Guerra ameaça economia de Moçambique
23 de outubro de 2013O clima de tensão em Moçambique, culminou na última segunda-feira (21.10) com o assalto das tropas governamentais à base de Satunjira, na Gorongosa, onde o líder do maior partido da oposição, a RENAMO, Afonso Dhlakama, tinha fixado a sua residência há um ano. Dhlakama encontra-se desde então em parte incerta.
A população moçambicana está a seguir com muita preocupação o evoluir da situação e questiona-se que genéro de repercurssões terá esta crise política para outros domínios nacionais. Entrevistados pela DW África, os analistas moçambicanos temem que o atual clima de tensão possa contribuir negativamente para a economia nacional, retraindo o investimento estrangeiro e encarecendo os preços dos produtos no mercado interno.
O Presidente da Associação moçambicana dos Economistas, Joaquim Tobias Dai, considera que a deterioração da situação política no país poderá ter implicações indirectas muito fortes na economia.
Joaquim Dai relembra que o empresário investe quando sente que há maior probabilidade de retorno do seu capital. "Quando está em risco a execução do seu investimento normalmente ele sente-se mais retraído". Garante que os investidores que já trabalham no e com o país, "estão a trabalhar", mas "naturalmente também têm os seus receios. O país sente-se hoje numa situação que já não se sentia há muito tempo", destaca Tobias Dai.
Risco de interrupções de investimento
Já o analista Egídio Vaz, alerta para o risco de diversas interrupções nos investimentos, "por exemplo no escoamento do carvão, suspensão de todo o processo de prospeção mineira, interrupção de escoamento de produtos do porto da Beira, nomeadamente para o Malawi, para a Zambia e para o Zimbabué". Nos corredores de transportes também aceita que possam ocorrer interrupções, nomeadamente no "tráfego ferroviário entre Moçambique e a África do Sul".
Os operadores, segundo Joaquim Tobias, seguem com preocupação os acontecimentos e temem que "se não venderem, não conseguirão rentabilizar o seu negócio". Para Tobias Dai a segurança dos investimentos tem que ser garantida. "É preciso ter a garantia de que os negócios vão ser feitos da forma mais tranquila possível".
E Egídio Vaz, fala ainda de outras implicações que poderão resultar da deterioração da situação política.
"A interrupção de todos os processos de investimento", tanto os que já estão em curso como os potenciais. Destaca que é possível que o "acesso aos produtos seja encarecido como resultado da interrupção da circulação de bens a nível nacional com as pessoas a terem medo de serem atacadas, por exemplo".
O medo do ataque
No que concerne à possibilidade de ataques, Vaz relembra que também o sistema de seguro poderá aumentar a tarifa dos seus serviços. "E com isto encarece toda a cadeia de produção e quem sofre são os cidadãos", diz o analista.
O presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique, que agrupa o setor privado, Rogério Manuel, afirma que o sector económico "está sendo penalizado com esta onda" de tensão. "É um retrocesso para o país e eu acho que o Governo e a RENAMO deviam-se sentar e resolver isto, porque quem sai prejudicado é também o setor privado", afirma o presidente da Confederação.
Já Joaquim Tobias Dai, sublinha ser necessário o restabelecimento da tranquilidade no país, "para que os investidores saibam que podem circular à vontade sem qualquer tipo de complicações ou surpresas desagradáveis para o seu plano de negócios".