Universidades públicas da África do Sul uma semana em greve
Milton Maluleque (Joanesburgo)
29 de setembro de 2016
Várias universidades públicas sul-africanas têm sido palco de protestos de estudantes contra o aumento das propinas. As manifestações acabam muitas vezes em confrontos entre os estudantes e as forças de segurança.
Foto: DW/M. Maluleque
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Há uma semana que universidades em Joanesburgo, na Cidade do Cabo ou em Durban têm sido palco de protestos de estudantes contra o aumento das propinas no próximo ano até ao máximo de 8%. As associações de estudantes de quase todas as instituições de ensino superior do país já solicitaram uma moratória da subida das propinas até que o Governo declare o ensino universitário gratuito.
As manifestações acabam muitas vezes em confrontos entre os estudantes e as forças de segurança, que têm utilizado gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes.
Hélio Inguane tem de regressar a Moçambique. O estudante moçambicano não consegue entrar no campus da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, onde está a fazer o mestrado.
Witwatersrand é o epicentro dos protestos dos estudantes contra o aumento das propinas. É impossível ir às aulas: "Há avaliações que ficam sem data marcada. Noutra vertente, estudantes de pós-graduação, quer de mestrado ou doutoramento, têm de submeter uma publicação ou alguns documentos à Universidade, mas a Universidade, estando fechada, não há como cumprir com os prazos. Academicamente é uma situação complicada..."
29.09 Protestos na África do Sul - MP3-Mono
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Por isso, Hélio Inguane tem de regressar a Moçambique, como fizeram os seus compatriotas - para evitar o pior.
Estudantes protestam há uma semana
Há uma semana que os estudantes da África do Sul protestam, exigindo ao Executivo que cancele a subida das propinas. Em outubro do ano passado, os estudantes conseguiram que o Governo suspendesse um aumento e, este ano, voltaram a protestar. Uma funcionária da Universidade de Witwatersrand morreu durante as manifestações. Em todo o país, dezenas de pessoas foram detidas após confrontos com as forças de segurança. Vários edifícios foram danificados.
Segundo Anderson Fernandes, um estudante angolano na Universidade da Cidade do Cabo:
"Uma das vezes que os alunos estão a fazer a greve, privam-nos de assistirmos as aulas, porque as aulas são canceladas normalmente, por causa das agressões físicas que eles fazem a quem estiver a assistir aula, ou o vandalismo que eles fazem na escola."
Esta greve está a preocupar o presidente do Congresso de Estudantes e Comunidade Angolana na África do Sul, Manuel Panzo, mas não só.
Hélio Inguane, estudante moçambicano na África do SulFoto: DW/M. Maluleque
Bolseiros angolanos e moçambicanos enfrentam problemas
Panzo também está preocupado com relatos de que estudantes de Angola não estão a receber a bolsa há vários meses, devido à crise económica no país.
Segundo o responsável, alguns bolseiros terão sido despejados das residências por não pagarem as rendas. Alguns terão mesmo sido obrigados a regressar a Angola.
"Os rapazes foram para a Embaixada, levaram malas, etc, para reivindicarem para a Embaixadora fazer qualquer coisa, mas a Embaixadora não aceitou falar com os rapazes, mandou securitas, ameaçou chamar a polícia. Mas, como há aquele problema em Angola: se você desafia o Governo podes ser morto ou pode ser preso quando voltas. Então, os rapazes depois desistiram daquilo."
A DW África tentou contactar a Embaixada angolana na África do Sul a respeito deste assunto, mas não foi possível obter uma reação.
Soweto: a profunda transformação de uma cidade
Soweto era apenas um símbolo do apartheid, mas hoje é considerada um exemplo do vibrante urbanismo sul-africano. 40 anos depois da violenta revolta na "cidade-dormitório" Soweto transformou-se numa atração turística.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Futebol e liberdade
"Soccer City"- hoje denominado "FNB Stadium" - é considerado o "coração do futebol sul-africano". O gigantesco complexo desportivo foi construido para o mundial de 2010, mas antes já existia aqui um estádio. Foi precisamente aqui que, em 1990, milhares de sul-africanos aplaudiram a libertação de Nelson Mandela da prisão. Em 2013 teve lugar aqui o funeral do primeiro presidente pós-apartheid.
