1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Greve dos taxistas paralisa Luanda e gera caos

DW (Deutsche Welle) | Lusa
28 de julho de 2025

Barricadas, viaturas vandalizadas e pilhagens marcaram a greve dos taxistas em Luanda. População ficou sem transporte. Governo Provincial condena atos e promete repor a ordem.

Protestos em Luanda
Com os táxis fora de circulação, a procura pelos transportes públicos dispara, causando superlotação e atrasos para os trabalhadores e caosFoto: AFP

Barricadas, pneus queimados, pilhagens e viaturas vandalizadas marcaram hoje o início da greve na capital angolana dos taxistas de transportes privados, que condenaram o vandalismo e criticaram o aumento do preço dos combustíveis.

No dia em que os "azuis e brancos", como são conhecidos, decidiram não colorir as estradas de Luanda e demais províncias do país, o primeiro dos três dias de "paralisação pacífica", convocada por associações de taxistas, ficou marcada por atos de vandalismo nos diversos bairros da capital angolana.

Desde as primeiras horas de hoje que vários cidadãos se queixaram de dificuldades para circular e chegar ao local de trabalho, devido à falta de táxis. Muitos tiveram mesmo de caminhar longas distâncias e outros de aguardar por mais de três horas nas paragens.

Em toda a extensão da Avenida Fidel de Castro, estrada direita de Viana, Quilometro 30, município de Cacuaco, zona do Camama e Calemba 2 era possível ver um número considerável de pessoas nas paragens enquanto outras caminhavam devido à falta de transporte.

Nas paragens de transportes coletivos a procura por autocarros mais do que duplicou. Paixão Mateus, há mais de três horas que esperava pelo táxi para chegar ao local de trabalho. "Eu estou a mais de três horas [aqui na paragem], por falta de táxi, não há autocarros [públicos], os que aparecem já vêm cheios e, neste momento, estou aqui indeciso, porque trabalho no Benfica e estou em risco de faltar ao serviço", disse o carpinteiro de 37 anos à Lusa, aproveitando para contestar o aumento do preço dos combustíveis.

Candongueiros, motoristas informais e populares que circulam em Luanda, enfrentam agora maior pressão devido à greve oficial dos taxistas.Foto: AFP

Vítor Miguel, 25 anos que disse ter despertado às 05:00 para chegar cedo ao serviço, mas a paralisação dos taxistas obrigou-o a caminhar de Viana até ao Zango, lamentando os transtornos na via e a subida da tarifa do táxi.

"Já estou atrasado e será um dia muito complicado. (...) Acho que vou dormir no local de serviço e não tenho como voltar para casa", lamentou.

Barricadas e violência nas ruas

Pela zona do Calemba 2, município do Camama, Distrito Urbano do Campos Universitário, toda a extensão da Rua 11 de Novembro, zona comercial e de intensa circulação automóvel, ficou bloqueada com barricadas de contentores de lixo, de àrvores partidas e pneus queimados.

Naquele perímetro, grupos de cidadãos e de moto taxistas impediam a circulação de viaturas, com barricadas e inclusive cenas de agressões a quem por aí circulava com a sua viatura, facto que mobilizou a presença de efetivos da polícia para colocar ordem e amenizar os ânimos, no entanto, sem sucesso.

Foi na mesma rua em que algumas viaturas foram vandalizadas e armazéns e supermercados pilhados pela população. A situação gerou um caos e até protestos de muitos transeuntes e moradores na região. A polícia ainda interveio com disparos para dispersar a população, mas o reduzido número de efetivos não conseguia travar a fúria da população.

Antónia Jorge, que circulava pelo Calemba 2, condenou a vandalização de um supermercado naquela zona, que disse ter testemunhado a partir das 09:00.

Vandalizaram, bateram nos funcionários, isso não pode, isso é roubo, é vandalização (...). A greve é dos taxistas e o que é que o povo tem a ver? O mercado não tem nada a ver, porque é que têm de roubar na loja? Isso está errado, a polícia pode fazer o que entender, mesmo com disparos não estão a fugir", atirou.

