Os médicos zimbabueanos estão em greve há um mês. Exigem um aumento salarial e melhores condições de trabalho. Os utentes dos hospitais públicos estão cada vez mais desesperados.
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Normalmente há muita atividade no Hospital de Parirenyatwa, em Harare, um centro hospitalar de referência no Zimbabué. Hoje, no entanto, tudo parece calmo e quase deserto. Só são atentidos os casos mais urgentes porque os médicos estão em greve por melhores condições de trabalho.
Os utentes dos serviços estão cada vez mais desesperados. Violet Chimbiro, de 67 anos, vítima de cancro, deixou o hospital desapontada e com dores. Os medicamentos que precisa não estão disponíveis neste e noutros hospitais públicos do país. Foi informada de que terá de comprar os remédios no mercado privado, o que não é fácil.
As unidades de saúde privadas exigem pagamentos em moeda estrangeira, especialmente em dólares americanos, que são de difícil acesso para cidadãos comuns. As farmácias recusam-se a aceitar a moeda local, que perdeu muito valor nos últimos três meses.
Para Violet Chimbiro, significa que não conseguirá os medicamentos que precisa. "Os meus filhos não me podem ajudar, eles não ganham praticamente nada. Guardo as receitas que os médicos passam, pois não posso comprar os medicamentos porque não tenho dinheiro."
Saúde pública negligenciada
Os médicos em greve dizem que o setor de saúde pública no Zimbabué tem sido negligenciado ao longo dos anos. Em entrevista à DW, o doutor Allan Dimingo afirma que foi difícil aderir à greve, mas as condições de trabalho para ele e os seus colegas são "terríveis".
Greve dos médicos agrava crise no Zimbabué
"Os médicos têm cada vez menos condições e, além disso, os medicamentos que constam da lista de medicamentos essenciais do Zimbabué estão reduzidos a 30%. Isso é inaceitável", conta.
O governo considera a greve ilegal. Os médicos receberam um ultimato de 12 horas para voltar ao trabalho, depois de um tribunal ter dado razão ao executivo em dezembro. Mas os médicos não acataram a decisão e continuam em greve.
Mais de 500 médicos foram suspensos sem pagamento. Um deles, Prince Butau, descreve o fardo psicológico e o dilema que os médicos enfrentam todos os dias: "Poderíamos voltar ao trabalho, mas isso nada adiantaria, porque não há nada que possamos fazer para ajudar os pacientes, que morrem enquanto assistimos. Temos a obrigação de dizer a toda a nação e ao mundo o que está a acontecer aqui."
As negociações entre o governo e o sindicato dos médicos continuam num impasse. Os mais otimistas dizem que denotam da parte do governo alguma vontade de sair desta terrível situação. No entanto, faltam os meios.
Família Mugabe: 37 anos de luxo e ostentação
Enquanto Robert Mugabe liderou o Zimbabué, não foi uma preocupação da sua família esconder o luxo em que vivia. Num país em que parte da população é pobre, a família do Presidente exibiu, durante anos, uma vida faustosa.
Foto: Getty Images/M.Safodien
Fortuna de um bilião
Estima o The Guardian que a fortuna de Mugabe deverá rondar um bilião de euros, espalhados, entre outros, em contas secretas na Suiça e Bahamas. Só a sua mansão, localizada a norte de Harare, está avaliada em cerca de oito milhões de euros. Um valor que um cidadão comum no Zimbabué só conseguiria pagar se trabalhasse cerca de 3.825 anos seguidos sem gastar um centavo.
Foto: Getty Images
Seis pessoas, 25 quartos
Desenhada por arquitetos chineses, a mansão “Blue Roof”- com este nome por causa dos azulejos azuis do telhado importados da China - tem 25 quartos. Se cada elemento da família tiver um quarto - Robert, Grace, os três filhos do casal e o filho do primeiro casamento de Grace - sobrarão ainda 19. A casa tem ainda lagos, monitores panorâmicos, cadeiras de veludo e camas em estilo monárquico.
