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Jomav e Domingos Simões: Guiné-Bissau à espera do duelo?

Iancuba Dansó (Bissau)
3 de setembro de 2019

As eleições de 24 de novembro vão vincar ainda mais a oposição entre duas grandes figuras políticas: Domingos Simões Pereira, apoiado pelo PAIGC, e José Mário Vaz, presidente cessante, que se apresenta como independente

José Mário Vaz (esq.) e Domingo Simões Pereira (dir) (Fotos de arquivo/2014)
José Mário Vaz (esq.) e Domingo Simões Pereira (dir) (Fotos de arquivo/2014)Foto: Seyllou/AFP/Getty Images/CPLP

Há uma grande expetativa por um duelo entre grandes figuras políticas nas eleições presidenciais de 24 de novembro na Guiné-Bissau. Os dois homens que ambicionam a Presidência do país, José Mário Vaz, à procura da reeleição, e Domingos Simões Pereira, que tenta chegar pela primeira vez à mais alta magistratura do país, têm origem no Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

José Mário Vaz (esq.) e Domingo Simões Pereira (dir) (Fotos de arquivo/2014)Foto: Seyllou/AFP/Getty Images/CPLP

Previsões 

O analista político guineense, Augusto Nhaga, que considera José Mário Vaz e Domingos Simões favoritos, acredita que será uma disputa muito renhida. Mas destaca algumas diferenças entre as duas candidaturas: "Um tem o apoio da máquina do PAIGC, partido que suporta o Governo, partido da nova maioria parlamentar. O outro tem a imagem do Presidente da República e alguma franja da sociedade, que de uma forma voluntária ou não decidiu apoiar a sua candidatura”, diz.

Nhaga acredita que quem sair derrotado no embate terá algumas complicações, que poderão, eventualmente, contribuir para agravar a sua progressão na política: "Porque se um destes candidatos ganhar, vai consolidar a sua posição política e tentar, no máximo, fragilizar a parte derrotada. Por isso, ninguém vai baixar braços e ninguém vai encarar o processo com ânimo leve”.

Para Nhaga, Domingos Simões Pereira vai ter a máquina do PAIGC a acompanhar a sua candidatura, com o objetivo de tentar salvaguardar e consolidar a maioria governativa. "Porque com a sua vitória vai-se consolidar a maioria e projetar as próximas fases da luta. José Mário Vaz, por seu lado, vai tentar manter a sua linha de atuação, procurando novas alianças políticas.

Jomav e Domingos Simões: Guiné-Bissau à espera do duelo?

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Na eventualidade da vitória de José Mário Vaz, o analista aposta até em uma possível descontinuidade com o Governo do PAIGC. "Isso será uma situação um pouco mais delicada a qualquer dirigente ou militante do PAIGC. Em caso da segunda volta, toda a oposição vai-se posicionar ao lado de Mário Vaz, para ver se consegue a alteração do atual quadro político”, explica.

O analista afasta ainda qualquer cenário da violência física ou verbal, mas prevê muitas trocas de acusações entre os apoiantes, e também entre os candidatos.

Voz das ruas

Nas ruas de Bissau, os cidadãos desvalorizaram o duelo. A capacidade do futuro Presidente de unir o país foi considerado um critério mais relevante para os entrevistados, como disse Alice Moreira, cidadã: "Eu espero tudo. O importante é um deles ser dada a oportunidade para trabalhar e mostrar o que sabe fazer em prol da Guiné-Bissau”.

Alfredo Gomes, estudante, também valoriza a união e a estabilidade do país: "Neste momento, precisamos de um candidato capaz de unir a família guineense e também a própria imagem da Guiné-Bissau precisa de ser resgatada, a nível internacional".

Eleições Presidenciais na Guiné-Bissau (Foto de Arquivo/2014)Foto: DW/M. Pessoa

Passado com divergências

As divergências entre Jomav e Domingos Simões Pereira são antigas. Primeiro, José Mário Vaz, que foi apoiado pelo PAIGC para chegar à Presidência da República, demitiu o Governo de Domingos Simões Pereira, em agosto de 2015, alegando os sinais evidentes da corrupção, no executivo, e a falta de confiança mútua com o então chefe do Governo.

Depois, seguiram-se várias trocas de acusações e de argumentos entre os dois, até que, o PAIGC voltou a ganhar as eleições legislativas em março de 2019. José Mário Vaz recusou a nomeação do seu oponente, Domingos Simões, argumentando que não havia condições para uma coabitação, mesmo estando a poucos dias do fim do seu mandato presidencial. Uma decisão que foi aplaudida, pelos apoiantes do Presidente cessante, e repudiada pelo PAIGC e os seus aliados políticos.