Foto: picture-alliance/Zuma Press
A casa de um herói
Em Soweto vivia a classe trabalhadora, assim como muitos ativistas anti-apartheid, incluindo o próprio Nelson Mandela, que morou num dos apartamentos construidos pelo governo para os operários negros. Estas casas eram conhecidas por "matchbox houses" - caixas de fósforos - devido ao seu reduzido tamanho. "Foi a minha primeira casa e eu orgulhava-me dela", escreveu Mandela na sua autobiografia.
Foto: Getty Images/C. Furlong
Da sala de aulas diretamente para a luta!
As históricas revoltas do Soweto surgiram praticamente nas escolas da cidade. Em 1976 milhares de estudantes e alunos iniciaram os seus protestos contra o ensino obrigatório de Afrikaans, a língua oficial do regime de apartheid. A revolta estudantil do Soweto constitui um marco importante no declínio e derrube do sistema de apartheid.
Foto: AFP/AFP/GettyImages
Enorme centro comercial
"Maponya Mall" é um dos maiores centros comerciais da África do Sul. Esta megaloja foi inaugurada em 2007 por Mandela. Os promotores do projeto prometiam a criação de muitos postos de trabalho e conseguiram mesmo. Mas muitos pequenos comerciantes também se queixaram da concorrência. Richard Maponya, um dos primeiros milionários negros da África do Sul e promotor do projeto, mora também em Soweto.
Foto: picture-alliance/robertharding/I. Trower
Fúria e violência
Milhares de estudantes negros invadiram as ruas de Soweto: foi o tiro de partida para a luta contra o regime de segregação racial, o início da longa marcha contra o apartheid na África do Sul. No dia 16 de junho de 1976 cerca de 176 jovens foram mortos pelas forças de segurança que dispararam sobre os manifestantes que recusavam abandonar os protestos.
Foto: AFP/Getty Images
o "glamour" de uma central elétrica
As torres "Orlando Towers", que faziam parte de uma central elétrica a carvão, encontram-se agora cobertas de desenhos alusivos à cultura dos "townships". A central fora construida nos anos 30 para fornecer eletricidade aos bairros brancos e ao centro da cidade de Joanesburgo. Enquanto isso o papel dos negros era trabalhar nas minas de carvão que forneciam o combustível para a central.
Foto: picture-alliance/WILDLIFE/M. Harvey
Cultura e cor
O primeiro teatro do Soweto abriu em 2012. O edifício é de uma arquitetura extrovertida e o seu programa não é menos arrojado. Quem assiste às peças aqui apresentadas consegue obter uma boa impressão de como a cidade e a sociedade mudaram nos últimos decénios. O teatro foi construindo com dinheiros públicos.
Foto: Getty Images/AFP/S. de Sakutin
Imagens que perduram
Entre os primeiros a perderem a vida durante as revoltas de 1976 estava o jovem Hector Pieterson, de 13 anos, que foi abatido por uma bala policial. A fotografia de um jovem local a carregar o corpo de Hector foi publicada, no dia seguinte, por inúmeros jornais, um pouco por todo o mundo. E assim aumentou a sensibilidade, um pouco por todos os países, perante as atrocidades do sistema racista.
Foto: Imago/imagebroker
A estrada mais célebre da África do Sul
A única estrada do mundo que chegou a albergar dois prémios Nobel: Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu chegaram ambos a morar na Vilakazi Street, em Soweto. Hoje esta rua é uma importante atração turística na África do Sul. Mais de 700mil turistas visitam anualmente as "South Western Townships".
Foto: Getty Images/C. Somodevilla
A luta continua
Muito dinheiro foi investido na transformação do Soweto e a transformação é bem visível: de um gueto para um bairro da moda e atração turística! Mesmo assim muitos habitantes sentem-se desiludidos: a pobreza teima em persistir. A educação continua deficitária. Muitos dizem que a luta está longe de estar acabaca e que há um longo caminho ainda para percorrer.