Guiné-Bissau desmente acordo com Senegal sobre petróleo
Iancuba Dansó (Bissau)
29 de novembro de 2021
Imprensa guineense noticia existência de um acordo entre a Guiné-Bissau e o Senegal para explorar petróleo na Zona Conjunta, mas a Agência de Gestão e Cooperação desmente. Sociedade civil pede "envolvimento do povo".
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Na Guiné-Bissau, volta à ribalta o assunto polémico em torno da exploração de petróleo com o Senegal. Na semana passada, o jornal "O Democrata" escreveu que o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, teria assinado um suposto "Acordo de Exploração da Zona Conjunta" com o Senegal, "sem o aval" do Parlamento e sem ter informado o Governo liderado por Nuno Nabiam.
A mesma publicação afirma que o Conselho de Ministros do Governo senegalês, realizado na quarta-feira (24.11), exortou o Presidente Macky Sall a ratificar o acordo que terá assinado a 14 de outubro, com o homólogo guineense.
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Autoridades negam, jornalistas condenam "tabu"
O editor-chefe do "O Democrata", Armando Lona, é um dos jornalistas que criticam o tabu à volta do assunto: "Porque é que [a abordagem sobre] o recurso do país tem que ser tabu? Porque é que é tabu? As pessoas têm que prestar contas, o recurso não é de quem está no poder, é da Guiné-Bissau".
Mas o secretário-geral da Agência de Gestão e Cooperação (AGC) da Zona Económica Conjunta (ZEC) entre a Guiné-Bissau e o Senegal, Inussa Baldé, afirma que não há acordo de petróleo assinado: "Existe um acordo de cooperação e gestão entre a Guiné-Bissau e o Senegal, não existe um acordo de petróleo, estamos na fase de procura de petróleo", frisa.
Para o responsável, "é necessário que as pessoas compreendam que este acordo de cooperação e gestão tem dois componentes, que são as pescas, os recursos haliêuticos, e o hidrocarbonetos, o petróleo".
Envolvimento do povo
Em outubro de 2020, o ministro senegalês da Economia, Amadou Hont, admitiu a assinatura de um acordo de exploração de petróleo entre a Guiné-Bissau e o Senegal, versão sempre negada pelas autoridades nacionais.
O coordenador da ONG "Nô Recursos" (os nossos recursos) Justino Sá, defendeu, à DW África, que o povo deve ser envolvido em toda a matéria ligada à exploração dos recursos naturais: "A exploração dos recursos não se faz de um dia para outro. É bom envolver o povo e fazer uma campanha de sensibilização, tendo em conta a implicação da exploração", afirmou.
Justino Sá justifica: "As implicações são muitas, não apenas económicas, mas também implicações que podem ter repercussão negativa na vida da população. É por isso que tem que haver uma campanha de informação e de sensibilização, para que o povo possa estar ao mesmo nível de informação dos governantes".
Agência de Gestão Comum criada em 1993
Depois de assinatura de um acordo entre os dois países, em 1993, foi criada a Agência de Gestão Comum (AGC) formada por Guiné-Bissau e Senegal, que coordena a aplicação do mesmo documento, que inclui a criação de uma Zona de Exploração Conjunta.
Na ZEC, a Guiné-Bissau contribuiu com 46% do território marítimo e o Senegal com 54%. Segundo o acordo que constituiu essa zona, em caso da exploração de hidrocarbonetos, os senegaleses beneficiam com 85% e os guineenses com 15%, uma chave de partilha que tem sido muito criticada por organizações da sociedade civil da Guiné-Bissau.
Casamança: Um conflito (quase) esquecido
A região de Casamança, no sul do Senegal, é um foco de conflito há 30 anos - embora oficialmente prevaleça a paz. Com uma nova operação militar, o Exército tem tomado medidas contra os refúgios dos grupos rebeldes.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Nova ofensiva do Exército
No início de fevereiro de 2021, soldados do Governo senegalês participaram numa operação para encontrar rebeldes em Casamança. A região no sudoeste do Senegal é palco de um conflito em ebulição desde os anos 80. Embora ultimamente a situação se mantenha relativamente calma, em janeiro deste ano o Governo lançou uma nova ofensiva contra os refúgios dos rebeldes.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Rebelião sangrenta
O círculo vicioso de violência começou em 1982, quando os líderes do Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MFDC), que até então lutavam pacificamente pela independência da região, foram presos. Nos anos seguintes, o grupo radicalizou-se e, a partir de 1990, recebeu apoio militar vindo de território guineense. Também a vizinha Gâmbia é cada vez mais arrastada para o conflito.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Negociações falhadas
Houve várias tentativas de um cessar-fogo nos anos 90, que não duraram muito tempo, em parte porque o braço armado do MFDC continuou a fragmentar-se. Apesar de várias tentativas do fundador do MFDC, Augustin Diamacoune Senghore, para alcançar um acordo com o Governo do Senegal, só entre 1997 e 2001 centenas de pessoas foram mortas e milhares tiveram de fugir.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Momento histórico
Em abril de 2001, o então Presidente senegalês Abdoulaye Wade (à direita) viajou para Ziguinchor, em Casamança, um ano após a sua tomada de posse. O novo chefe de Estado queria negociar um caminho para a paz com o líder separatista Augustin Diamacoune Senghore (à esquerda), mas como o acordo contornava a questão da autonomia, volta a ser rejeitado pelos rebeldes.
Foto: Seyllou Diallo/AFP
Violência apesar do acordo de paz
Em 2004, o líder rebelde Augustin Diamacoune Senghore (à direita) e o ministro do Interior Ousmane Ngom (à esquerda) assinaram um tratado de paz duradouro. Embora o conflito político estivesse resolvido, alguns grupos de dissidentes do MFDC continuaram a lutar. E a violência em Casamança intensifica-se.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
A paz torna-se uma questão eleitoral
Em 2012, o concorrente Macky Sall venceu as eleições presidenciais contra Abdoulaye Wade. Uma das suas promessas era trazer finalmente a paz a Casamança. Durante a campanha, Macky Sall enviou o popular músico senegalês Youssou Ndour a Casamança.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
Violência latente
Apesar de todos os esforços de paz, a violência continuou nos anos seguintes. Mais recentemente, em 2018, 13 jovens foram mortos e vários ficaram feridos num massacre perto da capital regional de Ziguinchor. Até agora, muitas pessoas deslocadas não regressaram às suas casas por terem medo.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
Quotidiano em Casamança
Apesar dos recorrentes surtos de violência, os habitantes de Ziguinchor, a principal cidade da região de Casamança, prosseguem a sua vida quotidiana. Com mais de 200.000 habitantes, Ziguinchor é o principal centro comercial de Casamança e uma base importante para o Exército senegalês.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Atrás dos rebeldes
Segundo informações oficiais, soldados do Exército já capturaram várias bases rebeldes, incluindo um bunker subterrâneo, durante a última operação militar que arrancou no início de fevereiro de 2021. Desta forma, o Governo espera acabar também com as atividades criminosas através das quais os grupos rebeldes se financiam.