Governos de Angola e RDC reunidos por causa dos refugiados
Lusa
19 de maio de 2017
Ministro das Relações Exteriores de Angola preocupado com situação dos refugiados que se encontram nas províncias de Lunda Norte e Lunda Sul. Estima-se que, desde abril, 30.000 congoleses se tenham refugiado em Angola.
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Os Governos de Angola e da República Democrática do Congo (RDC) estão a estudar soluções para o regresso às suas zonas de origem de cerca de 30.000 refugiados congoleses que procuraram segurança em território angolano nas últimas semanas.
A informação foi avançada, esta sexta-feira (19.05), por Leonare Oshintudu, chefe da diplomacia da RDC, no final da audiência concedida pelo vice-Presidente de Angola, Manuel Vicente. No encontro entre responsáveis dos dois países, foi abordada a situação política e de segurança na RDC, que tem causado um grande número de refugiados, e a cooperação bilateral entre os dois países.
Segundo explicou Leonare Oshintudu, Angola e RDC estão a estudar "soluções para que a população que fugiu das suas zonas de origem, possa retomar às suas habitações na RDCongo”.
Em causa estão conflitos étnico-políticos no Kasai e Kasai Central, na RDC, que desde meados de 2016, já provocaram, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), um milhão de deslocados, 30.000 dos quais fugiram para Angola, através da província da Lunda Norte, desde abril.
Situação "preocupante”, "triste e terrível”
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, confirmou a preocupação do Governo angolano com a situação dos refugiados que se encontram nas províncias angolanas da Lunda Norte e Lunda Sul.
Segundo Georges Chikoti, o Governo angolano já mobilizou a comissão interministerial, que passou a semana passada na Lunda Norte, para se oferecer aos refugiados "as melhores condições de receção, alimentação e de tratamento", já que há pessoas a chegarem feridas e "alguns ferimentos bastante graves".
Georges Chikoti lembrou que Angola emitiu há uma semana um comunicado sobre a situação na República Democrática do Congo, "porque é necessário que haja um maior envolvimento da comunidade internacional, mas também um maior acompanhamento e engajamento das autoridades da RDCongo em termos da reposição da paz, da estabilidade, naquela região".
O governante angolano sublinhou ainda que os refugiados estão a ser "bem acolhidos pela parte angolana", realçando que, esta semana, as autoridades estão a proceder à sua transferência da zona fronteiriça para regiões mais no interior de Angola. Conforme explica, "a norma internacional prevê que eles estejam pelo menos 50 quilómetros no território angolano, mas isso implica [outros esforços]. Angola mobilizou meios de transporte, alimentação, tendas para essas pessoas serem acomodadas, como também tivemos que mobilizar medicamentos para assistir às pessoas que vêm feridas", referiu.
O ministro da Assistência e Reinserção Social de Angola, Gonçalves Muanduma, que visitou, esta semana, os centros de acolhimento dos refugiados nas duas províncias angolanas, classificou como "bastante preocupante, triste e terrível" a situação. "Estamos muito preocupados com o que acabamos de ver, estamos aqui a visitar com o governador da província, o representante do ACNUR e, coincidentemente, acabam de chegar cerca de 200 cidadãos e a situação é difícil, uns com feridas, bebés, crianças, todas assustadas, é uma situação bastante preocupante", lamentou.
Eleições na RDC este ano "se não houver qualquer percalço"
O também vice-primeiro-ministro da RDC avançou, à margem deste encontro com o governo angolano, que as eleições naquele país deverão ocorrer no final deste ano, "se não houver qualquer percalço".
"Estamos a trabalhar no espírito do acordo que foi assinado no dia 31 de dezembro do ano passado, e já temos uma entidade advinda da oposição, que já está à cabeça da composição da Comissão Nacional de Acompanhamento, este está a trabalhar conjuntamente com as outras organizações e a Comissão Nacional Eleitoral, para se programar ou se seguir o que estava programado para as eleições no final deste ano se possível", disse.
Missões de paz da ONU em África
Os capacetes azuis da Organização das Nações Unidas têm intervido em vários países africanos. A MONUSCO, missão de paz da ONU na República Democrática do Congo, é a maior e mais cara de todas. Mas há várias.
