Grupos exigem libertação de queniano detido no Qatar
AFP
29 de maio de 2021
Grupos de direitos exigem que autoridades do Qatar revelem paradeiro de um guarda de segurança queniano "desaparecido à força", depois de ter escrito um blogue a criticar as condições de trabalho dos migrantes.
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O queniano Malcolm Bidali, sob o seu pseudónimo Noah, publicou uma série de artigos sobre a situação dos estrangeiros que trabalham no país anfitrião do Mundial de 2022, incluindo sobre vastos projetos de construção para o torneio de futebol.
Numa declaração, os grupos de direitos, que incluem a Amnistia Internacional, Human Rights Watch, Migrant-Rights.org, FairSquare e o Business and Human Rights Resource Centre, exigiram que Bidali fosse libertado "imediatamente".
"Mais de três semanas após o desaparecimento forçado do sr. Bidali pelos serviços de segurança do Estado, as autoridades continuam a recusar-se a revelar o seu paradeiro ou a explicar porque foi detido", disseram os grupos numa declaração conjunta.
Um funcionário do governo do Qatar confirmou, no início deste mês, que Bidali tinha sido detido.
Os grupos de direitos disseram que ele "parece ter sido detido pelo exercício pacífico dos seus direitos humanos", notando que a sua apreensão da sua casa a 4 de maio pelas forças de segurança do Estado ocorreu "apenas uma semana" após um "ataque virtual" [phishing, técnica de engenharia social usada para enganar usuários e obter informações confidenciais como nome de usuário, senha e detalhes do cartão de crédito].
"O desaparecimento forçado é um crime à luz do direito internacional", acrescentaram os grupos.
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Tortura
A declaração acrescenta, que durante um telefonema que lhe tinha sido permitido fazer a 20 de maio, Bidali disse à sua mãe que embora não tivesse sido ferido fisicamente, estava detido em solitária, 23 horas por dia.
O relator especial da ONU sobre tortura no ano passado definiu 15 dias consecutivos ou mais de prisão solitária como uma forma de tortura, acrescentaram os grupos de direitos.
As organizações internacionais têm frequentemente criticado o Qatar pelo tratamento das suas centenas de milhares de trabalhadores estrangeiros, na sua maioria oriundos de África e da Ásia, embora o país tenha reformado alguns regulamentos laborais em resposta a tais críticas.
Um oficial do Qatar disse no início deste mês que Bidali tinha sido "colocado sob investigação por violar as leis e regulamentos de segurança do Qatar".
Mas, os grupos de direitos disseram, até que a sua "localização seja revelada e até que seja levado perante um tribunal para enfrentar acusações reconhecíveis ou seja libertado, a sua detenção continua a constituir um desaparecimento forçado".
FIFPRO, o sindicato global de futebolistas, disse na semana passada estar "preocupado" com a detenção de Bidali que, "uma semana antes da sua prisão, falou aos funcionários do sindicato sobre as suas experiências de trabalho" no Qatar.
Amnistia Internacional celebra 60 anos
Desde a defesa de prisioneiros políticos até ao lobby contra o controlo global do comércio de armas, a iniciativa de um advogado transformou-se na maior rede de ativistas dos direitos humanos no mundo.
Foto: Getty Images/AFP/L. Neal
Amnistia para prisioneiros esquecidos
Em 1961, o ditador de Portugal ordenou a prisão de dois estudantes por terem feito um brinde à liberdade em público. Afetado pela notícia, o advogado Peter Benenson escreveu um artigo que teve um impacto global: pediu apoio para as pessoas perseguidas pelas suas convicções. Isso levou à criação da Amnistia Internacional, uma rede global que faz campanhas contra as violações dos direitos humanos.
Foto: Miguel Riopa/AFP/Getty Images
Campanhas para salvar vidas
O objetivo inicial da Amnistia Internacional era a defesa dos prisioneiros políticos não violentos. Uma longa lista de ativistas, desde o sul-africano Nelson Mandela ao russo Alexei Navalny, já receberam o apoio da Amnistia Internacional como "presos de consciência". A organização logo expandiu o seu foco para protestar contra a tortura e a pena de morte.
Foto: Getty Images/S. Barbour
Cruzada contra a tortura
Nos anos 70, quando a organização lançou a sua primeira campanha global contra a tortura, forças armadas em todo o mundo utilizaram-na, em muitos casos, contra os prisioneiros políticos. Mas as campanhas do grupo também contribuíram para uma tomada de consciência que ajudou a promover a criação de resoluções da ONU contra o uso da tortura, que foram agora assinadas por mais de 150 países.
Foto: Tim Sloan/AFP/Getty Images
Crimes de guerra
A Amnistia Internacional baseia as suas campanhas em provas obtidas por ativistas. Nas zonas de guerra, onde os civis são mais vulneráveis aos exércitos e às milícias, é necessária documentação das violações dos direitos humanos para responsabilizar os criminosos. A organização manteve um registo público que comprovou crimes de guerra russos, sírios e da coligação liderada pelos EUA na Síria.
Foto: Delil Souleiman/AFP/Getty Images
Acabar com o comércio de armas
A Amnistia Internacional procura impedir que as armas cheguem às zonas de guerra, onde muitas vezes são utilizadas contra civis. Embora um tratado internacional imponha regras destinadas a regular o comércio internacional, a compra e venda de armas continua a aumentar. Entre os maiores exportadores, a Rússia e os EUA não ratificaram o tratado e muitos outros não o cumpriram.
Foto: Chris J Ratcliffe/Getty Images
Campanha pelo aborto legal e seguro
As campanhas da Amnistia Internacional também abrangem a igualdade de género, os direitos das crianças e o apoio à comunidade LGBT. Mas Governos e figuras religiosas já criticaram a organização por defender o acesso ao aborto. Na foto, ativistas argentinos colocaram ramos de salsa e ervas, usadas para induzir abortos, às portas do Congresso Nacional, em Buenos Aires.
Foto: Alejandro Pagni/AFP/Getty Images
Uma rede internacional em expansão
Desde o seu início, na década de 1960, a Amnistia Internacional cresceu e transformou-se numa ampla rede global de ativistas que, além de participarem em campanhas de solidariedade global, trabalham para combater as violações locais dos direitos humanos. Com milhões de membros e apoiantes, a organização tem ajudado a poupar da morte e da detenção milhares de prisioneiros por todo o mundo.