Sem condições para chegar ao local de serviço, Nsimba Martins, 38 anos, decidiu regressar à casa a pé, mas viu condicionada a mobilidade quando atingiu a Rua 11 de Novembro e se deparou com barricadas na via.

"Todas as ruas fechadas aqui no Calemba 2, consegui sair de casa, mas estou a voltar não vou conseguir chegar ao serviço porque não temos táxi. Essa via está toda fechada, acenderam pneus", atirou.

A revolta dos cidadãos

Valéria Daniel, desempregada de 22 anos, justificou "a revolta" dos cidadãos naquela circunscrição do município do Camama como uma medida para "exigir" às autoridades para recuarem com as políticas da subida do preço dos combustíveis, que encarece a vida das famílias.

O povo "está muito revoltado, (...) o táxi tem de baixar, porque a gasolina está a sair do nosso país. O povo está mesmo muito mal, tem pessoas que não trabalham, muitas mulheres estão a preferir fazer prostituição porque não têm emprego", lamentou.

Algumas lojas de postos de abastecimento de combustível também foram vandalizadas, sendo que de vários pontos de Luanda surgem relatos de manifestações espontâneas, inclusive de moto taxistas, que em grupo chegaram até às imediações da sede do Governo de Luanda, mas foram travados pela polícia, na sequência de disparos.

À Lusa, o taxista Joaquim Catimba, que no município de Viana, juntamente com os colegas decidiram cruzar os braços em apoio à greve, recordou que a paralisação, que deve decorrer até quarta-feira, é um protesto contra o aumento do preço dos combustíveis e nova tarifa do táxi, bem como pela exigência de mais respeito pela classe.

Catimba pediu ao Governo angolano a revisão do preço do combustível e criticou ainda alguns colegas que decidiram "furar" a greve.

Os "azuis e brancos", como são conhecidos os taxistas em Luanda, exigem melhores condições e protestam contra o aumento dos combustíveis.Foto: DW/P. B. Ndomba

Governo manifesta preocupação

O Governo Provincial de Luanda (GPL) disse hoje que "acompanha com elevada preocupação" os atos registados em diversos pontos da província no primeiro dia de paralisação dos taxistas, marcado por ações de vandalismo.

Segundo o GPL, os distúrbios e atos de vandalismo foram promovidos por "grupos de indivíduos não identificados e sem legitimidade representativa da classe dos taxistas", apesar de as principais associações e cooperativas terem cancelado oficialmente a paralisação durante o fim de semana, após diálogo com as autoridades.

O Governo condenou os atos de intimidação, vandalismo e agressão, e garantiu que as forças da ordem estão no terreno para restabelecer a normalidade e identificar os autores dos crimes.

Reivindicações dos taxistas

O protesto dos taxistas decorre da subida do preço do gasóleo, que passou de 300 para 400 kwanzas por litro, no âmbito da retirada gradual do subsídio aos combustíveis. Em resposta, a ANTT actualizou as tarifas: os táxis coletivos passaram de 200 para 300 kwanzas e os autocarros urbanos de 150 para 200 kwanzas.

Os taxistas afirmam que o Governo ignorou os seus apelos durante mais de 15 dias. Entre outras queixas, apontam o aumento das peças de manutenção, a remoção de paragens sem aviso prévio e a falta de vontade do Executivo em formalizar a atividade de táxi.

Condenações e críticas

O presidente da Cooperativa de Táxis Comunitários de Angola, Rafael Inácio, condenou os atos de vandalismo e o aproveitamento político da greve, apesar de afirmar solidariedade com a ANATA, a associação promotora da paralisação.

"Se é uma paralisação ordeira e pacífica, não deve haver vandalismo nem aproveitamento político", disse. Inácio apontou zonas como Kilamba Kiaxi, onde viaturas foram vandalizadas e pneus incendiados.

O porta-voz do comando provincial de Luanda da Polícia Nacional, Nestor Goubel, disse que as forças estão a ser posicionadas onde há denúncias de violência.

Mais informações serão prestadas posteriormente, enquanto decorrem ações para garantir a reposição da ordem pública.

Luanda: Marcha contra aumento dos combustíveis em Angola

01:19

This browser does not support the video element.

 

Lusa Agência de notícias