Greve em portos portugueses afeta relações comerciais com os PALOP
13 de dezembro de 2012Quatro dos principais portos portugueses estão praticamente parados desde setembro. As greves sucessivas dos estivadores vão prolongar-se até à véspera do Natal, de acordo com o pré-aviso apresentado esta semana pela comissão sindical que representa os trabalhadores.
A paralisação tem afetado as operações nos portos de Lisboa, Setúbal, Figueira da Foz e Aveiro. Em causa está o novo regime jurídico de trabalho portuário, aprovado há uma semana na generalidade pela maioria parlamentar.
Vitor Dias, porta-voz dos estivadores descontentes, critica o Governo por ter preparado o diploma sem ouvir antes o sindicato: "O Governo que causou todo este problema e que de repente passa a bola para os operadores e sindicatos para que se entendam."
É vontade dos estivadores que o governo assuma o que os empregadores assumem. Vitor Dias explica melhor: "Que esta legislação não leve à precarização dos portos e não leve à redução dos postos de trabalho. Mas isso tem de ser o Governo a assumir, não podem ser os empregadores."
O Sindicato dos Estivadores do Centro e Sul exige, por isso, um novo regime portuário em defesa, sobretudo, dos postos de trabalho. Entretanto, o executivo avançou com medidas para assegurar o serviço mínimo, de modo a evitar danos mais elevados.
O ministério da Economia já avaliou os prejuízos causados pelas paralisações nos últimos três meses.
Em declarações ao Parlamento, o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira revelou: "O nosso gabinete de estudo estima um custo para a economia nacional na ordem dos 400 milhões de euros por mês. É que estas greves estão a afetar determinados portos, nomeadamente o de Lisboa."
Angola já de olho em soluções
De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas, o movimento de mercadorias via marítima nos portos portugueses baixou 6,3 por cento no terceiro trimestre.
Muitas empresas exportadoras estão a perder negócios em países como Angola. Nalguns setores, como o da construção, as vendas cairam perto de 20 por cento.
Inclusive, há negócios que se perderam, como confirmaram alguns agentes, com custos adicionais para as empresas.
Confrontado pela DW África, Francisco Venâncio, presidente do Conselho da Administração do Porto de Luanda, disse que os diferentes tráfegos com origem em portos portugueses poderão ter sido afetados, incluindo Angola, isso numa perspetiva de prazos de entrega.
Mas Francisco Venâncio já prevê uma solução para o caso: "Estamos atentos, porque em última instância os operadores terão de transferir as suas cargas para outros portos, essa é a situação real."
Para já não há uma ideia exata dos efeitos diretos destas greves, acrescenta Francisco Venâncio que foi a Lisboa participar no VI Congresso da Associação dos Portos de Países de Língua Portuguesa. Para o presidente do grupo, José Luís Cacho este "é um problema pontual, e acredita que as coisas vão normalizar rapidamente".
A esperança é a última a morrer
José Luis Cacho, que garante estarem todos a fazer um esforço nesse sentido, lembra o peso da greve em contexto de crise que afeta Portugal: "Todos percebem a importância que este assunto tem para a nossa economia no momento difícil que atravessamos."
Entretanto, o presidente Associação dos Portos dos Países de Língua Portuguesa (APLOP), lembra que "há uma responsabilização coletiva de todos e estamos a caminhar para a estabilização deste processo."
Depois de várias negociações infrutíferas, nem os apelos do executivo para a normalização da situação nos portos portugueses conseguem travar a determinação dos estivadores, que não estão apenas preocupados com o impacto das greves nas exportações.
Autor: João Carlos (Lisboa)
Edição: Nádia Issufo /António Rocha