Regime de Saddam Hussein foi derrubado há 15 anos pelos EUA e os seus aliados. Muitas perguntas sobre a guerra no Iraque continuam sem resposta. Uma das coisas que sabemos é que a invasão ao país foi baseada em mentiras.
Publicidade
As imagens da estátua de Saddam Hussein a ser derrubada, em Bagdade, difundidas pelos jornais e pela televisão, ficaram registadas na memória coletiva. Foi a 9 de abril de 2003, quase três semanas depois do início da invasão ao Iraque, liderada pelos Estados Unidos da América.
Até hoje, não se sabe ao certo quantas pessoas morreram na guerra. A maioria das fontes estima que o número de vítimas ronda os 150 mil a meio milhão de pessoas. Em 2006, a revista médica britânica "The Lancet" estimou mais de 650 mil "mortes adicionais", não só em resultado da violência, mas também do colapso das infraestruturas e do sistema de saúde.
O que sabemos de certeza é que a guerra foi justificada com mentiras. A 5 de fevereiro de 2003, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, discursou no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Seis semanas antes do início da guerra, Powell passou 76 minutos a tentar influenciar a opinião pública internacional a aprovar a guerra. E o chefe da diplomacia dos EUA alegou que Saddam Hussein possuía armas biológicas e químicas de destruição maciça; que o regime de Hussein apoiava o terrorismo internacional e pretendia construir armas nucleares.
"Laboratórios móveis de armas químicas"
O discurso de Powell culminou numa acusação, apoiada por ilustrações detalhadas, de que o Iraque havia convertido uma frota de camiões em laboratórios móveis de armas químicas e biológicas para fugir ao controlo dos inspetores das Nações Unidas. Mais tarde, todas essas afirmações foram dadas como falsas. Em 2005, o próprio secretário de Estado norte-americano descreveu o discurso como uma mancha na sua carreira.
"Os dados não estavam errados. Eram, sim, fraudulentos - e eles sabiam disso", afirma Ray McGovern, um veterano dos serviços de segurança. McGovern trabalhou na Agência Central de Inteligência (CIA) durante 27 anos, ocupando inclusive lugares de topo. Em 2003, ele e outros colegas da CIA e de outros serviços de inteligência fundaram a organização Veteran Intelligence Professionals for Sanity (VIPS), que analisa de forma crítica as políticas dos EUA.
"Curveball"
Afinal, o que esteve na origem dos dados apresentados por Colin Powell? Em 1999, um químico iraquiano, de nome Al-Janabi, chegou à Alemanha como refugiado e os serviços secretos alemães interrogaram-no, para recolher informações sobre supostas armas de destruição maciça de Saddam Hussein. Al-Janabi – a quem foi atribuído o nome de "Curveball" – percebeu, porém, que o seu estatuto pessoal ia melhorando conforme a quantidade de informações que revelava. E chegou a receber um passaporte alemão, dinheiro e uma casa.
Guerra no Iraque: No princípio era a mentira
O esquema continuou até que o serviço de inteligência alemã descobriu que tudo não passava de mentiras. Mesmo assim, os EUA mostraram interesse renovado nas declarações de "Curveball", que incriminavam Saddam Hussein, após o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque.
Apesar das dúvidas em relação ao testemunho de al-Janabi, cujas informações nunca foram confirmadas pela Alemanha, ele tornou-se crucial na propaganda de Colin Powell para justificar a guerra no Iraque.
"Eles não se importavam se al-Janabi sabia do que estava a falar", afirma Ray McGovern. "O que eles tinham era algo que eles poderiam colocar numa pasta e depois, entregá-la a profissionais, muito criativos, da CIA, e eles, por sua vez, poderiam construir os esboços desses laboratórios de armas químicas móveis inexistentes. Coisa que veio a acontecer e que o Colin Powell usou durante o seu discurso."
Apoio de outros países
O então primeiro-ministro britânico, Tony Blair, quis juntar-se aos EUA para criar uma "relação especial" com os americanos. E a Alemanha também viria a participar na invasão ao Iraque, de forma indireta.
Segundo o analista alemão Björn Schiffbauer, fui uma guerra que "violou o direito internacional, por parte dos Estados Unidos e dos aliados".
Após 24 anos no poder, Saddam Hussein morreu a 30 de dezembro de 2006. Um tribunal especial iraquiano condenou Hussein por crimes contra a humanidade e sentenciou-o à morte. Morreu enforcado, aos 69 anos de idade.
O que é o Estado Islâmico?
As origens do grupo terrorista remontam à invasão americana do Iraque, em 2003. Nasceu como oposição sunita ao domínio xiita. Inicialmente chamou-se "Estado Islâmico do Iraque e do Levante" e virou ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com o derrube do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo surgiu da união de diversas organizações extremistas sunitas e grupos leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra o domínio dos xiitas no Governo do Iraque.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al-Qaeda
A insurreição tornou-se cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi (foto), fundador da Al-Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram as suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: picture-alliance/dpa
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea. Foi então sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Abdullah ar-Raschid al-Baghdadi (ambos mortos em 2010). A Al-Qaeda no Iraque (AQI) mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). Nos anos seguintes, Washington intensificou a sua presença militar no país.
Foto: picture-alliance/Photoshot
Regresso dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a reagrupar-se, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al-Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o Estado Islâmico atravessou a fronteira para participar da luta contra o Presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram uma fusão com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al-Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EI e a central da Al-Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do desentendimento com a Al-Qaeda, o EI fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando a sua segunda maior cidade, Mossul, a 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já tinha sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana de Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista estratégico quanto económico. Ela é um importante ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Com a tomada de Mossul, o EI também conquistou 429 milhões de dólares na filial local do Banco Central do Iraque. Assim sendo, o Daesh - como é conhecido em árabe - tornou-se um dos grupos terroristas mais ricos.
Foto: Getty Images
O califado do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho de 2014, a organização declarou um califado, um estado islâmico que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e faz lembrar os califados muçulmanos históricos. Abu Bakr al-Bagdadi foi apresentado como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da sharia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado". Muitos foram executados, mulheres violadas e vendidas como escravas a jihadistas do EI. Os xiitas também têm sido alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o património histórico
O EI já destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. O EI diz que as esculturas antigas entram em contradição com a sua interpretação radical dos princípios do Islão. Especialistas afirmam, porém, que o grupo vende ilegalmente estátuas pequenas no mercado internacional, enquanto as maiores são destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Nas suas ofensivas armadas, o grupo tem saqueado centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupado diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Os seus militantes também se apoderaram de armamento militar de fabrico americano das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional. Seguidores da ideologia do EI perpetraram vários atentados terroristas na Europa.