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Ataque de Sissoco a Angola pode complicar relações

Iancuba Dansó (Bissau)
17 de março de 2020

A forma como Umaro Sissoco Embaló se dirigiu ao Presidente João Lourenço e ao seu país não se enquadra nas relações internacionais, alerta especialista em relações internacionais.

Umaro Sissoco Embaló, candidato declarado como Presidente da Guiné-Bissau pela CNE Foto: DW/J. Carlos

É a primeira vez que uma "autoridade" política guineense ataca, publicamente, um homólogo angolano e o seu país, desde o início das relações políticas e diplomáticas entre os dois países, que já duram desde a luta armada para a independência dos dois estados.

As declarações do dia 13 de março, proferidas por Umaro Sissoco Embaló, declarado como Presidente da Guiné-Bissau pela CNE, podem minar as relações entre os dois estados, observa, Midana Pinhel, especialista em relações internacionais.

"Essas declarações com certeza vão minar as relações com Angola, caso o poder que está instalado na Guiné-Bissau venha-se consolidar. Como se sabe, Angola não é só um país lusófono, mas é um país tradicionalmente amigo da Guiné-Bissau, que independentemente disso, estamos num mundo globalizado em que os parceiros e as relações internacionais devem ser cada vez mais próximos um do outro", avalia Pinhel.

João Lourenço, Presidente de AngolaFoto: DW/M. Luamba

"Quando se trata de um poder que ainda tenta afirmar-se e ter um reconhecimento internacional, eu acho que este tipo de discurso não é recomendável por aquilo que se espera da consolidação de um poder que ainda não se encaixa no quadro legitimo e nem num quadro legal da ordem constitucional da Guiné-Bissau", diz o especialista.

Mas na opinião do comentador político Françoal Dias, não deve haver motivos para alarme. "A Guiné-Bissau e Angola são países irmãos e por declarações de um ou de outro lado, ou qualquer que seja, não deve ser interpretado como motivo para corte de relações entre os países. Vamos lembrar que as relações são entre os estados e não entre os indivíduos", sublinha.

Segunda volta das presidenciais na Guiné-BissauFoto: DW/B. Barame

O ataque de Embaló

Na semana passada, proveniente de um périplo a alguns países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Embaló insurgiu-se contra uma alegada posição de Angola em relação à situação na Guiné-Bissau.

"Disparou" contra Angola e o seu Presidente João Lourenço, a quem acusa de ingratidão: "Penso que o país mais violento que existe no século XX e XXI é Angola e mataram-se entre eles irmãos. Podem imaginar eu, Umaro Sissoco Embaló, a pegar no filho de José Mário Vaz e pô-lo nos calabouços ou pegar a família de Mário Vaz e pô-la nos calabouços? Eu não sou ingrato. Mas o meu homólogo angolano está a perseguir quem lhe deu o poder de bandeja, eu sou eleito pelo povo, mas João Lourenço foi posto no poder por José Eduardo dos Santos, que é um homem que deu paz a Angola."

Melhor é fazer sempre amigos

Perante essas declarações de Umaro Sissoco Embaló, Midana Pinhel defende que, as autoridades em funções na Guiné-Bissau devem procurar melhorar as relações com Angola, através do diálogo.

"Devem criar um fórum em que se tenta estabelecer e estreitar as relações, porque se não isto só pode continuar a minar e dificultar um reconhecimento, a nível internacional deste poder", sugere Pinhel.

Ataque de Sissoco a Angola pode complicar relações

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E o especialista em relações internacionais lembra o seguinte: "Em relações internacionais devemos preocupar-nos sempre em ter mais amigos, porque só temos a ganhar, independentemente de um Estado, por mais longe que esteja dos nossos interesses, e sem relações históricas tradicionais, é sempre recomendável e desejável os discursos de amizade, como fazem os diplomatas." 

O apoio de Angola

Angola foi um dos países que apoiou financeiramente o processo eleitoral na Guiné-Bissau, contribuindo, em 2019, para as eleições legislativas, com um milhão de dólares.

Entre 2010 e 2012, uma missão técnica militar angolana esteve na Guiné-Bissau, para ajudar as autoridades na implementação das reformas nos setores da Defesa e Segurança. Mas a equipa acabou por ser descartada, depois do golpe de Estado que depôs o regime de Carlos Gomes Júnior.

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