Guiné-Bissau: Atos isolados de violência mancham país
Lusa
10 de maio de 2022
Atos "isolados de violência" estão a contribuir para manchar a imagem da Guiné-Bissau, afirmou o presidente do Partido de Renovação Social, Fernando Dias. Primeiro-ministro, Nuno Nabiam, repudia ataque contra deputado.
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Fernando Dias, que é também ministro da Administração Territorial e Poder Local no Governo, afirmou que o PRS repudia atos de violência contra as instituições da República, bem como contra os cidadãos.
Em declarações à Lusa, o dirigente referiu-se à tentativa de golpe de Estado ocorrida no dia 01 de fevereiro para afirmar que o PRS "também foi vítima dos ataques no palácio do Governo", por ser parte da coligação que sustenta o executivo liderado pelo primeiro-ministro, Nuno Nabiam.
Homens armados atacaram o palácio do Governo no dia 01 de fevereiro numa altura em que aí decorria o Conselho de Ministros presidido pelo chefe de Estado guineense, Umaro Sissoco Embaló.
"Condenámos na altura essa tentativa de golpe de Estado, porque a Guiné-Bissau é um Estado de Direito democrático, qualquer pessoa que se sentir lesada deve recorrer à justiça para fazer valer os seus direitos", observou Fernando Dias.
"O PRS sempre condenou atos de violência porque o princípio basilar do partido é não violência", observou Fernando Dias, alertando que "atos isolados" contribuem para "manchar a imagem" do país.
"Exigimos que todos nós paremos porque estamos a estragar a imagem do nosso país com estes sucessivos atos isolados de violência que estão a acontecer cada vez mais", referiu o dirigente.
A polícia guineense considerou, na segunda-feira (09.05), que o ataque ao líder da União para a Mudança, foi um ato isolado, mas que vai ter uma investigação "séria e rápida".
PR considera ataque 'assunto de polícia'
O Presidente guineense considerou hoje que o ataque ao deputado é um assunto da polícia, referindo que na "Guiné tudo se passa".
"Isso é assunto da polícia, vá ao Ministério Interior, à Polícia Judiciária. Não falo do cidadão Agnelo Regala. Não sei se é atentado, se é intentona, na Guiné tudo se passa", disse o chefe de Estado.
Por seu lado, o primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Nuno Nabiam, repudiou o ataque e assegurou que a polícia está a investigar o caso.
"Está a fazer-se um trabalho de investigação. É um ato que todos nós repudiamos, mas de qualquer das formas deixamos que as autoridades façam o seu trabalho", referiu o chefe do Governo guineense.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.