O nordeste da República Democrática do Congo tem vindo a ser afetado por violentas guerras civis e étnicas. Como se não bastasse, a mesma região foi também afetada por um surto de ébola.
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O Conselho de Segurança das Nações Unidas lançou o alerta para o risco que o surto de ébola na República Democrática do Congo (RDC) representa para a população do país e também para a estabilidade em toda a região.
O Conselho de Segurança apelou para que fosse garantido o acesso do pessoal humanitário e médico a todas as áreas do país, em segurança e sem impedimentos.
A cidade de Bunia, no nordeste da RDC, é uma das zonas afetadas duplamente no país: tanto pela guerra civil, como pelo perigo de propagação do vírus do ébola.
Perto da cidade está um campo de refugiados sobrelotado. Centenas de milhares de pessoas vegetam aqui, depois de terem fugido das suas aldeias. São vítimas da cruel guerra civil que se trava nesta região. Tiveram que abandonar as suas casas. Agora, vivem em tendas e dependem de ajuda alimentar.
Além disso, teme-se que o vírus do ébola atinja o campo, depois de terem sido detetados vários casos na região.
Confrontos sem fim
"Vim para cá porque a nossa aldeia foi incendiada. Deixou de ser possível viver na nossa aldeia, pois a minha própria casa também ardeu", conta Jean-Pierre, um refugiado da província de Ituri, onde se registaram vários ataques na sequência dos confrontos armados entre as etnias Lendu und Hema.
Serge Lonema responsabiliza o Governo pelos confrontos, que parecem não acabar. As forças governamentais não se têm mostrado capazes de apaziguar as partes, afirma Serge: "Não confiamos nas autoridades. Quando pessoas pertencentes à etnia Hema foram massacradas, os soldados e a policia nada fizeram para conter a violência".
Guerra e ébola: Dupla ameaça no nordeste da RDC
Há quem diga mesmo que o próprio Presidente Joseph Kabila contribuiu para que o conflito se agudizasse, pois estaria interessado em distúrbios e instabilidade, para impedir a realização das eleições.
O mandato de Kabila terminou em 2016, mas novas eleições foram várias vezes adiadas. Entretanto, Kabila confirmou que iria respeitar a Constituição e retirou-se da corrida a um novo mandato, proibido por lei.
A decisão não terá sido voluntária, segundo observadores. Os Estados Unidos, mas também países vizinhos como Angola, terão pressionado Kabila para se retirar, como manda a lei. O delfim escolhido por Kabila chama-se Emmanuel Ramazani Shadary, que, na qualidade de ministro do Interior, terá sido responsável por inúmeras violações dos direitos humanos, sobretudo no nordeste do país.
Ébola continua a matar
Os problemas parecem não ter fim também na província do Kivu Norte, onde as autoridades sanitárias lutam contra um novo surto de ébola.
De acordo com dados fornecidos pela RDC, o surto provocou até ao momento 88 mortes e a doença já chegou à cidade de Butembo, um importante centro de comércio na região, com cerca de um milhão de habitantes.
Os primeiros casos confirmados em Butembo eram os de uma mulher e de um dos profissionais de saúde envolvidos no seu tratamento. A mulher morreu na quinta-feira (6.09), depois de fugir da cidade vizinha de Beni e "recusado cooperar com as autoridades de saúde depois de contrair a doença”, diz o Ministério da Saúde.
Este é o segundo mais recente surto de ébola na RDC, após o que ocorreu na província de Equador (noroeste), num país onde a doença é endémica, mas nunca tinha afetado duas áreas em conflito como atualmente.
Ébola: luta contra o vírus mortal
Apesar das medidas preventivas, algumas pessoas já se contaminaram com o vírus na Europa e Estados Unidos. Cuidadores utilizam trajes para prevenir a propagação, mas na África a proteção ainda deixa a desejar.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Woitas
Traje de proteção
Na luta contra o ebola, roupas de proteção adequadas para médicos e enfermeiros são essenciais. Toda a pele deve ser coberta com material impenetrável pelo vírus. Mas trajes apenas não bastam, também é necessário seguir corretamente as prescrições de segurança.
Trabalho em conjunto
Os profissionais de saúde devem treinar a colocação correta dos trajes protetores. Como aqui, na unidade especial de isolamento de Düsseldorf. Novos trajes são utilizados a cada vez, para que não haja risco de contaminação no processo. Dessa forma, cuidadores sem proteção também podem ajudar os colegas a se vestir.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Isolamento total
Os quartos dos pacientes na unidade de isolamento em Düsseldorf são completamente protegidos do mundo exterior. O ar é filtrado e as águas residuais são tratadas separadamente. As vestes de proteção, que os cuidadores trajam permanentemente, são pressurizadas. Essas medidas de segurança vão além do necessário: o ebola pode ser transmitido por objetos contaminados, mas não pelo ar.
Após o tratamento dos pacientes, todo o traje é aspergido por fora com desinfetante, a fim de eliminar potenciais contaminações viróticas. Somente após essa ducha as vestimentas podem ser removidas, cuidadosamente.
Foto: picture-alliance/dpa/Sebastian Kahnert
Ajuda externa
Durante a remoção dos trajes protetores, os profissionais de saúde devem ser extremamente cautelosos. Luvas de proteção permanentemente instaladas nas aberturas da câmara permitem ajuda externa sem contato direto com o traje. Após o uso, estes são imediatamente descartados e incinerados.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Enfermeiras contaminadas
Apesar dos altos padrões de segurança, , na Espanha e Estados Unidos três enfermeiras contraíram a doença. As circunstâncias da contaminação ainda não foram esclarecidas. As residências das profissionais (na foto, Texas) foram isoladas e desinfetadas após a descoberta do contágio.
Foto: Reuters/City of Dallas
Proteção em África
Agora, médicos e enfermeiros na África Ocidental também foram equipados com trajes protetores. No entanto, estes nem sempre obedecem as normas para uma proteção efetiva. Por vezes, pequenas áreas da pele ficam descobertas ou o material usado é permeável. Além disso, colocar e retirar o traje pode ser arriscado.
Foto: picture alliance/AP Photo
Isolando os mortos
Os funerais das vítimas do ebola também requerem cuidados extremos. Na África Ocidental, a tradição de os familiares de lavarem os corpos dos mortos resultou em numerosas novas infecções. Para família e amigos, costuma ser difícil compreender e acatar as rigorosas medidas de isolamento.
Foto: Reuters/James Giahyue
Isolamento em barracas
Numa região onde os cuidados médicos são extremamente precários, uma epidemia das atuais proporções representa um enorme desafio. Os infectados são tratados em barracas improvisadas, como se vê na foto feita na Libéria. No entanto, até mesmo um país como a Alemanha ficaria sobrecarregado nessas circunstâncias. No momento, há apenas 50 leitos nas unidades de isolamento alemãs.
Foto: Zoom Dosso/AFP/Getty Images
Incineração em vez de sol
Em algumas regiões afetadas na África Ocidental, os trajes contaminados são pendurados para secar ao sol, numa tentativa de desinfetá-los para reutilização. No entanto, é muito mais seguro as roupas serem imediatamente incineradas após o uso, como ocorre na Guiné. Escassez e altos custos dos trajes dificultam essa medida: as roupas de proteção custam entre 30 e 200 euros.
Foto: Cellou Binania/AFP/Getty Images
Controles nos aeroportos
As viagens aéreas são a maior ameaça na transmissão de longa distância do vírus. Por esse motivo, a temperatura dos passageiros está sendo monitorada em alguns aeroportos. Entretanto, o método não oferece garantia absoluta, já que o período de incubação do ebola é de 21 dias.