Analista defende eleições para pôr fim à crise em Bissau
António Rocha
15 de dezembro de 2017
Duas reuniões marcam esta sexta-feira e sábado (15/16.12) a agenda política da África Ocidental preocupada com a crise política na Guiné-Bissau que dura há quase três anos.
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A anteceder a cimeira de sábado (16.12) da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), em Abuja, os chefes do Estado do Togo, Faure Gnassingbé, atual presidente em exercício da CEDEAO e da Guiné-Conacri, Alpha Condé, mediador da crise guineense proposto pela organização sub-regional, convocaram esta sexta-feira (15.12) os principais líderes políticos da Guiné-Bissau para um encontro também na Nigéria, para discutir a crise política no país lusófono. A DW África entrevistou Luís Barbosa Vicente, gestor e analista guineense.
DW África: Os chefes de Estado do Togo e da República da Guiné, convocaram os líderes políticos guineenses para um encontro que antecede a cimeira da CEDEAO (sábado), em Abuja, onde a crise política na Guiné-Bissau fará parte dos trabalhos. O que espera desses dois encontros?
Luís Vicente (LV): Que tenha algum efeito desejado para o povo guineense. Ou seja, acabar de uma vez por todas com a crise que tem assolado o país há quase três anos, cinco Governos, com os partidos completamente desavindos e uma certa desatenção por aquilo que são as políticas públicas que o país precisa.
DW África: Mas acontece que o Presidente José Mário Vaz disse na quinta-feira (14.12) que não permitirá quaisquer soluções externas para a resolução da crise guineense. Se não permite soluções externas, e a nível interno é o que se passa, qual poderá ser uma saída para este imbróglio?
LV: Pode ser a convocação de eleições e talvez isso seja a solução mais viável atendendo a desarticulação em termos de abordagem política que é feita na Guiné-Bissau. E enquanto esta questão, de que não se pode deixar o contexto externo imiscuir-se na situação interna do país, acho que é prematuro dizer isso, porque realmente a Guiné-Bissau sempre precisou de ajuda externa para solucionar os seus problemas, senão não haveria este problema da CEDEAO mediar um acordo como o Acordo de Conacri.
DW África: O Acordo de Conacri foi rubricado em outubro de 2016. Acha que este documento é ainda hoje válido?
LV: Desde a primeira hora disse que este acordo tinha ultrapassado todos os domínios constitucionais do país.Tentou-se resolver um problema e criou-se um outro. O que é preciso agora é encararmos isso de uma outra forma. Se não se conseguiu resolver o problema com o Acordo de Conacri, porque a situação se agudizou devido a desentendimentos entre as partes, talvez a melhor solução seja voltar aquilo que a Constituição da República diz claramente: devolver ao povo o direito que é do povo, ou seja, convocar eleições e o povo decidir quem deve governar o país nos próximos anos. E quanto mais rápido isso acontecer melhor será para a Guiné-Bissau.
DW África: Porque aquilo que efetivamente se pretende, regressar ao Acordo de Conacri, não se consegue cumprir?
LV: Não houve consenso assumidamente dito pelo partido que ganhou as eleições o PAIGC mas por outro lado, o Partido da Renovação Social (PRS) e o Presidente da República disse que se chegou a um consenso e por isso foi nomeado Umaro Sissoco Embaló, então em quê ficamos? É importante que se tenha em consideração que a Constituição da República, a Carta Magna, é mais importante do que qualquer acordo. Foi rasgada a Constituição do país quando foi assinado o Acordo de Conacri. Não se conseguiu solucionar o problema com o acordo, então insisto que a melhor solução para o país é ir diretamente para as eleições e assim resolvermos o problema. Mas essas eleições têm que ser mediadas por uma componente externa. E é preciso que a Guiné-Bissau esclareça de uma vez por todas que se os conflitos internos não estão a ser resolvidos talvez tenhamos que chamar uma intermediação, mas uma intermediação muito séria e que ajude a solucionar o problema dentro daquilo que é o compromisso que está inscrito na Carta Magna do país.
DW África: Fala de uma "intermediação muito séria" e alguns observadores têm criticado a atuação do mediador proposto pela CEDEAO, o Presidente da Guiné Conacri...LV: Obviamente que o próprio mediador fez a "mea culpa" porque assumiu que a intermediação não foi bem feita. Confiou que da parte da Guiné-Bissau viesse uma resposta sobre o consenso gerado e pelos vistos ninguém conseguiu saber propriamente o que se passou. Agora, vai-se voltar a confiar numa intermediação que falhou? Ou vão ser criados outros tipos de mecanismos? Talvez chamar a ONU para se sentar juntamente com a CEDEAO e o famoso P5 [ a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, a União Europeia, a União Africana, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e as Nações Unidas], que realmente tem dado um passo à frente e dois atrás, e ajudar a Guiné-Bissau a sair deste impasse.
De fortalezas a cinemas: o património colonial português em África
A colonização portuguesa nos países africanos deixou edificações históricas, que vão desde fortificações militares, igrejas, estações de comboio, até cinemas. Boa parte deste património ainda resiste.
