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ConflitosÁfrica do Sul

Guerra na Ucrânia: Países africanos "neutros e negociadores"

Thuso Khumalo | AP
24 de maio de 2023

Poderão os países africanos, particularmente a África do Sul, sofrer consequências económicas terríveis se os EUA concluírem que estão a ignorar as sanções impostas à Rússia por ter agredido a Ucrânia?

Russland/Südafrika Putin schüttelt Cyril Ramaphosa die Hand
Foto: SERGEI CHIRIKOV/AFP

A neutralidade da África do Sul na guerra Rússia-Ucrânia foi mais uma vez posta em causa depois da Ministra da Presidência, responsável pela segurança do Estado, Khumbudzo Ntshavheni, ter viajado para a Rússia para discutir, entre outros assuntos, a missão dos líderes africanos que procuram um acordo de paz entre Moscovo e Kiev.

Ntshavheni participará na Reunião Internacional de Altos Funcionários Responsáveis pelas questões de segurança, que decorre até amanhã (25.05), naRússia.

Brooks Spector, especialista em Relações Internacionais, diz que não há dúvida de que a visita da África do Sul à Rússia pode minar ainda mais a confiança dos Estados Unidos.

"Apesar dos protestos de neutralidade, tudo isto leva cumulativamente a um sentimento de desconforto para as pessoas que põem isso em causa. E parte do problema é que o governo sul-africano, juntamente com um grupo de outros Estados africanos, está a tentar posicionar-se como uma espécie de parte neutra e negociador que pode, de alguma forma, pôr fim ao conflito”, disse.

EUA acusaram a África do Sul de ter carregado armas de guerra nesse navio.Foto: Lev Fedoseyev/Tass/dpa/picture alliance

O navio russo e o silêncio da África do Sul

A reunião de segurança de alto nível tem lugar numa altura em que a África do Sul ainda não deu uma explicação aceitável sobre o que foi exatamente carregado no navio russo Lady R, que atracou em Simon's Town em dezembro do ano passado. Os Estados Unidos acusaram a África do Sul de ter carregado armas de guerra nesse navio e essa alegação ainda não foi contestada com fatos.

Uma declaração do gabinete da Ministra Ntshavheni descreveu a sua reunião em Moscovo como sendo de rotina, afirmando que se trata de discutir questões de segurança global. A segurança alimentar também está a ser discutida.

No entanto, no seu discurso ao parlamento durante a apresentação do orçamento do seu ministério, a Ministra Ntshavheni rejeitou as alegações de que o seu governo está a escolher a Rússia em vez da América.

"Cria-se a falsa impressão de que este governo adotou uma postura anti-EUA. Devo dizer claramente que temos acordos de cooperação com os EUA em áreas como a partilha de informações, formação, cibe segurança e combate ao terrorismo, entre outras”, declarou.

Guerra na Ucrânia: Qual a perspetiva africana?

03:51

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Erro diplomático

O partido da oposição sul-africana, a Aliança Democrática, descreveu a participação de Pretória na reunião de segurança russa como mais um erro diplomático.

Especialistas alertaram que a África do Sul sofrerá consequências económicas terríveis se os EUA concluírem que estão a ignorar as sanções impostas à Rússia por ter agredido a Ucrânia. Só em 2019, o comércio entre os dois países ascendeu a quase 18 mil milhões de dólares.

Também está em risco o acesso preferencial da África do Sul ao mercado dos EUA através da Lei de Oportunidades de Crescimento de África, que se estima ser da ordem dos 20 mil milhões de dólares americanos.

Escolher o melhor lado

A economista sul-africana, Alexandra Forbes, diz que a África de Sul deve escolher o lado que trará mais benefícios à sua economia:

"Se temos uma relação com os russos, é muito difícil dizer: "Amigo, estás numa situação difícil, vou desculpar-me para te facilitar a vida". Mas não me parece que seja assim que a política se desenrola... e como as coisas estão a correr, talvez tenhamos de ser forçados a escolher um lado. E, quando isso acontecer, penso e espero que seja um lado que seja economicamente benéfico para o país", disse.

Com a economia sul-africana em declínio, o desemprego, a pobreza e a desigualdade a aumentar, os especialistas dizem que o país deve refletir profundamente se as suas relações políticas e históricas com a Rússia valem a pena até ao ponto de quebrar os pilares económicos do país com os Estados Unidos.

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