A campanha eleitoral para as eleições de domingo (29.12) na Guiné-Bissau terminou sem incidentes. O discurso com o apelo ao voto étnico e religioso marcou a corrida presidencial para a sucessão de José Mário Vaz.
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Chegou ao fim esta sexta-feira (27.12) a campanha eleitoral com vista a segunda volta das eleições presidenciais na Guiné-Bissau. Foram 15 dias de caça ao voto entre os dois candidatos que disputam a Presidência do país. Domingos Simões Pereira ou Umaro Sissoco Embaló: um deles será eleito já no domingo para um mandato de cinco anos.
Guiné-Bissau: Caça ao voto termina sem incidentes
Os dois encerraram a campanha na capital guineense, Bissau. Domingos Simões Pereira fechou o seu percurso no estádio Lino Correia, no centro da cidade. Em exclusivo à DW África, o presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), partido no poder, não esconde a sua satisfação pela aderência ao seu manifesto eleitoral.
"Faço um balanço extraordinariamente positivo. Tive a oportunidade de viajar pelo país, andar pelas três províncias. Todas as nove regiões do país. Ouvir os meus concidadãos guineenses, desde os mais jovens até aos mais velhos, ouvir as suas aspirações e preocupações e sentir que há uma forte adesão ao projeto que nós apresentamos que as pessoas querem ouvir falar de esperança, de futuro, de um projeto político capaz de congregar os guineenses", disse Simões Pereira, acrescentando que "todos compreendem que há uma candidato com projeto e com a visão do futuro".
O candidato do PAIGC afirmou que acredita na vitória porque o povo guineense está confiante: "Ouvi uma frase que me pareceu traduzir aquilo que é o sentimento geral do povo neste momento. Votar no Domingos Simões Pereira é colocar o povo no poder".
"Presidente exemplo"
Também aos microfones da DW África, falando de cima de uma viatura, o candidato Umaro Sissoco Embaló, do Movimento para Alternância Democrática (MADEM-G15), disse que será um Presidente jovem e pragmático.
"Com essa moldura humana que nos espera, estou confiante que 60% dos guineenses vão votar em mim no próximo domingo. Serei um Presidente exemplo, pragmático e da geração de concreto", afirmou Sissoco durante um ato de encerramento da sua campanha.
Sissoco espera que por ser mais jovem do que o seu concorrente terá o voto da juventude para ser eleito. O candidato apoiado pelo MADEM-G15 defendeu que: "O Nino Vieira quando foi o Presidente da Guiné-Bissau era mais jovem do eu, mas entre eu e o Domingos sou mais jovem. Já tenho 47. Alegro-me de ser o candidato mais jovem".
Tudo pronto para a votação
Para a votação deste domingo, que contará com mais de 7 mil agentes de segurança, o comissário nacional da Polícia da Ordem Pública, Armando Nhaga, garantiu esta sexta-feira (27.12) que tudo está pronto a 100 por cento.
Por seu turno, o presidente da Comissão Nacional de Eleições, José Pedro Sambú, afirmou estar determinado em garantir eleições "livres e transparentes" e apresentar resultados "justos e credíveis".
"A Comissão Nacional de Eleições reafirma de forma inequívoca a sua determinação em observar integralmente todos os parâmetros das democracias modernas e pluralistas.Urge destacar que diferentes organizações da sociedade civil, congregadas numa célula de monitorização das eleições, estarão no terreno e em toda a dimensão do território nacional para o acompanhamento das operações de votação e apuramento local", informou Sambú.
O ato eleitoral deste domingo, que convoca mais de 760 mil eleitores guineenses, vai ser acompanhado pela comunidade internacional através de missões de observação eleitoral da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), União Africana, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Organização Internacional da Francofonia, Organização da Cooperação Islâmica, Estados Unidos e Parlamento britânico.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.