Guiné-Bissau: Campanha do caju com vigilância reforçada
Lusa | mjp
30 de março de 2019
A campanha de comercialização do caju, principal produto de exportação da Guiné-Bissau, começa este sábado. Fronteiras são reforçadas com fiscais e inspetores para impedir a "fuga" da castanha.
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A campanha de comercialização do caju, principal produto de exportação do país e da qual depende mais de 50% da população guineense, tem início este sábado (30.03), com o preço mínimo de referência para o agricultor fixado em 500 francos cfa (0,76 euros).
O valor foi fixado esta semana pelo Executivo guineense, que decidiu também fixar a "base tributária em 1.222 dólares [cerca de 1.084 euros] por tonelada".
O Fundo Monetário Internacional (FMI) pediu à Guiné-Bissau para realizar uma campanha de comercialização de caju transparente e concorrencial, assegurando um preço de referência consistente com o praticado no mercado internacional.
Travar a saída ilegal
Este sábado, o ministro guineense do Comércio, Vicente Fernandes, afirmou que vai reforçar as fronteiras terrestres do país com inspetores e fiscais para impedir a "fuga" de castanha de caju do país.
"Vamos por equipas de inspetores e fiscais no terreno, sobretudo nas zonas mais próximas da fronteira, para controlar a fuga da castanha para o Senegal, que é um país que exporta, mas não tem produção", afirmou Vicente Fernandes.
"Isso significa que é da nossa produção, que infelizmente devido à porosidade da nossa fronteira transpõe e acaba por beneficiar a sua economia em resultado da nossa incapacidade de proteger o nosso produto e a nossa economia", explicou o ministro.
Para acautelar a saída ilegal de castanha de caju pela fronteira terrestre, o ministro do Comércio já teve um encontro com o ministro do Interior, Edmundo Mendes, para ser definida uma colaboração mais estreita.
"Vamos reforçar mais a vigilância nas fronteiras e contar com a colaboração das autoridades militares e paramilitares para estancar esta hemorragia e permitir que a exportação aconteça, como a lei determina, e que o escoamento seja feito por via marítima através do porto de Bissau", disse.
Questionado sobre a quantidade de castanha de caju que passa ilegalmente pela fronteira terrestre, o ministro disse que em 2018 foram cerca de 50.000 toneladas.
PM pede mais investimento
O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, defendeu este sábado que é necessário investir na promoção da fileira do caju do país e que os exportadores já têm uma "ideia clara" da nova taxa de promoção daquele produto.
"É uma taxa de 15 francos cfa (cerca de dois cêntimos de euro) por quilograma de caju, que vai permitir fazer funcionar a estrutura de regulação do setor do caju, que é a Anca (Agência Nacional do Caju), e ao Governo constituir o fundo de promoção", afirmou Aristides Gomes. O primeiro-ministro falava aos jornalistas no final da cerimónia de lançamento oficial da campanha de comercialização e exportação do caju, que decorreu no centro de transformação daquele produto, na zona industrial de Brá, em Bissau.
A nova taxa de sobrevalorização do caju tem sido contestada pelos exportadores, que são contra parte do dinheiro ser entregue à Anca, que, segundo o presidente da Associação de Exportadores do país, Mamadu Jamanca, não tem prestado contas.
Segundo o primeiro-ministro, a nova taxa vai permitir tratar os pomares e a criação de fundo para facilitar a obtenção de crédito junto dos bancos aos empresários que participam na campanha.
Sumos, bolachas e até "bifes" para diversificar rendimento do caju
O caju é a principal fonte de rendimento dos produtores guineenses. A fim de estimular a economia, os produtores de Ingoré uniram-se na cooperativa Buwondena, onde produzem sumo, bolachas e até "bife" de caju.