Foto: DW/J.Beck
Calçada portuguesa
Na Ilha de Moçambique, antiga capital moçambicana, na província de Nampula, a calçada portuguesa estende-se à beira mar. A herança colonial que Portugal deixou aqui é imensa e está presente num conjunto de edificações históricas, entre fortalezas, palácios, igrejas e casas. Em 1991, este conjunto foi reconhecido como Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de São Sebastião
A Fortaleza de São Sebastião, na Ilha de Moçambique, começou a ser erguida pelos portugueses em 1554. O motivo: a localização estratégica para os navegadores. Ao fundo, vê-se a Capela de Nossa Senhora do Baluarte, de 1522, que é considerada a mais antiga estrutura colonial sobrevivente no sul de África.
Foto: DW/J.Beck
Hospital de Moçambique
O Hospital de Moçambique, na Ilha de Moçambique, data de 1877. O edifício de estilo neoclássico foi durante muito tempo a maior estrutura hospitalar da África Austral. Atualmente, compõe o património de construções históricas da antiga capital moçambicana.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de Maputo
A Fortaleza de Maputo situa-se na baixa da capital moçambicana e é um dos principais monumentos históricos da colonização portuguesa no país. O espaço foi ocupado no início do século XVIII, mas a atual edificação data do século XX.
Foto: DW/J.Beck
Estação Central de Maputo
Desde a construção da Estação Central dos Caminhos-de-Ferro (foto) na capital moçambicana, no início do século XX, o ato de apanhar um comboio ganhou um certo charme. O edifício, que pode ser comparado a algumas estações da Europa, ostenta a uma fachada de estilo francês. O projeto foi do engenheiro militar português Alfredo Augusto Lisboa de Lima.
Foto: picture-alliance / dpa
Administração colonial portuguesa em Sofala
Na cidade de Inhaminga, na província de Sofala, centro de Moçambique, a arquitetura colonial portuguesa está em ruínas. O antigo edifício da administração colonial, com traços neoclássicos, foi tomado pela vegetação e dominado pelo desgaste do tempo.
Foto: Gerald Henzinger
"O orgulho de África"
Em Moçambique, outro de património colonial moderno: o Grande Hotel da Beira, que foi inaugurado em 1954 como uma das acomodações mais luxuosas do país. O empreedimento português era intitulado o "orgulho de África". Após a independência, em 1975, o hotel passou a ser refúgio para pessoas pobres. Desde então, o hotel nunca mais abriu para o turismo.
Foto: Oliver Ramme
Cidade Velha e Fortaleza Real de São Filipe
Em Cabo Verde, os vestígios da colonização portuguesa espalham-se pela Cidade Velha, na Ilha de Santiago. Entre estas construções está a Fortaleza Real de São Filipe. A fortificação data do século XVI, período em que os portugueses queriam desenvolver o tráfico de escravos. Devido à sua importância histórica, a Cidade Velha e o seu conjunto foram consagrados em 2009 Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J. Beck
Património religioso
No complexo da Cidade Velha está a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, conhecida por ser um dos patrimónios arquitetónicos mais antigos de Cabo Verde, com mais de 500 anos. Assim como em Cabo Verde, o período colonial português deixou outros edifícios ligados à Igreja Católica em praticamente todos os PALOP.
Foto: DW/J. Beck
Palácio da Presidência
Na cidade da Praia, em Cabo Verde, a residência presidencial é uma herança do período colonial português no país. Construído no século XIX, o palácio abrigou o governador da colónia até a independência cabo-verdiana, em 1975.
Foto: Presidência da República de Cabo Verde
Casa Grande
Em São Tomé e Príncipe, é impossível não reconhecer os traços da colonização portuguesa nas roças. Estas estruturas agrícolas concentram a maioria das edificações históricas do país. A imagem mostra a Casa Grande, local onde vivia o patrão da Roça Uba Budo, no distrito de Cantagalo, a leste de São Tomé. As roças são-tomenses foram a base económica do país até a indepência em 1975.
Foto: DW/R. Graça
Palácio reconstruído em Bissau
Assim como em Cabo Verde, na Guiné-Bissau o palácio presidencial também remonta o período em que o país esteve sob o domínio de Portugal. Com arquitetura menos rebuscada, o palácio presidencial em Bissau foi parcialmente destruído entre 1998 e 1999, mas foi reconstruído num estilo mais moderno em 2013 (foto de 2012). O edifício, no centro da capital guineense, destaca-se pela sua imponência.
Foto: DW/Ferro de Gouveia
Teatro Elinga
O Teatro Elinga, no centro de Luanda, é um dos mais importantes edifícios históricos da capital angolana. O prédio de dois andares da era colonial portuguesa (século XIX) sobreviveu ao "boom" da construção civil das últimas décadas. Em 2012, no entanto, foram anunciados planos para demolir o teatro. Como resultado, houve fortes protestos exigindo que o centro cultural fosse preservado.
Foto: DW
Arquitetura colonial moderna
O período colonial também deixou traços arquitetónicos modernos em alguns países. Em Angola, muitos cinemas foram erguidos nos anos 40 com a influência do regime ditatorial português, o chamado Estado Novo. Na foto, o Cine-Teatro Namibe (antigo Moçâmedes), um dos mais antigos do país, é um exemplo. Foi o primeiro edifício de arquitetura "art déco" na cidade de Namibe.