Foto: Getty Images/J.Njikizana
Outras propriedades
Sabe-se que o casal possui ainda propriedades na Malásia, Singapura e Dubai . Em 2009, diz o Sunday Times, Robert e Grace Mugabe adquiriram uma outra casa num bairro de luxo em Hong Kong, cidade onde estudou a sua filha Bona, por 4,5 milhões de euros. Na mesma altura, "Dis Grace", como também é chamada pelos zimbabueanos, terá gasto mais de 60 mil euros em estátuas de mármore do Vietname.
Foto: picture-alliance/dpa/Ym Yik
Casamento extravagante
Robert e Grace Mugabe deram o nó em agosto de 1996, quatro anos após a morte da primeira esposa do presidente do Zimbabué, Sally, ter falecido. O casamento custou um milhão de dólares e contou com 40 mil convidados. Na imprensa local, falou-se no “casamento do século”. Para assinalar o 20º aniversário de casamento, Grace terá comprado um anel de diamantes por 1,15 milhões de euros.
Foto: Getty Images/O.Anderson
"Gucci Grace"
Embora quisesse ser notícia pelo trabalho social que desenvolvia no Zimbabué, a agora ex primeira-dama, apelidada também de "Gucci Grace" pela sua futilidade, era criticada pelos seus gastos pessoais com objetos de luxo. Grace Mugabe, 40 anos mais nova que Robert Mugabe, não escondia as suas roupas, sapatos e jóias de marcas de luxo.
Foto: Getty Images/Z.Auntony
Às compras pela Europa...
Diz o The Guardian que a marca favorita de sapatos de Grace é a Ferragamo. Ao todo, o seu armário, contará com mais de três mil pares de sapatos. Em 2003, o Daily Telegraph deu conta que Grace gastou, numa só viagem a Paris, cerca de 63 mil euros. Já em Londres, a primeira-dama terá gasto 45 mil. Até 2004, Grace terá retirado do Banco Central do Zimbabué mais de cinco milhões de euros.
Foto: Getty Images/J.Delay
Luxo “hereditário”
O gosto por gastar é algo que Grace parece ter incutido nos seus filhos. Só o casamento de Bona (na foto) custou mais de três milhões de euros. Já Robert Jr. e Bellarmine Chatunga, os outros dois filhos do casal, enquanto viveram no Dubai, estiveram instalados num apartamento que tinha uma renda mensal de cerca de 30 mil euros. Já na África do Sul, pagavam cerca de 4,5 mil.
Foto: Getty Images/R.Rahman
Filhos não escondem riqueza
Este ano, o filho mais novo de Mugabe publicou um vídeo onde derramava champanhe Armand de Brignac em cima do seu relógio de luxo. Dias antes, diz o The Guardian, o jovem postou uma fotografia com a legenda “51 mil euros no pulso quando o seu pai comanda o país”. A imprensa local não deixou também passar em branco a excentricidade do enteado de Mugabe, que importou dois luxuosos Rolls-Royce.
Foto: Rolls-Royce
"Gucci Grace" em tribunal
Recentemente “DisGrace” travou uma guerra no tribunal com um negociante de diamantes libanês. Grace Mugabe afirma ter pago cerca de 858 mil euros por um diamante de 100 quilates que não recebeu.
Foto: dapd
Festas de anos milionárias
As festas de anos de Mugabe já eram uma tradição. Ano após ano, em fevereiro, repetiam-se as notícias relacionadas com as suas extravagâncias. No seu 85º aniversário, por exemplo, foram encomendadas duas mil garrafas de champanhe Moet & Chandon e 400 doses de caviar. Já por altura dos seus 91 anos, Mugabe gastou cerca de um milhão de dólares na festa, que teve lugar num hotel de cinco estrelas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Na mira do “Wikileaks”
Em 2010, as informação reveladas pelo Wikileaks vieram dar razão aos zimbabueanos que criticavam os luxos da família Mugabe. Os documentos divulgados fizeram referência ao envolvimento de elites e altos funcionários do governo do Zimbabué em negócios de diamantes. Um dos nomes citados foi precisamente o de Grace Mugabe.