As promessas dos candidatos na campanha para a segunda volta
Iancuba Dansó (Bissau)
13 de dezembro de 2019
Começou a caça ao voto para a segunda volta das presidenciais na Guiné-Bissau. Domingos Simões Pereira promete ir "mais longe" e fazer sacrifícios. Umaro Sissoco diz que o seu projeto é a "garantia da estabilidade".
Publicidade
A segunda volta das eleições presidenciais é disputada por dois antigos primeiros-ministros: Domingos Simões Pereira, apoiado pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no poder, e Umaro Sissoco Embaló, suportado pelo Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15), maior partido da oposição.
As duas figuras que ambicionam a Presidência da República da Guiné-Bissau iniciaram esta sexta-feira (13.12) a caça ao voto na capital do país, de formas diferentes.
Simões Pereira esteve nas instalações da Escola Nacional da Educação Física e Desportos (ENEFDE), numa sessão de perguntas e respostas com jornalistas e estudantes universitários. O candidato do PAIGC defendeu um investimento sério no setor do ensino, em nome do desenvolvimento do país. E admitiu fazer sacrifícios se for eleito a 29 de dezembro.
"A influência que vou jogar não é só de pressionar o Governo e dizer-lhe que é importante pôr a educação como prioridade. Vou mais longe. Se for eleito como Presidente da República, irei colocar à disposição do Governo todos os subsídios pagos ao Presidente para serem reformados completamente, para que haja condições de criar a única grelha salarial na República da Guiné-Bissau."
Por seu lado, Umaro Sissoco Embaló realizou uma arruada em Bissau. O candidato prometeu devolver a confiança ao povo, caso seja eleito: "O meu projeto é a garantia da estabilidade e da concórdia nacional", afirmou.
"Estou a pedir ao meu eleitorado e às pessoas que me seguem o maior civismo e sem ataques, porque, a partir do dia 30, serei o próximo Presidente eleito da Guiné-Bissau, um homem da paz e da concórdia nacional."
População pede campanha pacífica
Nas ruas de Bissau, os cidadãos ouvidos pela DW África pedem aos candidatos uma campanha sem problemas, em que predomine o respeito mútuo.
"Não podemos ver os dois candidatos a insultarem-se um a outro, sem ter uma visão clara, porque agora o passado não nos interessa, mas o presente e o futuro", disse um estudante universitário.
Uma vendedeira no Mercado Central de Bissau espera "uma campanha com civismo, em que ninguém crie turbulência".
"Acho que tudo vai correr normalmente. Cabe a nós, cidadãos, assumirmos as nossas responsabilidades", acrescentou um funcionário público.
Por sua vez, a Comissão Nacional de Eleições (CNE), através de um comunicado, pediu aos dois candidatos que se abstenham da "utilização de linguagem ou da prática de ações que possam conduzir ou incitar ódio, intimidação, violência e outros males que possam assolar a consciência social e moral dos cidadãos".
"Sistema eleitoral é muito transparente"
Domingos Simões Pereira foi o vencedor da primeira volta das eleições, a 24 de novembro, obtendo 40,13% dos votos, contra 27,65% de Umaro Sissoco Embaló. Mas, para esta segunda volta, o candidato do MADEM-G15 conta com os apoios declarados do terceiro, quarto e quinto candidatos mais votados na primeira volta: Nuno Gomes Nabiam, José Mário Vaz e Carlos Gomes Júnior.
No entanto, o partido de Nabiam não acompanha o seu líder na decisão de apoiar Sissoco Embaló, preferindo a candidatura de Domingos Simões Pereira, que é também a escolha de Baciro Djá e de alguns movimentos juvenis que tinham apoiado outras candidaturas na primeira volta.
A campanha eleitoral para a segunda volta das presidenciais durará 15 dias e a ida às urnas está marcada para 29 de dezembro. Já a pensar no pós-eleições, o analista político Luís Vaz Martins, pede aos candidatos que eventuais reclamações sobre os resultados sejam feitas no foro próprio.
"Vamos esperar para ver, nem todos são suficientemente democráticos para aceitar os resultados das urnas", comenta o analista. "Mas espero que os candidatos tenham a consciência de que o nosso sistema eleitoral é muito transparente. Ou seja, cada candidato deve poder fazer eventuais reclamações em sede própria e não [fazer] discursos para levantar suspeições sobre o trabalho da CNE."
Presidenciais: Futuro da Guiné-Bissau adiado para segunda volta
Domingos Simões Pereira e Umaro Sissoco Embaló disputam segunda volta das presidenciais na Guiné-Bissau, a 29 de dezembro. Balanço da primeira volta das eleições feito pela CPLP, CEDEAO e União Africana é positivo.
