1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Ano escolar deve ser anulado na Guiné-Bissau ?

5 de junho de 2019

Greves comprometerem futuro dos alunos das escolas públicas guineenses. No final do calendário escolar há posições a favor e contra a validade do ano letivo. País continua mergulhado numa grave crise política.

Studenten Demonstration in Bissao
Marcha dos estudantes em Bissau (2018)Foto: Marcelo N'canha

Os alunos das escolas públicas da Guiné-Bissau aguardam com impaciência a prometida reunião anunciada pelo Presidente guineense, José Mário Vaz, com os principais parceiros internacionais do setor da edução nacional, o Governo, os sindicatos dos professores e as organizações estudantis para em conjunto decidirem se anulam ou não o presente ano escolar. A reunião ainda não tem uma data definida.

Há três semanas que as duas centrais sindicais do país, a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné-Bissau (UNTG) e da Confederação Nacional dos Sindicatos Independentes, realizam períodos de greve que decorrem sempre entre segunda e sexta-feira. Com as sucessivas greves dos professores, que reclamam entre outros o pagamento de salários em atraso e melhorias das condições de trabalho, aumentam as vozes que defendem que o presente ano letivo seja definitivamente anulado. Inácio Góia Badinga é uma delas.

"Os três sindicatos dos professores estão em greve, porque a central sindical do país paralisou a função política. As aulas funcionam apenas às segundas e sextas-feiras, ou seja dois dias por semana. Acho que não faz sentido continuarmos com este ano. O Governo deve ter a ousadia de anular este ano letivo e começar logo com a preparação do próximo com qualidade”, afirmou em entrevista à DW.

Caos total em Bissau

Alunos impacientes com greves nas escolas públicasFoto: Marcelo N'canha

Os sindicatos da função pública guineense, incluindo os dos professores, realizam nesta quinta-feira, (06.06), pelas 09:00 de Bissau, um protesto nas ruas de Bissau para exigir que o Governo cumpra com as suas responsabilidades.

Góia Badinga acrescentou que não se deve aceitar engenharias no sentido de salvar o ano lectivo, sem que sejam criadas as condições para as aulas decorrerem de forma regular e sem sobressaltos. O líder estudantil guineense observa que tanto os professores como alunos estão completamente desmotivados após três meses de greve dos professores, que se juntou a greve da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné UNTG, a maior central sindical do país.

Por seu lado, Bacar Mané, presidente da federação das associações dos estudantes das escolas privadas e públicas, disse que aguardam com muita expetativa a reunião que o Presidente guineense, José Mário Vaz prometeu convocar visando encontrar soluções para o ano escolar. Mas não defende a opinião de anular o ano em todas as escolas públicas.

"Se for para anular o ano letivo, então que anulem em todas as escolas públicas e privadas do país. Mas acho que o Estado deve avaliar o desempenho de cada escola e, em função dos resultados, invalidar o ano onde tiver pouco aproveitamento. Digo isto porque no interior do país, há muitas escolas do Estado a funcionar em regime de autonomia, em que os pais pagam como se fosse escola privada, aí não se pode anular o ano, porque escolas funcionam”, argumenta Mané.

MADEM-G15 e PRS realizam na quinta-feira marcha na avenida principalFoto: DW/B. Darame

Oposição realiza protesto de rua

Recorde-se que a profunda crise política que se vive na Guiné-Bissau desde 2015 desestruturou o Estado e impediu o normal funcionalmente das instituições, prejudicando sobretudo os alunos das escolas públicas. No terreno ainda não se vislumbra qualquer solução para o impasse político, já que mesmo depois das eleições legislativas de 10 de março ainda não foi nomeado o novo Governo. 

Entretanto, para esta quinta-feira (06.06.), os dois principais partidos da oposição o Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15) e o Partido da Renovação Social (PRS), convocaram uma manifestação popular para exigir a conclusão da eleição da mesa da Assembleia Nacional Popular, anunciou nesta quarta-feira, Djibril Baldé, porta-voz do MADEM.

"Iremos organizar uma manifestação popular para revindicar a conclusão da mesa do Parlamento, consequentemente da Comissão Permanente, das Comissões Especializadas e fazer funcionar rapidamente a Assembleia Nacional Popular para que o Presidente da República possa nomear o novo primeiro-ministro que vai formar o seu Governo”.

"Mesa do Parlamento é ilegal"

O presidente do Parlamento, Cipriano Cassamá, convocou no início desta semana os deputados guineenses para a segunda sessão ordinária da atual legislatura para, entre vários pontos, elegeram o segundo vice-presidente da mesa da Assembleia Nacional Popular. Vítor Pereira, porta-voz do Partido da Renovação Social (PRS), a terceira força política do país, diz que não reconhece a atual mesa do Parlamento, por ter sido eleita de forma ilegal:

Guiné-Bissau: Ano escolar deve ser anulado?

This browser does not support the audio element.

"Nós não reconhecemos aquela palhaçada, porque na realidade ainda não existe nada de legal. Só existirá uma mesa legal quando os preceitos legais forem seguidos e isto passará pelo preenchimento do MADEM do segundo vice-presidente do Parlamento e pelo preenchimento do lugar de primeiro secretário pelo PRS. Enquanto isso não for obedecido não há mesa nenhuma e nem presidente da Assembleia”.

O parlamento da Guiné-Bissau está dividido em dois grandes blocos, um, que inclui o PAIGC (partido mais votado nas legislativas, mas sem maioria), a APU-PDGB, a União para a Mudança e o Partido da Nova Democracia, com 54 deputados, e outro, que juntou o Madem-G15 (segundo partido mais votado) e o PRS, com 48.

O Presidente guineense, que termina o mandato a 23 de junho, tem afirmado que só nomeia o futuro primeiro-ministro, depois de haver um entendimento para a eleição da mesa da Assembleia Nacional Popular.

Dembo Djassi: "Matam os seus sonhos" na Guiné-Bissau

04:00

This browser does not support the video element.

Saltar a secção Mais sobre este tema