Foto: Gilberto Fontes
O fruto da economia
Sendo um dos símbolos da Guiné-Bissau, o caju é a principal fonte de receita dos camponeses. A castanha de caju representa cerca de 90% das exportações do país. Este ano, foram exportadas 200 toneladas de castanha de caju, um encaixe de mais de 250 mil euros. A Índia é o principal comprador. O caju poderá trazer ainda mais riqueza ao país, se houver maior aposta no processamento local do produto.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no processamento
Em Ingoré, no norte da Guiné-Bissau, produtores de caju uniram-se na cooperativa Buwondena - juntamos, em dialeto local balanta - para apostar no processamento do caju. Antes, aproveitava-se apenas a castanha, desperdiçando o chamado pedúnculo, que representa cerca de 80% do fruto. Na cooperativa produzem-se agora vários produtos derivados do caju.
Foto: Gilberto Fontes
“Bife” de caju
Depois de devidamente preparado, o pedúnculo, que é a parte mais fibrosa do caju, pode ser cozinhado com cebola, alho e vários temperos. O resultado final é o chamado “bife” de caju.
A partir das fibras, produz-se também chá, mel, geleia, bolacha, entre outros. Ao desenvolverem novos produtos, os produtores diversificam a dieta e aumentam os seus rendimentos.
Foto: Gilberto Fontes
Néctar de caju
Depois de prensadas as fibras do caju, obtém-se um suco que é filtrado várias vezes, a fim de se produzir néctar e sumo. Com 50% desse suco e 50% de água com açúcar diluído, obtem-se o néctar de caju. Este ano, a cooperativa Buwondena produziu quase 400 litros desta bebida.
Foto: Gilberto Fontes
Sumo de caju
O sumo resulta da pasteurização do suco que foi filtrado do fruto, sem qualquer adicionante. Cada garrafa destas de 33cl de sumo de caju custa quase 0.40€. Ou seja, um litro de sumo pode render até 1.20€. O que é bem mais rentável que vinho de caju, produzido vulgarmente na Guiné-Bissau, que custa apenas 0.15€ o litro. Em 2016, foram produzidos na cooperativa quase 600 litros de sumo de caju.
Foto: Gilberto Fontes
Mel de caju
Clode N'dafa é um dos principais especialistas de transformação de fruta da cooperativa. Sabe de cor todas as receitas da cooperativa e só ele faz alguns produtos, como o mel. Mas devido à falta de recipientes, este produziu-se pouco mel de caju. Desde que se começou a dedicar ao processamento de fruta, Clode N'dafa conseguiu aumentar os seus rendimentos e melhorar a vida da sua família.
Foto: Gilberto Fontes
Castanha de caju
Este continua a ser o produto mais vendido pela cooperativa. O processamento passa por várias etapas: seleção das melhores castanhas, que depois vão a cozer, passam à secagem, ao corte e vão à estufa. As castanhas partidas são aproveitadas para a produção de bolacha de caju. Este ano, a cooperativa conseguiu fixar preço da castanha de caju em 1€ o quilo, protegendo os rendimentos dos produtores.
Foto: Gilberto Fontes
Potencial para aumentar produção
A maior parte dos produtos são vendidos localmente, mas alguns são comercializados também em Bissau e exportados para o Senegal. A produção decorre sobretudo entre os meses de março e junho, período da campanha do caju. No pico de produção, chegam a trabalhar cerca de 60 pessoas. Se a cooperativa conseguisse uma arca frigorífica para armazenar o caju, continuaria a produção depois da campanha.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no empreendedorismo
A cooperativa Buwondena aposta na formação a nível de empreendedorismo, para que os produtores possam aumentar o potencial do seu negócio. A cooperativa pretende criar uma caixa de poupança e crédito. O objetivo é que, através de juros, os produtores possam rentabilizar as suas poupanças e apostar noutros negócios.
Foto: Gilberto Fontes
É urgente reordenar as plantações
A plantação de cajueiros é outra das preocupações da cooperativa: uma plantação organizada, com ventilação é fundamental para aumentar a rentabilidade.
Devido ao peso do sector do caju na economia da Guiné-Bissau, todos os anos são destruídos entre 30 e 80 mil hectares de floresta para a plantação de cajueiros. Especialistas defendem uma reordenação urgente das plantações.