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Segurança alimentarGuiné-Bissau

Guiné-Bissau: Como contornar a crise alimentar aguda?

Iancuba Dansó (Bissau)
8 de fevereiro de 2025

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) avança que mais de 100 mil pessoas sofrem desse problema e analista defende à DW que é preciso agir.

Plantações de arroz na Guiné-Bissau (foto de arquivo)
Plantações de arroz na Guiné-Bissau (foto de arquivo)Foto: DW/B. Darame

Quando se fala de segurança alimentar na Guiné-Bissau, o arroz vem logo à mente. Sendo a base da alimentação no país, ele é visto como peça-chave na luta contra a fome. No entanto, diversas organizações não-governamentais alertam que a questão vai muito além da produção e consumo desse cereal.

Para enfrentar a insegurança alimentar, essas organizações defendem a diversificação das culturas agrícolas e o fortalecimento da produção local. Investir em materiais e técnicas mais eficientes, além de garantir melhores fontes de rendimento para as famílias, é essencial para construir um sistema alimentar mais sustentável. Mas o cenário não tem sido assim.

Se não forem tomadas medidas urgentes, 130 mil pessoas poderão ser impactadas pela fome na Guiné-Bissau até o final deste anoFoto: DW/B. Darame

Insegurança alimentar aguda

Na semana passada, Mohamed Hamma Garba, representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) na Guiné-Bissau, alertou que "mais de 107 mil pessoas no país enfrentam insegurança alimentar aguda". Segundo ele, se não forem tomadas medidas urgentes, esse número pode subir para quase 130 mil até ao final de 2025.

O engenheiro agrónomo Iaia Djau ressalta a gravidade da situação e aponta as causas do problema. "Uma das principais razões da insegurança alimentar é a falta de políticas concretas, somada às mudanças climáticas e à escassez de chuva", explica.

Iaia Djau, agrónomoFoto: Iancuba Dansó/DW

Djau destaca que grande parte da produção agrícola no país depende diretamente da água, sendo baseada num sistema de sequeiro. "Dependemos muito da chuva", sublinha, evidenciando a vulnerabilidade da agricultura guineense face às variações climáticas.

Carnes e pescado

Além disso, para o agrónomo Iaia Djau, garantir a segurança alimentar na Guiné-Bissau não se limita a apenas produzir o arroz, que já é a base de consumo no país. Ele diz que é preciso garantir o acesso ao consumo de produtos como a carne, ou o pescado.

Capacitar mulheres é uma das soluções para enfrentar a crise alimentar na Guiné-Bissau. Nesta imagem, guineenses numa plantação de arroz Foto: DW/F. Tchumá Camará

Por outro lado, o representante da FAO na Guiné-Bissau, Mohamed Hamma Garba, acredita que a solução para a insegurança alimentar deve passar pela capacitação dos grupos vulneráveis - nomeadamente as mulheres - que desempenham um "papel fundamental" na produção e no abastecimento alimentar.

Mas, segundo o engenheiro agrónomo Iaia Djau, é preciso fazer muito mais. "Nós temos que investir a sério na produção local. Neste momento, só estamos a importar, e o pouco que produzimos não dá conta das nossas necessidades. Por isso, é fundamental adotar políticas sérias, com foco na pesquisa, para que possamos gerar conhecimento técnico e fortalecer a nossa capacidade produtiva", argumenta.

Estabilidade política

Para Gueri Gomes Lopes, coordenador Nacional do Fórum das Organizações da Sociedade Civil da África Ocidental (FOSCAO), a estabilidade política é condição para que se garanta a segurança alimentar na Guiné-Bissau.

"Quando falamos das políticas públicas, um dos elementos essenciais para a sua exequibilidade é a estabilidade política. Mas quando um país, politicamente, está [em constante] instabilidade, tem limitações com o investimento necessário para garantir a segurança alimentar".

Além das alterações climáticas, a falta de meios de produção (como instrumentos agrícolas e sementes) e a incapacidade para escoar os produtos são apontados pelos especialistas como principais fatores da insegurança alimentar na Guiné-Bissau.

A DW África contactou o Ministério da Agricultura para responder questionamentos sobre o assunto, sem sucesso.

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