Governos africanos vigiam cidadãos através das redes sociais
Chrispin Mwakideu | ac
5 de novembro de 2019
Em vários países africanos, como Angola e Zimbabué, ativistas e bloggers são cada vez mais vigiados pelos serviços de segurança e informação. O alerta é lançado pela organização norte-americana Freedom House.
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Angola, Zimbabué e Sudão são alguns dos países destacados no relatório da Freedom House, com sede nos Estados Unidos da América (EUA).
Sem se darem conta, muitos africanos estão a ser vigiados pelos seus próprios governos através das redes sociais. O blogger Munya Bloggo, do Zimbabué, não se surpreende com a deterioração gradual da liberdade na Internet no seu país.
"Estamos cada vez mais controlados. Em janeiro, a Internet foi desligada durante alguns dias. Depois o método mudou para tentar silenciar vozes críticas ao regime, de ativistas e até de comediantes que atuam na internet", conta Munya Blogg, que gere vários projetos da Magamba, uma organização que promove a cultura urbana e defende os direitos cívicos no Zimbabué.
Bloggers ameaçados e presos
Como blogger, Bloggo está acostumado a ameaças online e a "cyberbullying". E tem muitas histórias para contar sobre o assunto. "Em 2017, um dos nossos colegas ficou na prisão durante cinco dias, por supostamente tentar derrubar o governo legitimamente eleito, usando as redes sociais", recorda.
De acordo com o relatório "Liberdade na Internet" de 2019, publicado pela Freedom House, os governos controlam cada vez mais as redes sociais, colecionando os dados dos seus cidadãos no intuito de identificar ameaças para o governo e de silenciar a oposição.
O relatório alerta que o controlo das redes sociais por parte do governo ameaça seriamente a liberdade dos ativistas cívicos que atuam em plataformas digitais.
Isabel Linzer, especialista em liberdade na Internet na África subsaariana, explica em entrevista à DW que "os serviços de informação e segurança geralmente usam tecnologias de inteligência artificial e, em muitos casos, automatizam cada vez mais o controlo em massa das redes sociais."
A especialista da Freedom House refere que o facto é notório em vários países da África Subsaariana, "como, por exemplo, no Quénia, na África do Sul, na Nigéria, no Uganda e também em Angola." Muitos governos africanos, como o Zimbabué, aprovaram leis que lhes permitem monitorizar os cidadãos e seguir o seu comportamento online.
Internet para abafar vozes de opositores
Natasha Musonza, especialista em direitos digitais e segurança, afirma que "além da legislação, está o aproveitamento das redes sociais pelo governo zimbabueano para promover a sua própria agenda e abafar opiniões de opositores e dissidentes online".
Governos africanos vigiam cidadãos através das redes sociais
A pedido do Presidente, foram criadas muitas novas contas no Twitter antes das eleições de 2018, "com o objetivo de ofuscar os protestos online, interromper conversas, perseguir e assediar influenciadores e líderes de opinião populares", refere Musonza.
A investigadora da Freedom House Isabel Linzer diz estar preocupada com a desinformação na internet, por vezes exercida pelos próprios serviços de segurança, especialmente durante as eleições. "Vimos desinformação, por exemplo, em torno das eleições na Nigéria", denuncia.
Questionada sobre quem deve ser o responsável por garantir a liberdade na internet, Isabel Linzer respondeu: "Todos. Desde as empresas de tecnologia, governo, sociedade civil, todos têm um papel a desempenhar."
10 dicas para tornar o seu Facebook mais seguro
Depois do abuso de dados pela empresa Cambridge Analytica, o Facebook é criticado pela falta de proteção de informações pessoais. Mas todos nós podemos contribuir para tornar esta rede social mais segura. Saiba como!
Foto: picture alliance/NurPhoto/J. Arriens
1. Desativar apps de terceiros
Jogos, calendários, petições - há muitas aplicações de empresas terceiras que usamos no Facebook. Cuidado! Foi uma destas apps que despoletou o escândalo da Cambridge Analytica. Por isso, é melhor remover tudo o que não é de confiança e essencial. Isto faz-se clicando na setinha em cima para abrir o menu "Definições". Na secção "Apps e sites" podemos verificar e eliminar as apps instaladas.
