Data de eleições na Guiné-Bissau será definida quinta-feira
19 de dezembro de 2018
Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz convoca todos atores políticos para definirem, de uma vez por todas, a data das eleições que deverá ser anunciada até sexta-feira (21.12.) tal como exige a CEDEAO.
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Com o fim do recenseamento eleitoral nesta quarta-feira (19.12) anunciada oficialmente pelo Governo, o Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz convocou para esta quinta-feira (20.12) todos os partidos políticos, o primeiro-ministro e o presidente da Comissão Nacional de Eleições para em conjunto definirem a data consensual para as legislativas. O Governo guineense propôs 17 de fevereiro, enquanto vários partidos sugerem 10 de março e a CEDEAO aponta meados de janeiro como sendo data limite para a organização do escrutínio.
Apesar de ser um recenseamento eleitoral muito contestado pelos partidos políticos, nomeadamente, o Partido da Renovação Social (PRS), a segunda maior força política do país e que faz parte do atual Governo de Consenso, o processo de registo eleitoral terminou com mais de 90% dos 900.000 potenciais eleitores recenseados, segundo o executivo liderado por Aristides Gomes. Ainda se aguarda pelas conclusões de um inquérito em curso ao processo que está a ser elaborado pelo Ministério Público na sequência da queixa apresentada por um grupo de partidos políticos que apontam uma série de irregularidades no processo.
Sobre o fim do recenseamento, anteriormente anunciado oficialmente para esta quarta-feira (19.12), não há pronunciamento do Governo nem das principais forças políticas que aguardam o encontro com Presidente para definirem posições futuras, disseram vários partidos contatados pela DW África em Bissau.
Greve dos motoristas com 100% de aderência
Entretanto, se realmente o recenseamento eleitoral terminou hoje, esta quarta-feira foi também o dia em que a Guiné-Bissau ficou completamente paralisada devido a greve dos motoristas que protestam contra cobranças ilícitas dos agentes da polícia de trânsito nas estradas, principalmente nesta quadra festiva, disse à DW África, o presidente da Federação dos sindicatos de motoristas do país, Bubacar Felix que fala em 100% de aderência ao movimento.
"É na quadra festiva do Natal que eles amedrontam os motoristas. Esse é o momento mais oportuno que eles roubam dinheiro dos motoristas com cobranças ilícitas e vão comer com as suas famílias e os filhos de motoristas ficam em casa a mendigar comida no dia de festa. O responsável por tudo isto é o Governo que não cumpriu nenhum dos pontos do memorando que assinamos”.
O local de onde partem a maior parte das viaturas que fazem a ligação entre Bissau e outras zonas do interior do país esteve durante todo o dia vazio e apenas se encontravam no local vendedeiras, que lamentaram a falta de clientes.
Um motorista, que não quis ser identificado, disse que a greve é para reivindicar melhores estradas, melhores condições de circulação e para exigir garantias de que as multas que pagam entrem efetivamente para os cofres do Estado.
Polícia detém seis dirigentes sindicais
Bubacar Felix acusa ainda a polícia de ter detido, sem mandado judicial, seis elementos da sua organização, que se encontravam em greve.
"Foram a nossa sede numa viatura com 20 agentes justamente quando estávamos a fazer o primeiro balanço da greve e perguntaram onde esta<vam os sindicalistas?! Depois, à minha frente prenderam, mais cinco membros da federação que ainda estão detidos na 2ª esquadra a mando do Ministério do Interior".
Fonte da polícia disse, entretanto, que os seis dirigentes sindicais foram detidos "por estarem a impedir os outros motoristas de trabalhar". Para o sindicalista que diz estar em local incerto, mesmo com a perseguição das forças policiais, vão decretar uma nova paralisação de 15 dias, a partir da sexta-feira (21.12.) dia em que termina a primeira greve de três dias.
"Neste momento estou num local que não posso revelar, mas a greve está de pé e se esta paralisação de três se concretizar, vamos convocar uma nova greve de duas semanas, mesmo sendo na quadra festiva”.
Guiné-Bissau: Data das legislativas será decidida na quinta-feira
Em outubro, a Federação Nacional das Associações dos Motoristas da Guiné-Bissau convocou uma greve de três dias, que acabou por ser cancelada ao fim do segundo na sequência de um acordo alcançado com o Governo.
Governo na cumpre acordos
Recorde-se que a federação, a Polícia de Ordem Pública, a Guarda Nacional e a Direção-Geral de Viação e Transportes Terrestres assinaram um memorando de entendimento com 19 pontos, que previa, entre vários pontos, o respeito escrupuloso do Código de Estrada e a criação de um calendário para a realização das operações stop, que devem decorrer em determinadas horas do dia, nomeadamente entre as 06:00 e as 14:00 e as 16:00 e as 21:00.
Ficou também acordado que as fiscalizações não devem ser confundidas com operações stop e que nas operações todos os envolvidos têm de estar devidamente identificados.
O memorando de entendimento prevê também a definição de competências e de áreas de intervenção das várias forças de segurança e direção-geral de viação.
Na altura, a federação tinha dado 60 dias para o Governo definir as competências e as áreas de intervenção, bem como para aplicar a totalidade dos pontos do memorando de entendimento. Mas a Federação disse à DW que até hoje o Governo ignorou essas exigências.
Ser mulher na Guiné-Bissau significa vida dura
A maioria das mulheres guineenses tem uma vida difícil. Têm de percorrer dezenas de quilómetros para ir buscar lenha. Muitas morrem ainda jovens. A taxa guineense de mortalidade materna é uma das mais altas do mundo.
