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PolíticaÁfrica do Sul

Ucrânia: África do Sul reitera posição "não-alinhada"

DW (Deutsche Welle) | Jana Genth | Lusa
15 de maio de 2023

O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, disse hoje que o seu país mantém uma posição "não-alinhada" em relação à guerra na Ucrânia, após o embaixador dos EUA ter acusado a África do Sul de fornecer armas à Rússia.

Südafrika Cyril Ramaphosa
Foto: Ihsaan Haffejee/AA/picture alliance

"A realidade é que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia e as tensões que lhe estão subjacentes não serão resolvidos por meios militares. Ele deve ser resolvido pacificamente", disse Cyril Ramaphosa, em comunicado.

Segundo o chefe de Estado, a África do Sul procura com esta posição neutral "contribuir para a criação de condições que tornem possível uma resolução duradoura do conflito", uma posição que em momento algum "favorece a Rússia em detrimento de outros países".

E também não quer pôr em causa as relações com outros países, acrescenta: "De acordo com a nossa posição relativamente a outros conflitos noutras partes do mundo, a África do Sul acredita que a comunidade internacional deve trabalhar em conjunto para conseguir urgentemente a cessação das hostilidades e evitar mais perdas de vidas e deslocações de civis na Ucrânia."

Ramaphosa disse ainda que teve reuniões com o Presidente norte-americano, Joe Biden, e com o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, para confirmar a posição de não-alinhamento da África do Sul.

Encontro entre Cyril Ramaphosa e Vladimir Putin em 2019, no BrasilFoto: Mikhail Metzel/ITAR-TASS/IMAGO

Desde o início da guerra na Ucrânia, a África do Sul tem estado "sob uma pressão extraordinária para abandonar a sua posição de não-alinhamento e tomar partido no que é, de facto, uma disputa entre a Rússia e o Ocidente", recordou ainda o Presidente sul-africano.

"Continuaremos a resistir aos apelos de qualquer lado para abandonar a nossa política externa independente e não-alinhada", acrescentou. 

A posição de neutralidade da África do Sul não está apenas ligada ao papel político e económico estratégico de Moscovo em alguns países africanos, mas também a razões históricas, como o apoio da Rússia aos movimentos anticoloniais e à luta contra o regime do apartheid.

O navio da polémica

A polémica surgiu depois de o embaixador dos Estados Unidos na África do Sul, Reuben Brigety, ter afirmado, numa conferência de imprensa em Pretória, que o país africano forneceu armamento à Rússia através do navio russo Lady R, que atracou na base naval de Simon's Town, na Cidade do Cabo, em dezembro de 2022. 

"Armar os russos é extremamente grave. E não consideramos que este problema esteja resolvido. E gostaríamos que a África do Sul praticasse a sua política de não-alinhamento", sublinhou o diplomata. 

Na semana passada, Cyril Ramaphosa disse que o seu Governo está a investigar as alegações do embaixador americano. "Estamos cientes das notícias que envolvem o navio. O assunto ainda está a ser analisado", disse apenas. A oposição não ficou satisfeita com esta resposta.

O navio russo Lady R atracou na base naval de Simon's Town, na Cidade do Cabo, em dezembro de 2022Foto: AP/picture alliance

Relações diplomáticas tensas

John Stupart, especialista em defesa do Africadefence.net, fala de um novo nível de acusações. "A alegação é muito séria. Os EUA não fazem esta acusação de ânimo leve através dos canais diplomáticos. Cabe à África do Sul dar respostas", sublinha.

As relações diplomáticas entre os EUA e a África do Sul estão cada vez mais tensas. Moeletsi Mbeki, diretor do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais, fala de uma crise de liderança no país.

"O verdadeiro problema é que o Presidente não tem controlo sobre o seu governo. Parece-me que Cyril Ramaphosa não controla o seu gabinete", acrescentou o especialista.

Entretanto, o embaixador dos EUA já disse que as suas palavras foram mal interpretadas. Reuben Brigety REVELOU que já falou com a ministra das Relações Internacionais e da Cooperação sul-africana, Naledi Pandor, para "corrigir qualquer má interpretação deixada" pelos seus "comentários públicos".

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