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Guerra na Ucrânia condiciona ajuda humanitária em Moçambique

Stélio Guibunda
15 de junho de 2022

A organização humanitária Oikos prevê "tempos difíceis" para os deslocados e desafios para Moçambique. Apostar nos recursos locais e na agricultura pode ser uma solução, diz o gestor Dinis Chembene em entrevista à DW.

Mosambik | Provinz Nampula | Vertriebene Kinder Opfer von Terrorismus
Foto: Roberto Paquete/DW

A guerra na Ucrânia está a aumentar a vulnerabilidade de muitas pessoas em África, que já passam por dificuldades. É o alerta do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Os preços dos cereais subiram por causa da queda nas exportações do país europeu. A situação já prejudica, inclusive, a ajuda humanitária aos deslocados em Moçambique.

Em entrevista à DW África, Dinis Chembene, gestor de programas na organização humanitária Oikos, prevê mais dificuldades para os deslocados em Moçambique. "É um cenário nada animador", caso o conflito ucraniano se prolongue por muito tempo, alerta.

DW África: Que implicações a crise na Ucrânia poderá trazer para a questão da ajuda humanitária aos deslocados em Moçambique?

Dinis Chembele (DC): Quando temos uma crise que acaba tendo repercussões globais como esta que temos na Ucrânia, há um impacto direto na vidas das populações vulneráveis, tendo em conta as pessoas que estão neste momento deslocadas, mas também nota-se que alguns doadores também terão que direcionar alguma da sua atenção para conflitos que acontecem noutros pontos do planeta. Então, isto tem um impacto direto na situação da disponibilidade e  ajuda para as populações aqui da província de Cabo Delgado e outros pontos de África.

Campanha de solidariedade para ajudar pessoas deslocadas no norte de Moçambique Foto: DW

DW África: Qual é o ponto de situação em relação à ajuda humanitária aos deslocados em Moçambique?

DC: Teremos tempos difíceis para os refugiados. No passado dia 5 de junho, por exemplo, testemunhamos ataques a distritos que nunca haviam sido antes atacados, como é o caso do distrito de Ancuabe. Isto está a levar a que o número de pessoas deslocadas e que precisam de ajuda aumente. É uma situação que nos próximos dias será um grande desafio para o país e para os deslocados.

DW África: E no caso da África, em especial para os países de língua portuguesa, qual é o grau de vulnerabilidade perante a esta crise?

DC: Olhando para a realidade do continente africano no geral e esta dependência que nós temos das importações, principalmente dos cereais e da falta de disponibilidade do trigo um pouco por todo o mundo devido a esta crise na Ucrânia, claramente que haverá repercussões em África. Por outro lado, esta crise está a influenciar no preço dos combustíveis e isso continuara a ser um desafio muito grande para África lusófona e para o continente africano no geral. 

Barcos atracaram na praia de Paquitequete em 2020, em Pemba, trazendo centenas de deslocadosFoto: DW

DW África: Que cenário prevê, caso esta guerra se prolongue por mais tempo?

DC: É um cenário nada animador, caso este conflito se prolongue por muito tempo. Países como Moçambique dependem em grande escala da importação de alguns cereais. Como sabemos, o pão é um alimento indispensável e é a principal de base na dieta alimentar dos moçambicanos. Então, a falta de pão poderá criar uma situação de fome e também esta questão dos preços dos combustíveis poderá acarretar mais custos de transporte e consequentemente dos produtos.

DW África:  Como é que se pode proteger as populações vulneráveis e que alternativas podem ser criadas para fazer face a esta situação humanitária?

DC: Temos de apostar nas potencialidades que temos a nível local. É um país rico e com terras muito férteis para a prática da agricultura. Há que trabalhar nesta questão de forma que o país não seja dependente da importação de alimentos porque temos condições agro-geológicas que bastem. Olhando para o país e as suas potencialidades não percebe porque ainda dependemos da importação de produtos agrícolas e de um ou outro cereal.

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