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Greve geral provoca caos na Nigéria

10 de janeiro de 2012

Na Nigéria a polícia disparou para o ar e lançou granadas de gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes que protestaram contra o aumento dos preços de gasolina. Aproximadamente 11 pessoas terão sido mortas.

Milhares de pessoas manifestaram-se no segundo dia da greve geral
Milhares de pessoas manifestaram-se no segundo dia da greve geralFoto: Reuters

A Nigéria encontra-se num impasse: milhares de nigerianos participaram esta terça-feira (10/01) no segundo dia de greve geral para protestar contra o aumento do preço da gasolina. Os protestos não são apenas contra os preços elevados, mas também contra o governo, que muitos consideram incompetente.

Os sindicatos nigerianos estão decididos a prosseguir com a greve geral até que sejam satisfeitas as suas exigências, ou seja, repor as subvenções atribuídas aos combustíveis, enquanto o governo apela ao diálogo e a nível internacional muitas capitais já se mostram preocupadas com a situação naquele país.

Tal como na segunda-feira (09/01), primeiro dia da greve geral, escolas, empresas e o comércio em geral permaneceram encerrados esta terça-feira nas grandes cidades do país.

Adobi, uma residente em Abuja, não foi trabalhar nos dois últimos dias, tal como milhares de outras pessoas. Ela tentou comprar água no mercado, mas sem resultado. "Os comerciantes estão nas suas lojas mas não vendem nada. Essa resistência impressiona-me."


Apelos apaziguadores do governo

Thomas Mättig, da Fundação Friedriech-EbertFoto: privat

Segundo o representante da fundação alemã Friedrich-Ebert no país, Thomas Mättig, Abuja foi transformada de um dia para o outro numa "cidade fantasma". As ruas estão vazias, as lojas fechadas, o transporte reduzido e o aeroporto encerrado. Em condições normais, Mättig descreveria Abuja como uma cidade com muito tráfego, muita atividade, com pessoas por todos os lados.

Os sindicatos exigem que o governo restabeleça as subvenções cuja supressão, a 1/01, provocou um brusco aumento dos preços de combustíveis. As autoridades dizem que compreendem o grande descontentamento dos nigerianos, mas convida-os a analisar o argumento positivo da supressão da subvenção.

Também o comércio fechou em alguns pontos do paísFoto: DW

O "calcanhar de aquiles"

Segundo Labaran Muku, ministro nigeriano da informação, o governo "respeita os direitos democráticos dos cidadãos, de expressarem o descontentamento". Para ele, "o importante é ver o que devemos fazer para manter, sem desfalecimentos, a economia nigeriana; por forma criarmos oportunidades e trabalho para os nossos cidadãos". Defende que tanto o governo quanto os manifestantes lutam pela mesma causa: o país.

Enquanto as autoridades nigerianas tentam levar os sindicatos à mesa de negociações, as preocupações a nível internacional se fazem sentir. Várias capitais que seguem com atenção a situação na Nigéria pensam que o país sofre, na realidade, de um grande desequilíbrio social, injustificável num país que arrecada anualmente vários milhões de euros graças à exploração do petróleo.

Mas para o cidadão nigeriano, o grande problema do país é outro: "O que perdemos neste país com a corrupção, é cerca de quatro vezes mais do que a supressão da subvenção à gasolina, agora decretada. Se não falarmos da corrupção que é grave, então vamos fazer deste país um Estado ingovernável."

Thomas Mättig também acredita que outras razões estão por trás das violentas manisfestações: "O aumento do preço da gasolina é um pretexto. Na realidade existe uma grande insatisfação em relação ao governo"

A Nigéria é o maior produtor de petróleo de ÁfricaFoto: AP

População perde confiança no governo

Na opinião de Mättig, isto acontece porque o país ganha muito dinheiro e a população diz que não sabe para onde vai esse dinheiro. Eles lamentam a inexistência de infraestruturas, por exemplo. E nesta crise do combustível, os sindicatos preconisaram que o governo reveja a gestão das receitas e melhore as infraestruturas, muito mais do que suprimir a subvenção.

O representante da fundação alemã revela ainda que a Nigéria arrecada muito dinheiro, como na exportação de cerca de 2,5 milhões de barris de petróleo por dia. "E o dinheiro é simplesmente desviado ou roubado pelas elites". Mättig, tal como cidadão nigeriano, está certo que a corrupção é o "calcanhar de aquiles".

Mas o ministro nigeriano das Finanças, Ngozi Okonjo-Iweala, defende-se das acusações com apelos conciliatórios à população nigeriana: "Queremos acabar de uma vez por todas com os velhos hábitos e não permitir mais que o dinheiro continue a ser desviado. Dêem a este governo a possibilidade de provar que pode gerir o dinheiro de forma transparente."

Mas observadores notam que os nigerianos, há muito tempo, perderam a confiança nos líderes, incluindo no próprio presidente Goodluck Jonathan.

Autor: Thomas Moesch/António Rocha/Agências
Edição: Nádia Issufo/Bettina Riffel

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