em 2022, porque, argumenta Weiko Bastos, "a economia não suporta mais confinamentos".