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Guiné-Bissau Airlines: Muitas dúvidas e algumas respostas

Iancuba Dansó (Bissau)
18 de abril de 2023

Analistas ouvidos pela DW não acreditam na fiabilidade da nova companhia aérea da Guiné-Bissau, anunciada pelo Governo.

Foto ilustrativa
Foto: Braima Darame/DW

Há mais de 20 anos que não há uma companhia aérea com a bandeira da Guiné-Bissau. De acordo com o Governo, o regresso de uma transportadora guineense ao espaço aéreo será assegurado através de uma parceria com a Jitaa-Aeronautics, empresa sediada no Canadá.

"É uma parceria público-privada. O objetivo é assegurar a mobilidade aérea das pessoas e bens", anunciou o ministro dos Transportes e Comunicações, Aristides Ocante da Silva, na semana passada. "Haverá ainda uma componente 'cargo', que vai permitir que as aeronaves possam transportar os produtos de exportação, nomeadamente os produtos haliêuticos e agrícolas".

O governante, disse que a Guiné-Bissau Airlines ainda não tem data para iniciar as suas operações. Mas, segundo Ocante da Silva, já estão reunidas as condições técnicas e os recursos humanos para o início das atividades da transportadora.

Onde voará a nova companhia?

Numa primeira fase, a Guiné-Bissau Airlines deverá fazer ligação entre a capital guineense e as capitais de vários países da África Ocidental, nomeadamente Cabo Verde, Senegal, Costa do Marfim, Libéria e Serra Leoa.

O ministro dos Transportes anunciou também que a Guiné-Bissau Airlines vai, na primeira fase, ligar Bissau com as ilhas do arquipélago dos Bijagós, e as zonas sul e leste do país. O objetivo é que, no futuro, possa ainda fazer a ligação com algumas capitais europeias, nomeadamente Lisboa e Roma.

O projeto é viável?

Mas o analista político Fodé Mané duvida do sucesso da nova companhia aérea, porque poderão faltar clientes.

"Duvido se há um número considerável de guineenses capaz de pagar o custo mínimo" para viajar de avião no interior do país, comenta Mané. E dá um exemplo: "Uma viagem de Bissau para Bubaque [nas ilhas Bijagós] custa 25.000 francos CFA (cerca de 38 euros). É 500% mais do que se paga de navio ou piroga".

Fodé Mané: "Duvido se há um número considerável de guineenses capaz de pagar o custo mínimo"Foto: Fodé Mané

Cidadãos ouvidos pela DW África, nas ruas de Bissau, também questionam os benefícios para o país da parceria que vai criar a Guiné-Bissau Airlines.

"O importante é saber que proveito o país vai tirar", disse um funcionário público. "Qual é a contrapartida e o benefício para a Guiné-Bissau? O acordo tem que ser claro para que ambas as partes possam beneficiar", acrescentou um vendedor ambulante.

Economia pode sair prejudicada?

O ministro dos Transportes, Aristides Ocante da Silva, já explicou como serão repartidos os lucros da companhia aérea, entre os seus promotores: 30% para o Governo da Guiné-Bissau e 70% para a Jitaa-Aeronautics.

"É o que está previsto, na medida em que a Guiné-Bissau não está em condições de fornecer a tripulação, com a exceção provavelmente das hospedeiras, pois, no passado recente, foram formadas hospedeiras para trabalhar em outras companhias aéreas."

Ocante da Silva referiu ainda que, nos próximos tempos, serão formados 50 membros da tripulação, pessoal da assistência e de manutenção em terra.

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Mas o economista Abdulai Djaló não acredita que a Guiné-Bissau possa suportar os encargos económicos e financeiros para a manutenção da companhia aérea.

"Hoje em dia, a Guiné-Bissau depende fortemente da castanha de caju. Será que a receita que conseguimos arrecadar conseguirá sustentar uma companhia aérea durante muito tempo?", questiona Djaló.

"Temos algumas companhias aéreas a atuar na Guiné-Bissau. Há Boeing 777 com capacidade para 370 lugares e, quando decolam de Bissau para qualquer país, viajam com 13, 20 ou 50 pessoas. E os lugares que restam, como são preenchidos?"

O analista Fodé Mané alerta para o eventual perigo que a atuação da nova companhia aérea poderá acarretar para o país: "Para mim, [o anúncio da nova companhia aérea] não vai além da intenção política. A criação de uma companhia aérea desta natureza tem riscos enormes, de natureza financeira, económicos e ainda da confiança do próprio país".

Vários especialistas em aviação civil contactados pela DW recusaram-se a comentar este assunto.

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