Foto: picture-alliance/AA/S. Mohamed
RD Congo: a maior missão da ONU
Desde 1999, que a Organização das Nações Unidas (ONU) tenta pacificar a região oriental da República Democrática do Congo (RDC). A missão conhecida como MONUSCO conta com cerca de 20 mil soldados e um orçamento anual de 1,4 mil milhões de euros. Ainda que esta seja a maior e mais cara missão da ONU, a violência no país persiste.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Darfur: impotente contra a violência
A UNAMID é uma missão conjunta da União Africana e da ONU na região de Darfur, no Sudão, considerada por alguns observadores um fracasso. “O Conselho de Segurança da ONU deve trabalhar mais arduamente para encontrar soluções políticas, em vez de gastar dinheiro no desdobramento militar a longo prazo”, afirmou o especialista em segurança, Thierry Vircoulon.
Foto: picture-alliance/dpa/A. G. Farran
Sul do Sudão: fechar os olhos ao conflito?
A guerra civil no Sul do Sudão já fez com que, desde 2013, mais de quatro milhões de pessoas abandonassem as suas casas. Alguns estão abrigadas em campos de ajuda da ONU. Mas, quando os confrontos entre as forças do Governo e os rebeldes começaram na capital Juba, em julho de 2016, os capacetes azuis não foram bem sucedidos na intervenção.
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Mali: mais perigosa missão da ONU no mundo
As forças de paz da ONU no Mali têm estado a monitorizar o cumprimento do acordo de paz realizado entre o Governo e a aliança dos rebeldes liderada pelos tuaregues. No entanto, grupos terroristas como o AQMI continuam a levar a cabo ataques terroristas que fazem com que a Missão da ONU no Mali (MINUSA) seja uma das mais perigosas do mundo. A Alemanha cedeu mais de 700 militares e helicópteros.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
RCA: abusos sexuais fazem manchetes
A missão da ONU na República Centro-Africana (MINUSCA) não ajudou a melhorar a imagem das Nações Unidas no continente africano. As tropas francesas foram acusadas de abusar sexualmente de crianças pela campanha Código Azul. Três anos depois, as vitimas não têm ajuda da ONU. Desde 2014, 10 mill soldados e 1800 polícias foram destacados para o país. A violência diminuiu, mas a tensão mantém-se.
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Saara Ocidental: Esperança numa paz duradoura
A missão da ONU no Saara Ocidental, conhecida por MINURSO, está ativa desde 1991. Cabe à MINURSO controlar o conflito existente entre Marrocos e a Frente Polisário que defende a independência do Saara Ocidental. Em 2016, Marrocos, que ocupa este território desde 1976, dispensou 84 funcionários da MINURSO após um discurso do secretário-geral da ONU que o país não aprovou.
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Costa do Marfim: um final pacífico
A missão da ONU na Costa do Marfim cumpriu o seu objetivo a 30 de junho de 2016, após 14 anos. As tropas têm vindo a ser retiradas, gradualmente, o que, para o ex secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, significa “um ponto de viragem das Nações Unidas na Costa do Marfim”. No entanto, apenas depois da retirada total das forças e a longo prazo é que se saberá se a missão foi ou não bem sucedida.
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo
Libéria: missão cumprida
A intervenção da ONU na Libéria chegou ao fim. Desde o fim da guerra civil, que durou 14 anos, que a Missão da ONU na Libéria (UNMIL) tem assegurado a estabilidade na Libéria e ajudado a construir um Estado funcional. O Governo do país quer agora garantir a segurança da Libéria. O país ainda está a lutar com as consequências de uma devastadora epidemia do Ébola que o assolou.
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Sudão: Etiópia é promotora da paz?
Os soldados da Força de Segurança Interina da ONU para Abyei (UNISFA) patrulham esta região, rica em petróleo, e que, tanto o Sudão, como o Sudão do Sul, consideram ser sua. Mais de quatro mil capacetes azuis da Etiópia estão no terreno. A Etiópia é o segundo maior contribuinte para a manutenção da paz no mundo. No entanto, o seu exército é acusado de violações de direitos humanos no seu país.
Foto: Getty Images/AFP/A. G. Farran
Somália: Modelo futuro da União Africana?
As forças de paz da ONU na Somália estão a lutar sob a liderança da União Africana numa missão conhecida como AMISOM. Os soldados estão no país africano para combater os islamitas al-Shabaab e trazer estabilidade ao país devastado pela guerra. Etiópia, Burundi, Djibouti, Quénia, Uganda, Serra Leoa, Gana e Nigéria contribuem com as com suas tropas para a AMISOM.