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Guiné-Bissau 2015: Governo estará sob pressão em nome de melhorias

Nádia Issufo 2 de janeiro de 2015

Reforma completa do Estado guineense é o que se espera do ano que agora começa. Para tal o Governo terá de "dar o litro" para ultrapassar os problemas que o país acumulou ao longo de anos de instabilidade política.

Bissau, capital da Guiné-BissauFoto: DW/B. Darame

A pressão sobre o Governo, empossado em meados de 2014, será muito grande e ele estará em observação, considera o historiador guineense Julião Sousa que falou à DW África sobre as perspetivas para 2015.

DW África: Uma das grandes preocupações que transita para 2015 é a reforma do exército. Acha que o processo será pacífico, dada a natureza dos problemas enraizados no setor?

Julião Soares (JS): O que é fundamental é como se vai fazer essa reforma e em que condições, porque, de facto, mandar muitos quadros militares para casa sem lhes criar condições para viverem o resto das suas vidas livres, com as suas famílias, com condições de sustentabildade nas suas vidas (será mau). Portanto, esse é o aspeto fundamental que deve estar presente na reforma do setor de defesa e segurança. Essa reforma é importante e mesmo vital para a pacificação da sociedade guineense.

DW África: O novo Governo, saído das eleições de 2014, dá sinais de querer recolocar a Guiné-Bissau nos eixos e tem também todo o apoio internacional. Acredita que em 2015 esta onda continuará a ser acompanhada pelos bons ventos?

Julião Sousa, historiador guineenseFoto: privat

JS: Sim, eu creio que também essa onda seja pacífica na sociedade guineense. Como sabe a nossa história não é propriamente muito positiva neste aspeto da governação, tem havido instabilidade quase permanente, quase cíclica que não tem permitido que algum governo, depois da instalação do sistema democrático, chegue ao fim da legislatura. Portanto, é necessário que se dê, pelo menos, um primeiro sinal de que, de facto, este Governo vai chegar ao fim da legislatura. Nós sabemos que é um Governo que agora, em 2015, vai estar sob muita pressão, porque é preciso urgentemente que ele mostre trabalho, serviço e fazendo reformas que são fundamentais em praticamente todos os setores, político, conómico e social, mas sobretudo nos setores da saúde, justiça e economia onde é preciso muita criatividade. Os setores da justiça, saúde e educação precisam urgentemente de uma pacificação e de reformas sérias. Portanto, desse ponto de vista o Governo estará sob muita pressão.

DW África: O Governo guineense quer também uma maior inclusão na composição das forças de estabilização estacionadas no país, com a entreda, por exemplo, da CPLP, da União Africana, para além da CEDEAO, sob coordenação da ONU. Esta é também uma forma de estar menos "acorrentado" à CEDEAO?

JS: Não, penso que o ideal seria que houvesse umas forças que estivessem sob a batuta das Nações Unidas. A Guiné-Bissau felizmente, ou infelizmente, pertence a várias organizações e todas elas provavelmente até com objetivos diferentes, com uma perspetiva diferente sobre o quadro político guineense e, portanto, é preciso compaginar esta relação com as múltiplas organizações a que pertence. Neste caso a CEDEAO e a ONU. Mas penso que aqui não é propriamnete saber se vêm as forças da CEDEAO ou das Nações Unidas, o importante é que haja condições internas para que não haja sobressaltos no exercício da governação e neste novo quadro que surgiu no país. É aqui que as organizações nacionais, o Governo, a Presidência da República e o Parlamento devem obter um consenso generalizado para, de facto, permitir que essas condições sejam criadas. Mas não creio que vinda dessas forças, quer da CEDEAO quer das Nações Unidas, seja muito relevante. Se o país quiser entrar na nova senda, tem de ser o primeiro a dar o primeiro passo internamente, de que, de facto, queremos essa paz interna para que as instituições políticas possam funcionar num quadro democrático.

Domingos Simões Pereira, primeiro ministro da Guiné-BissauFoto: DW/F. Tchuma

DW África: Em fevereiro termina o mandado do Gabinete Integrado da ONU para a consolidação e Paz na Guiné-Bissau. Acha que já há condições para que o país ande sem a ONIOGBIS?

JS: Penso que a presença simbólica dessa instituição é fundamental. De qualquer maneira acho que o passo primordial deve ser dado pelos próprios guineenses, eles devem confiar nas instituições que criaram e, se não criaram, têm de criá-las. Por exemplo, a Guiné poderia criar um observatório de paz e reconciliação nacional, com quadros nacionais. Não precisa de ficar a espera que essas organizações estejam lá para garantirem a paz interna. Mas como ainda não vivemos nesse mundo ideal, acho que essas instituições se estiverem ai será bom para no caso de haver um problema, espero que não venha a haver, possam contribuir para a pacificação da sociedade guineense.

DW África: As autoridades também vão à Bruxelas, em fevereiro em busca de financiamento, principalmente para a preservação da biodiversidade. Entretanto, o país durante o período de transição assisitiu a destruição de florestas e ao saque desenfreado de madeira que supostamente segiu para a China. Acabar com isso, sendo a China o potencial parceiro económico é um processo fácil?

Barcos de pesca chinesesFoto: DW/F. Tchuma

JS: Não queria estar aqui a arranjar um bode espiatório a culpabilizar este ou aquele. Acho que a destruição da nossa floresta tem sido recorrente ao longo dos últimos 40 anos. Tem havido uma má gestão da nossa floreste e, portanto, isto engaja quase todos os guineenses. Temos de ter consciência que estamos numa zona difícil, que já sofre a influência do Sahel e nessa perspetiva temos de ter muito mais cuidado em relação à proteção da nossa floresta e da biodiversidade. Em segundo lugar, creio que as relações com a China não estão muito associadas a essa questão da destruição da floresta, porque quem compra, compra a alguém. Temos de perseguir as pessoas que estão a fazer esse trabalho e que são nossos compatriotas, porque nehum país manda elementos seus entrarem numa floresta para a devastar, tem de ser com a autorização de alguém. Portanto, temos de estar vigilantes em relação a destruição das nossas florestas. Essa ida a Bruxelas acho que é fundamental encontrarmos financiamentos.

DW África: Sob o ponto de vista económico, acredita num crescimento, como por exemplo, com o alavancar do setor do cajú?

Camponesas guineensesFoto: DW/F. Tchumá Camará

JS: Acredito num crescimento da economia do nosso país, não apenas com um investimento (apenas e só) na monocultura do cajú, mas acredito que o regresso da agricultura tradicional, a cultura do arroz e a diversificação das culturas é o único caminho que a Guiné deve trilhar, é o único caminho que vai fazer com que a Guiné-Bissau arranque definitivamente com um crescimento. Temos de aproveitar o facto de sermos um país com condições para a prática da agricultura e exportar esses nossos produtos e não apostar na monocultura do cajú e não estarmos a apostar na cultura do cajú que tem estado a prejudicar a nossa agricultura tradicional. Sempre fui adepto dessa ideia e vejo com bons olhos que há internamente algumas pessoas que têm defendido essa ideia de que, de facto, a aposta no país tem de ser na diversificação das nossas culturas, na aposta pela agricultura do arroz e não na monocultura do arroz.

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