Guerrilheiros alegam que o partido enfrenta sérios problemas sob comando de Ossufo Momade, como o desrespeito às cláusulas do dossier deixado por Afonso Dhakama. A direção da RENAMO recusou falar sobre o assunto.
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Os guerrilheiros da Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO) na província de Inhambane, sul de Moçambique, estão acantonados na base de Matokose, na localidade de Tsenane, no distrito de Fulhaouro, e afirmam que estão na posse de muito armamento.
O Coronel João Machava, que afirma estar a liderar um grupo de 300 homens armados, disse à imprensa que o atual presidente da RENAMO, Ossufo Momade, violou o dossier acordado pelo falecido líder do partido, Afonso Dhakama, com as autoridades moçambicanas. E,por isso, não vão entregar as armas ao Governo moçambicano.
"Não estamos a gostar do trabalho desenvolvido pelo presidente Ossufo Momade. Queremos que ele se retire e demita-se da liderança do partido. Com a sua entrada na liderança, ele destruiu o partido e, pelo facto, exigimos um novo presidente que deve respeitar as clausulas do dossier que o presidente Dhakama deixou”.
Os guerrilheiros afirmam que a luta que levam atualmente é justa e não tem nada a ver com o passado - quando Momade se encontrava em Maputo com a família, enquanto eles estavam a sofrer, lutando pela paz.
Para o Coronel João Machava, Ossufo Momade quer levar a desgraça às pessoas que sofreram no mato com o presidente Dhakama. "É isso que não aceitamos. Se ele não se demitir da liderança do partido, ele deverá assumir as consequências”, concluiu.
Prazo expiradoEntretanto, o prazo acordado entre o Governo moçambicano e a RENAMO para desmilitarizar os homens da guerrilhado maior partido da oposição no país expirou no passado, dia 21 de agosto. Até o momento, nada foi feito.
Questionado se a autoproclamada "junta militar" da RENAMO irá criar uma força independente no seio da própria RENAMO, o coronel João Machava, refutou a ideia, embora tenha garantido que seus homens irão entregar as armas ao Governo moçambicano se Momade sair da presidência do partido.
"Nós não vamos formar uma força independente, porque estamos comprometidos com a paz. Com homens armados no mato, este país ainda não tem a tão desejada paz. E os homens que estão no mato não querem Ossufo. Basta Ossufo sair da liderança [e] será eleito um novo presidente. Nesta altura, iremos entregar as armas ao Governo".
Guerrilheiros da RENAMO em Inhambane recusam desmilitarização e questionam liderança de Momade
Em contacto com a DW África, o porta-voz da RENAMO, José Manteigas, recusou falar sobre o assunto, alegando que só o próprio Governo pode comentar sobre os verdadeiros motivos do atraso na desmilitarização dos homens da RENAMO.
Afonso Dhlakama, homem de causas
O percurso de Afonso Dhlakama enquanto político e militar quase se confunde com a história de Moçambique independente. Em nome da democracia não hesitou em entrar numa guerra. Herói para uns, vilão para outros.
Foto: picture-alliance/dpa
Dhlakama, um começo na FRELIMO que não vingou
Afonso Macacho Marceta Dhlakama nasceu a 1 de janeiro de 1953 em Mangunde, povíncia central de Sofala, Moçambique. Entra para a FRELIMO perto da época da independência em 1975, mas não fica muito tempo. Em 1976 sai do partido que governa o país para co-fundar a RNM (Resistência Nacional de Moçambique), um movimento armado, com o apoio da Rodésia do Zimbabué. O objetivo: por fim a ditadura.
