Grupo dissidente assalta centro de saúde em Gondola
Lusa | ms
15 de julho de 2020
Homens armados, que a polícia moçambicana suspeita pertencerem à Junta Militar da RENAMO, assaltaram esta terça-feira um centro de saúde no distrito de Gondola, na província central de Manica, onde roubaram medicamentos.
Publicidade
O assalto ocorreu durante a madrugada no posto administrativo de Chipindaumue e o grupo terá saqueado medicamentos diversos, depois de ameaçar os profissionais de saúde que se encontravam no local, disse à Lusa Mário Arnança, porta-voz da Polícia da República de Moçambique em Manica.
"Reforçámos a segurança no local e há uma equipa da polícia ainda a trabalhar", disse a mesma fonte oficial, avançando que não houve registo de vítimas.
A autoproclamada Junta Militar da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) é liderada por Mariano Nhongo, ex-dirigente da guerrilha, e é acusada de protagonizar ataques visando forças de segurança e civis em aldeias e nalguns troços de estrada da região centro, tendo causado, pelo menos, 24 mortos desde agosto do ano passado.
O enviado pessoal do secretário-geral da Organização das Nações Unidas a Moçambique, Mirko Manzoni, disse, em junho, que já tentou conversar com Mariano Nhongo, mas não teve sucesso.
Moçambique: Desmobilizados da RENAMO vivem com medo
02:52
"Mariano Nhongo é inflexível e todas as aproximações com vista a um entendimento fracassaram", disse na altura Mirko Manzoni, numa entrevista ao canal televisivo STV.
Entre várias revindicações, Nhongo exige a demissão do atual presidente da RENAMO, Ossufo Momade, acusando-o de ter desviado as negociações de paz dos ideais do seu antecessor, Afonso Dhlakama, líder histórico do partido que morreu em maio de 2018.
A RENAMO, principal partido de oposição de Moçambique, demarca-se das ações do grupo de Mariano Nhongo, classificando-o como um desertor e reiterando o seu compromisso com o acordo de paz assinado em agosto de 2019.
O processo de desmilitarização, desarmamento e reintegração do braço armado da RENAMO foi retomado em junho e vai envolver cerca de 5.000 membros do braço armado do maior partido da oposição no país.
Guerrilheiras da RENAMO aguardam paz e reintegração
A desmilitarização também se faz no feminino. As mulheres estão prontas para entregar as armas, assegura a Liga Feminina da RENAMO, e aguardam com expetativa a reintegração nas forças governamentais.
Foto: DW/M. Mueia
Na expetativa do acordo
Muitas mulheres na RENAMO são guerrilheiras e aguardam a sua reintegração social. Estão interessadas em entregar as armas e exercerem outras atividades profissionais. Esperam pelo acordo final entre as principais partes envolvidas no processo de deliberação, neste caso as bancadas parlamentares da RENAMO e A FRELIMO.
Foto: DW/Marcelino Mueia
O aguardado regresso à vida civil
Teresa Abdul, da província do Niassa, começou a combater quando tinha apenas 14 anos. Aguarda o desarmamento e o regresso à vida civil com muita expectativa. “Este processo é muito melhor. Temos muitas pessoas que passaram pela guerra, lutaram, mas até agora não estão a ser reintegradas nos seus lugares, é triste. Caso este processo ocorra, estaremos agradecidos porque todos estarão na linha”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Luta de quase quatro décadas
As mulheres do maior partido da oposição comemoraram o 38º aniversário da criação da Liga Feminina a 5 de Julho de 2018. As celebrações a nível nacional tiveram lugar na província moçambicana da Zambézia, juntando representantes do partido oriundos maioritariamente das províncias.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Que se cumpra o acordo feito com Dhlakama
Albertina Naene, ex-guerrilheira, ingressou nas fileiras militares da RENAMO com apenas 13 anos. Hoje, com 46, apela ao Presidente para prosseguir com os acordos de cessação definitiva das hostilidades militares."O Governo da FRELIMO está a atrasar o processo. Deveria cumprir o que ficou acordado com o presidente Dhlakama. Queremos que aqueles nossos irmãos saiam para virem conviver connosco”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Encontros para motivar e mobilizar apoiantes
A morte do líder da RENAMO não significa o fim do regime partidário. As autoridades políticas da RENAMO na província da Zambézia, têm mantido encontros constantes depois da morte de Afonso Dhlakama. Os encontros não visam apenas traçar planos de atividade para as delegações distritais e membros do partido, também servem para motivar os seus simpatizantes e eleitores.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Maria Inês Martins - presidente da Liga da Mulher da RENAMO
Para a presidente da Liga da Mulher da RENAMO, a integração dos guerrilheiros nas forças governamentais podia começar pelos que, depois dos acordos de paz de 1992, foram integrados e depois afastados “sem justa causa”. “Foram desmobilizados e despromovidos, a outros foram dadas reformas compulsivas. Esta seria uma prova de que o Presidente Nyusi está disponível para cumprir o que acordaram".
Foto: DW/M. Mueia
O desejo de uma vida em paz
Populares querem paz, para continuar a produzir comida, dizem as vendedeiras ao longo da estrada EN1 em Malei, distrito de Namacurra, na Zambézia. Apesar da zona não ter sido afetada pelo conflito no ano passado, algumas vendedeiras dizem que
temiam a situação. Dormiam em prontidão, com malas preparadas para abandonarem as suas casas, em caso de conflito.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Partido "envelhecido"
A RENAMO, continua a ser um partido político com muitos membros idosos. De acordo com o politólogo Ricardo Raboco, a derrota da RENAMO nos pleitos eleitorais está também associada a este fator. Mas o politólogo também opina que, em Moçambique, os mais velhos são mais fiéis à RENAMO e poucos emigram para outras formações políticas. E há cada vez mais idosos a filiar-se pela RENAMO.