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Greve na saúde fez mais de 1000 mortos: Verdade ou mentira?

23 de maio de 2024

O anúncio de mais de 1000 mortos na sequência da greve na saúde em Moçambique causa alarme. As autoridades não confirmam os dados divulgados pelos grevistas e acusam-nos de "inventar dados".

Mosambik Nampula | Krankenhaus
Foto: Sitoi Lutxeque/DW

As consequências da greve no setor de saúde em Moçambique, reportadas pela Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), são assustadoras.

O presidente, Anselmo Muchave, garantiu: "Até segunda-feira, tínhamos cerca de 1000 óbitos, [pacientes] que perderam a vida por não terem sido antendidos. Acredito que temos estatísticas que não foram feitas desde lá, de domingo, até hoje não fizemos levantamento total, mas estamos a fazer o levantamento do que está a acontecer nas unidades sanitárias."

MISAU: "São dados mais ou menos criados"

Quem contesta esses números é o Ministério da Saúde (MISAU. O gabinete de comunicação, na voz de Nelson Belarmino, contrapõe: "O Ministério da Saúde não confirma, são dados mais ou menos criados, não sei com que base se referem a esses dados".

E o MISAU vai mais longe ao questionar a postura dos grevistas em relação as vítimas da paralisação, afirmando "que o MISAU repudia e estranha que profissionais de saúde, que têm o dever de promover a saúde, estejam a vangloriar-se por mortes."

Anselmo Muchave, presidente da APSUSMFoto: Romeu da Silva /DW

 

Questionado sobre as fontes dos números que divulgam e a sua autenticidade, Anselmo Muchave recorre ao conhecimento que tem do terreno e aos informes de colegas das diversas unidades. Para dissipar dúvidas, o grevista sugere uma análise comparativa e aponta o dedo acusador ao MISAU:

"Já há muito tempo que os dados das unidades sanitárias são ocultados. Então, trazemos a realidade. Acredito que, se o MISAU quiser trazer a realidade, tem de ser com estatísticas reais. Eu sou profissional de saúde e sei aquilo que acontece nas unidades sanitárias, porque há muitos óbitos que são ocultados", acusa.

A greve por melhores condições de trabalho, melhores salários e também melhores condições para os pacientes arrancou a 24 de abril, a nível nacional. As províncias mais afetadas pela greve são Sofala e Inhambane, diz a APSUSM, embora sem avançar números.

Aliás, no geral, os números por eles avançados são desacreditados pelo Governo: "Mesmo o número das unidades sanitárias que dizem que Moçambique têm, houve uma comunicação em que falaram de 3 mil e tal unidades, o país não tem esse número, tem metade disso. Mesmo o número de profissionais que estão a aderir a greve [não é real], se não os hospitais estariam parados, se os números fossem os que eles reportam."

Denúncia de precariedade

E os grevistas garantem: "Caso o Governo não nos responda, continuaremos, mas com uma decisão: fechar os serviços mínimos. Mas esperamos que dentro de dias, como o Governo está preocupado e estamos a dialogar, voltemos ao serviço com zelo e atenção"

Para Anselmo Muchave, a batalha já parece ter valido a pena por um motivo: a greve fez com o Governo olhasse para pontos que não olhava antes: as precárias condições nas unidades sanitárias, que o grevista denuncia.

"Os medicamentos nas unidades sanitárias, três pessoas que ocupam uma única cama nas materninades, ambulâncias que não têm combustíveis para as transferências de pessoas em casos de emergência, nem têm material de emergência, sem oxigénio. Muitas pessoas morrem por falta de cuidados", enumera Muchave.

E a greve mobilizada pelo APSUSM têm a solidariedade da Associação Médica de Moçambique (AMM), que considera justas as suas reivinciações.

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