Combates entre milícias cristãs e muçulmanas causaram, esta semana, pelo menos 22 mortos (11 civis), e obrigaram 10 mil pessoas a fugir, anunciou, este sábado (20.05), anunciou a MINUSCA.
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Os "atos de violência atroz cometidos por grupos armados, durante a última semana, mataram dezenas de homens, mulheres e crianças inocentes, privando famílias das suas casas e cidadãos dos seus meios de subsistência", afirmou a vice-chefe da missão das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA), Diane Corner. Além das 22 vítimas mortais, 36 pessoas ficaram feridas.
Aumenta a preocupação em relação à espiral de violência sectária, que chega a lugares que tinham sido poupados de confrontos em 2013. Os confrontos opõem grupos maioritariamente muçulmanos, da antiga milícia rebelde Seleka que derrubou o Presidente François Bozizé em 2013, e milícias cristãs anti-balaka.
Os confrontos concentraram-se, na sexta-feira (19.05), no aeroporto de Bria, no leste do país. Grupos armados saquearam e incendiaram casas numa área em que se encontram baseadas a maior parte das organizações de ajuda humanitárias e pilharam um armazém. Os funcionários tiveram de procurar refúgio na base das Nações Unidas, para onde já fugiram cerca de 10 mil pessoas, segundo a MINUSCA.
Os grupos armados atacaram também um local de culto e edifícios governamentais, acrescentou a organização Médicos Sem Fronteiras.
A situação em Bria é "calma, mas imprevisível", afirmou o porta-voz MINUSCA, Herve Verhoosel. Por isso, capacetes azuis foram enviados para pontos chave daquela localidade.
Bria foi palco de confrontos em novembro. Mas o novo surto de violência começou na última terça-feira (16.05).
Desde o passdo dia 8 de maio, mais de 150 pessoas morreram na República Centro-Africana, incluindo seis capacetes azuis, em ataques na zona sudeste na localidade de Bangassou, no sul de Alinadao e em Bria, segundo a MINUSCA. A missão da ONU reforçou, por isso, também a presença em Bangassou e Alinadao.
A situação na capital, Bangui, permanece tensa. Vários estabelecimentos no bairro muçulmano PK5 mantiveram-se fechados, na sexta-feira (19.05), em protesto contra a violência em Bangassou, que incidiu sobretudo sobre muçulmanos.
Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Aqueles que podem, fogem. Aqueles que permanecem, lutam todos os dias pela sobrevivência.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Refúgio no aeroporto de Bangui
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Milícias cristãs e muçulmanas promovem amargos combates. Um milhão de pessoas estão em fuga. Quase todos os muçulmanos deixaram a capital, Bangui. Entre os que permaneceram, algumas centenas encontram abrigo num velho hangar do aeroporto.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Perder tudo
O marido de Jamal Ahmed tinha guardado dinheiro suficiente para a fuga de sua família, quando as milícias cristãs chamadas "Anti-Balaka" invadiram sua aldeia natal. As poucas economias não foram suficientes - ele pagou com a vida. Jamal Ahmed vive no acampamento que surgiu no aeroporto: "Não conheço ninguém aqui. Não tenho mais nada. Não sei como será daqui para a frente.”
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ver os netos mais uma vez
Aos 84 anos, Fatu Abduleimann está entre os moradores de idade mais avançada do campo de refugiados do aeroporto. Nas últimas décadas, Fatu assistiu a muitas dificuldades em sua terra natal. Mas nunca foi tão ruim quanto agora, diz a idosa. Seu único consolo: a maioria dos seus filhos conseguiu fugir para o Chade. Seu maior desejo: "ver os meus netos mais uma vez."
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Quilómetro Cinco, uma cidade fantasma
Exceto o acampamento de refugiados no aeroporto, quase todos os muçulmanos deixaram a cidade. Há alguns meses, o chamado "Quilómetro Cinco" era um animado centro da comunidade muçulmana. Mais de 100.000 pessoas moravam e trabalhavam aqui, a cinco quilómetros do centro da capital, Bangui. Agora, restaram apenas algumas centenas de pessoas. As lojas estão fechadas até nova ordem.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Esperar o momento certo
Quase todos os muçulmanos que ainda restam no "Quilómetro Cinco" querem apenas uma coisa: sair daqui. Os caminhões para a fuga estão prontos. Eles esperam que um comboio tenha como destino os países vizinhos como os Camarões ou o Chade.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
A cidade de campos de refugiados
Não apenas os muçulmanos temem por suas vidas. Por toda a cidade de Bangui pode-se encontrar acampamentos provisórios em que a maioria da população, cristãos e animistas, procura proteção - por medo de um retorno das milícias islamistas ou simplesmente porque não têm o que comer - e espera por doações de alimentos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ajuda sobrecarregada
O Pastor David Bendima recebeu, na sua igreja, mais de 40 mil pessoas que fugiram dos combates no centro da cidade. Mas ele também não pode garantir-lhes segurança suficiente. "Todas as noites ouvimos tiros e granadas explodindo. As pessoas estão com muito medo", diz o pastor. Ele parece cansado.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Últimas reservas
Chancella Damzousse, de 16 anos, vive em uma aldeia a meia hora de distância de Bangui. Ela prepara o jantar. "Tudo o que resta são alguns grãos de feijão e um pouco de gergelim", diz a jovem. 15 pessoas terão que se satisfazer com a refeição. Desde que milícias muçulmanas destruíram o lugar há alguns meses e mataram muitos cristãos, a família de Chancella recebeu vários vizinhos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Vítimas, autores, centinelas
Ao lado da casa de Chancella, há um guarda da milícia Anti-Balaka. Os amuletos em seu corpo o tornam invulnerável contra balas, explica ele. A milícia tomou o controle da região. Seu trabalho é proteger os moradores da aldeia do ataque de outros rebeldes. No entanto, a sua proteção aplica-se apenas aos cristãos - há muito tempo os muçulmanos deixaram o local ou foram mortos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Presença internacional
Sete mil soldados da União Africana e da França têm a responsabilidade de garantir a segurança no país dilacerado. A situação humanitária está piorando a cada dia, no entanto. Em 1 de abril, a União Europeia lançou oficialmente a sua operação militar na República Centro-Africana, com um contingente de até mil homens para reforçar as tropas francesas e africanas por um período de até seis meses.