Foto: DW/B. Darame
Primeira a acordar, última a ir dormir
No campo, uma mulher trabalha a dobrar. Costuma acordar antes dos restantes membros da família e é a última a deitar-se no final do dia. São as mulheres que têm de caminhar até à mata para procurar lenha e água, às vezes em zonas de difícil acesso, a vários quilómetros da aldeia, como nesta fotografia na vila de Quinhamel, na região de Biombo, no norte da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Vender para sustentar a família
Com um pano estendido no chão, as vendedoras vão expondo os seus legumes, malaguetas verdes, pepinos, cenouras, alfaces. São cultivados em quintais ou em pequenos campos. "Vender para sustentar a família" é o lema das mulheres guineenses. Mais de metade vende em feiras improvisadas, como aqui no Mercado de Bandim, o maior mercado de céu aberto da cidade de Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Economia dominada por homens
À beira das estradas, as mulheres sentam-se em bancos e mesas de madeira e vendem laranjas, mangas, bananas e outros frutos - como aqui em Bissack, bairro nos arredores de Bissau. As vendedoras têm uma receita que ronda os 10 euros diários. Em média, uma guineense consegue ganhar 907 dólares por ano, bastante menos que os homens que conseguem em média 1.275 dólares.
Foto: DW/B. Darame
Recolher areia para sobreviver
Tia Nhalá não sabe que idade tem, mas sabe que todos os dias deve acordar cedo, às 05h00, para recolher areia no bairro de Cuntum, em Bissau. Sem qualquer proteção no rosto, sem luvas e pés descalços, Nhalá, que aparenta ter 67 anos, trabalha duramente durante largas horas. Recolhe areia que depois vende a pessoas que a usam em obras de construção civil.
Foto: DW/B. Darame
Venda ambulante em condições perigosas
No Bairro de Belém, em Bissau, meninas deambulam de porta em porta para vender frutas. Organizações da sociedade civil denunciaram já várias vezes que as vendedoras ambulantes correm riscos, como o de serem violadas sexualmente, pois estão muito expostas e vulneráveis. Também há denúncias de que algumas mulheres são forçadas a fazer esse trabalho.
Foto: DW/B. Darame
Vender peixe é um bom negócio
As vendedoras de peixe geralmente possuem arcas velhas para a conservação do pescado. Colocam-nas nos portos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - para servir de local de armazenamento quando receberem peixe fresco dos pescadores. Nos últimos anos, a venda de peixe tornou-se num dos negócios mais rentáveis para as mulheres guineenses.
Foto: DW/B. Darame
Um dos piores países para ser mãe
As condições precárias nas zonas rurais da Guiné-Bissau têm reflexos nas estatísticas: em 126 partos morre uma mulher, segundo dados das Nações Unidas. Em comparação, no Japão, em 20.000 partos morre uma mulher. A taxa de mortalidade materna na Guiné-Bissau é uma das mais altas do mundo. Ainda assim, não existe no país uma estratégia política dirigida à mulher no meio rural.
Foto: DW/B. Darame
País difícil para as crianças
Cada mulher guineense tem em média cinco filhos. O país tem uma das taxas de fecundidade mais altas do mundo. Mas muitas crianças não chegam a celebrar o seu quinto aniversário. Segundo dados das Nações Unidas, 129 de 1.000 crianças morrem até aos cinco anos de idade, muitas durante no parto, o que torna a Guiné-Bissau um dos piores países do mundo para se nascer.
Foto: DW/B. Darame
Trabalhos domésticos no feminino
Em Mansoa, região de Oio, norte da Guiné-Bissau, as casas de adobe agrupadas debaixo de enormes árvores desenham intricados caminhos onde secam redes de pesca, peles de antílopes e roupas rasgadas de criança. A comida prepara-se num fogão improvisado a lenha, em frente da casa. Trabalhos domésticos como cozinhar, cuidar das crianças ou limpar cabem tradicionalmente às mulheres.
Foto: DW/B. Darame
Carregar à cabeça é a única solução
Nas zonas mais recônditas da Guiné-Bissau, como na aldeia de Suru, região de Biombo, a cerca de 20 quilómetros de Bissau, não há uma rede de estradas que facilite o transporte das mercadorias. Não há carros que façam as ligações entre as aldeias. Carregar à cabeça, por vezes mais de cinco quilos, é a única solução para que essas mulheres possam fazer chegar os produtos ao destino.
Foto: DW/B. Darame
Lenha e água a quilómetros de distância
Nas mais de 80 ilhas e ilhéus completamente isolados e sem grande presença do Estado guineense, as populações vivem no regime do "salva-se quem poder". As mulheres percorrem dezenas de quilómetros para ir buscar lenha e água potável. Em muitos casos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - atravessam rios caminhando, com os pés descalços, sem roupas adequadas e carregadas.
Foto: DW/B. Darame
Ultrapassando rios e braços de mar
Devido à falta de barcos nas aldeias insulares do arquipélago dos Bijagós, o fornecimento e o transporte de bens é extremamente difícil. É recorrente ver mulheres atravessando rios ou braços de mar bastante profundos. Estes caminhos para procurar lenha e água doce são bastante perigosos para quem não sabe nadar.
Foto: DW/B. Darame
Desigualdade começa na educação
A maioria das mulheres guineenses vive em situação de extrema pobreza. Em médias, as mulheres frequentaram a escola apenas 1,4 anos, menos de metade do que os homens guineenses, que têm em média 3,4 anos de escolaridade, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. Só investindo na educação e na saúde será possível melhorar a situação das mulheres da Guiné-Bissau.