Foto: DW/B. Darame
Domingos Simões Pereira vs Umaro Sissoco Embaló
Domingos Simões Pereira foi o vencedor das presidenciais na Guiné-Bissau, no entanto, não alcançou a maioria necessária para assumir o poder. O candidato apoiado pelo PAIGC conseguiu 222.870 votos, o que representa 40,13% do eleitorado. Seguiu-se Umaro Sissoco Embaló, do MADEM-G15, com 153.530 votos, ou seja, 27,65%.
Foto: DW/B. Darame
Medalha de bronze para Nabiam
Em terceiro lugar ficou Nuno Nabiam, com 13,16% dos votos. Seguiu-se José Mário Vaz, com 12,41%, Carlos Gomes Júnior, com 2,66%, e Baciro Djá, com 1,28% do eleitorado. Vicente Fernandes conseguiu 0,77% dos votos, Mamadu Iaia Djaló 0,51%, Idriça Djaló 0,46% e Mutaro Intai Djabi 0,43% dos votos. Os candidatos que obtiveram os piores resultados foram Gabriel Fernando Indi e António Afonso Té.
Foto: picture alliance/dpa
PAIGC pede apoio de APU e FREPASNA
Segue-se agora a segunda volta, marcada para 29 de dezembro. Domingos Simões Pereira, do PAIGC, já pediu o apoio aos partidos APU-PDGB e FREPASNA. DSP disse aceitar e respeitar os resultados eleitorais divulgados e deixou um recado a Sissoco Embaló: que na campanha para a segunda volta, não serão tolerados discursos de divisão dos guineenses: "serão atacados judicial e politicamente", disse.
Foto: DW/B. Darame
MADEM-G15 conta com apoiantes de Jomav
Por sua vez, Umaro Sissoco Embaló disse confiar na vitória na segunda e voltou a fazer acusações ao adversário Domingos Simões Pereira. "A Guiné-Bissau era um país laico e de concórdia nacional, Domingos Simões Pereira semeou o ódio e a divisão entre os guineenses". Embaló já havia anunciado, antes da primeira volta, que existia um acordo entre vários partidos contra DSP, em caso de segunda volta.
Foto: Privat
Grande derrotado
O antigo chefe de Estado da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, é já considerado o grande derrotado das presidenciais. Jomav, que concorreu como independente às eleições de 24 de novembro, ficou em quarto lugar na votação, atrás de Domingos Simões Pereira, Umaro Sissoco Embaló e Nuno Nabiam. O ex-Presidente conseguiu apenas 12,41% dos votos.
Foto: DW/B. Darame
Votação ordeira
A votação de 24 de novembro foi acompanhada por 23 observadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), 54 da União Africana, 60 da CEDEAO e 47 dos Estados Unidos da América. Todos elogiaram a "calma" e "serenidade" do processo.
Foto: picture-alliance/Xinhua News Agency
Votação "transparente"
Também a CNE deu nota positiva ao processo, dando conta de que não foram registados incidentes que possam comprometer a votação. Nestas eleições, nenhum dos 12 candidatos apresentou contestações ao processo de votação. Já na véspera das eleições presidenciais, Felisberta Moura Vaz, porta-voz da CNE, havia garantido à DW que o sistema eleitoral no país "é tão transparente que não permite fraude".
Foto: DW/B. Darame
Monitorização da sociedade civil
As eleições presidenciais, assim como aconteceu nas legislativas, voltaram a contar com o trabalho da Célula de Monitorização Eleitoral da Sociedade Civil. Após a votação, a plataforma deu nota positiva ao dia eleitoral, salientando que tudo "decorreu conforme o previsto". A rede contou com 422 observadores em todas as regiões da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Doze candidatos
Durante a campanha eleitoral, foram muitas as críticas feitas aos considerados fracos discursos e programas de governação apresentados. Em entrevista à DW, a Rede Nacional das Associações Juvenis considerou que alguns candidatos deixavam muito a desejar e que outros "confundem os poderes do Presidente da República com os do Executivo nas promessas eleitorais que fazem nos comícios".
Foto: DW/B. Darame
Jomav demite governo
A campanha para as presidenciais ficou marcada pela nomeação, por parte de José Mário Vaz, de um novo Governo liderado por Faustino Imbali, que foi recusado pela comunidade internacional, e que acabou por se demitir pouco tempo depois. O próprio Jomav disse-se desautorizado pelas forças de segurança, que não facilitaram a efetivação do decreto presidencial que ditou esta nomeação.