Foto: Imago/photothek
Dhlakama: Desde cedo líder da RENAMO
A guerra civil entre a RNM, depois denominada RENAMO, Resistência Nacional de Moçambique, e o Governo começou em 1976. Dhlakama assume a liderança da RNM depois da morte de André Matsangaíssa em combate em 1979. Já era líder quando o primeiro acordo que visava por fim a guerra foi assinado entre o Governo e o regime do apartheid na África do Sul em 1984. Mas o Acordo de Inkomati fracassou.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
AGP: Democracia entra no vocabulário com Dhlakama
Depois de 16 anos de guerra Dhlakama assina com o Governo o Acordo Geral de Paz de Roma em 1992 no contexto do fim da guerra fria e do apartheid na África do Sul. Começa uma nova era para o país, depois de uma guerra que fez perto de um milhão de mortos e milhões de refugiados. A democracia passa então a fazer parte do vocabulário dos moçambicanos, com Dhlakama a auto-intitular-se o seu pai.
Foto: picture-alliance/dpa
O começo das derrotas de Dhlakama nas eleições
Moçambique entra para a era do multipartidarismo e realiza as suas primeiras eleições em 1994. Dhlakama e o seu partido perdem as eleições. As segundas eleições acontecem em 1999 e Dhlakama volta a perder, mas rejeita a derrota. E desde então não parou de perder, facto que provocou descontentamento ao partido de Dhlakama. Reclamava de fraudes e injustiças. E nasceram assim as crises com o Governo.
Foto: Reuters/Grant Lee Neuenburg
Dhlakama: O regresso às matas como estratégia de pressão
O regresso do líder da RENAMO à Serra da Gorongosa em 2013, um dos seus bastiões militares, foi uma mensagem inequívoca ao Governo da FRELIMO. Dhlakama queria mudanças reais, que passavam pelo respeito integral do AGP, principalmente a integração dos militares da RENAMO no exército nacional, e mudança da legislação eleitoral. Assim o país voltou a guerra depois de mais de vinte anos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Armando Guebuza e Dhlakama em braço de ferro permanente
A 5 de agosto de 2014 o então Presidente Armando Guebuza e Afonso Dhlakama assinaram um cessar-fogo. Estavam criadas as condições para o líder da RENAMO participar nas eleições gerais de outubro de 2014. Dhlakama e o seu partido participam nas eleições e voltam a perder. As crise volta ao rubro e Dhlakama regressa às matas da Gorongosa.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Emboscada contra Afonso Dhlakama
A 12 de setembro de 2015 a caravana em que seguia Afonso Dhlakama foi atacada na província de Manica. Ate hoje não se sabe quem foram os atacantes. A RENAMO considerou a emboscada como uma tentativa de assassinato do seu líder. A comunidade internacional condenou o uso da violência.
Foto: DW/A. Sebastião
Aperto ao cerco contra Afonso Dhlakama
No dia 9 de outubro de 2015, a polícia cercou e invadiu a casa de Afonso Dhlakama na cidade da Beira. As forças governamentais pretendiam desarmar a força a guarda do líder da RENAMO. Os homens da RENAMO que se encontravam no local foram detidos. A população da Beira, bastião da RENAMO, juntou-se diante da casa de Dhlakama manifestando o seu apoio ao líder.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Dhlakama e Nyusi: Menos mãos melhores resultados
O líder da RENAMO e o Presidente da República decidiram prescindir de mediadores e passaram a negociar o acordo pessoalmente. Desde então consensos têm sido alcançados, um deles relativo à revisão pontual da Constituição, no âmbito do processo de descentralização em fevereiro de 2018. A aprovação da proposta pelo Parlamento é urgente, pois as próximas eleições de 2018 e 2019 dependem dele.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
Dhlakama: Não foi a bala que ditou o seu fim
Na manhã de 3 de maio o maior líder da oposição em Moçambique perdeu a vida vítima de doença. Deixa aos seus correlegionários a tarefa de negociar outro ponto controverso na crise com o Governo: a desmilitarização ou integração dos homens armados da RENAMO no exército nacional. Há quase 40 anos à frente da liderança da RENAMO teve de negociar com todos os Presidentes de Moçambique independente.