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2. Definir o nosso nível de privacidade
Para definir o nosso nível de privacidade, vamos ao menu "Definições" e à secção "Definições e ferramentas de privacidade". Por exemplo, podemos definir que apenas os nossos amigos têm acesso à nossa lista de amigos, ao nosso e-mail e ao nosso telefone. Isto impede a captação destes dados sensíveis por empresas que se fazem passar como "amigos de amigos" como no caso da Cambridge Analytica.
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3. Controlar quem pode usar o meu nome
Sem mudar as definições originais, todos podem identificar o nosso nome em fotografias, vídeos e posts do Facebook (o chamado "tagging"). Para controlar as publicações, vamos ao menu "Definições" e à secção "Cronologia e identificação". Em "Quem pode publicar na tua cronologia?" escolhemos a opção "Apenas eu" e, em baixo, ativamos as revisões de publicações para um controlo maior.
Foto: facebook.com
4. Eliminar anúncios personalizados
Em "Definições" também podemos definir o tipo de publicidade que vemos na secção "Anúncios". Ao restringir o uso dos nossos dados para anúncios não significa que o Facebook não saiba quais as nossas preferências, pois colocamos likes e shares nos posts que interessam. Mas se os anúncios são menos personalizados, torna-se mais difícil desenvolver um perfil detalhado dos nossos hábitos de consumo.
Foto: facebook.com
5. Não conectar um número telefónico
Usar o Facebook sem registar um número telefónico (apenas com um email), pode impedir que a empresa ligue os dados da plataforma Facebook ao WhatsApp, a outra rede social que pertence à empresa Facebook. Quando comprou o WhatsApp em 2014, o Facebook anunciou que não iria conectar os dados das duas plataformas. Mas desde então tem recuado gradualmente.
Foto: picture alliance/dpa/P.Pleul
6. Instagram também faz parte
Não é somente o WhatsApp que faz parte do grupo Facebook, mas também o Instagram. Curiosamente, uma das redes sociais mais usadas pelas pessoas que abandonaram o Facebook. Mas ao contrário do WhatsApp, o Instagram já está estreitamente ligado ao Facebook em termos de intercâmbio de dados. Para as empresas de publicidade, ambas as plataformas são oferecidas como um pacote pelo Facebook.
Foto: Instagram
7. Desinstalar a app do Facebook
Se quisermos diminuir o acesso do Facebook aos nossos dados privados, uma das medidas mais importantes é remover a app do Facebook do telemóvel e passar a abrir a plataforma através de um browser e do endereço www.facebook.com. A app tem a permissão para registar pormenores de chamadas telefónicas como os números ligados ou a duração das chamadas. Usar o Facebook no browser impede este acesso.
Foto: picture-alliance/J.Büttner
8. Escolher bem o browser
Também vale a pena escolher bem o browser. Sempre que navegamos na net, deixamos muitos rastos de dados. Através de pequenos ficheiros no nosso computador ou telemóvel ("cookies"), empresas como o Facebook conseguem identificar ações como compras online. Em 2009, o Firefox foi o primeiro browser a oferecer a opção "Do Not Track" que diminui a recolha de dados online. Seguiram-se outros browsers.
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9. Respeitar a privacidade dos outros
Uma vez publicada uma fotografia ou um vídeo no Facebook ou em outra página da internet, é muito difícil eliminá-la. Como são digitais, é fácil fazer cópias que podem permanecer muitos anos depois da eliminação do original. Por isso, é bom respeitar a privacidade dos outros e também de menores, mesmo sendo os nossos filhos.
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10. Não publicar o que deve permanecer privado
Podemos considerar as redes sociais como uma espécie de cartaz público. Se temos dados sensíveis, deveríamos usar meios de comunicação protegidos como e-mails codificados ou até o clássico telefone. Vale sempre a pena lembrar que as "redes sociais" não são "redes privadas" e que empresas como a Cambridge Analytica só podem abusar de dados que nós próprios divulgámos e partilhámos.