Guiné-Bissau: Desporto sem apoio das autoridades políticas
Iancuba Dansó (Bissau)
16 de outubro de 2020
Federações e clubes queixam-se da falta de apoio das autoridades. Mas o Governo guineense promete um programa "ambicioso" para elevar o nível do desporto. O novo presidente da Federação de Futebol já tomou posse.
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Com a nova época desportiva à porta, o desporto guineense continua a viver momentos complicados. A situação é considerada por unanimidade pelos observadores como precária.
O atual cenário requer um "investimento forte" das autoridades, que veem várias modalidades desportivas quase disfuncionais, impotentes economicamente e sem participações internacionais.
Uma das modalidades que mais evoluiu nos últimos tempos na Guiné-Bissau foi o voleibol, que viu aumentar o nível de interesse na capital do país. O presidente da Federação desta modalidade, Delfim Cabral, já anunciou um plano: "Queremos a expansão da modalidade a nível nacional, não só em Bissau, para que, realmente, todos os estudantes e a população da Guiné-Bissau tenham oportunidade de conhecer e saber o que é voleibol."
Futebol sem condições
O futebol, que mais gente arrasta na Guiné-Bissau, tem os seus problemas. Os clubes estão sem mínimas condições e campos próprios para a prática. Os jogadores não são pagos e o futebol é cada vez mais amador no país, numa altura em que vários clubes, sem patrocínios, lutam pela "sobrevivênci"”.
Catió Baldé quer educação para jogadores guineenses
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Fernando Mango, presidente do Flamingo de Pefine, clube que milita na primeira divisão do campeonato nacional, aponta o dedo ao Estado guineense. "O clube consegue sobreviver graças à dedicação dos seus dirigentes e alguns colaboradores. Não há colaboração do Estado da Guiné-Bissau, que tem a autoridade moral e financeira de apoiar os clubes para o desenvolvimento do futebol. Se não é assim, não faz sentido existir o desporto no país", critica.
Está prevista para a próxima semana, a abertura da época desportiva 2020/2021, para a qual o Governo tenciona minimizar as dificuldades dos clubes.
O diretor-geral dos Desportos, Alberto Dias, reconheceu já as dificuldades e carências no desporto guineense e anunciou a subvenção de quatro modalidades desportivas.
"Temos para (a nova) época a subvenção aos clubes da primeira e segunda divisão, com fundos para poderem colmatar as pequenas dificuldades que têm em relação ao desporto de formação. Diferentes modalidades, incluindo o futebol, vão beneficiar. As outras modalidades que vão beneficiar da subvenção são andebol, voleibol e atletismo", revelou.
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Caíto Teixeira já é presidente da FFGB
Enquanto isso, o novo presidente da Federação de Futebol da Guiné-Bissau (FFGB), Carlos Alberto Mendes Teixeira (Caíto Teixeira), traçou esta quinta-feira (15.10), na sua tomada de posse, as linhas da atuação da nova direção, nos próximos quatro anos.
"A Federação vai ter que dar atenção particular ao processo de relançamento e fomento do futebol nas camadas jovens. E vai trabalhar na melhoria e alargamento do quadro competitivo das provas oficiais", disse.
Caíto Teixeira prometeu também "incentivar e desenvolver ainda mais a prática do futebol feminino, de salão, de praia e, sobretudo, o futebol para veteranos", além de "dedicar uma atenção particular à questão das infraestruturas do futebol."
Com as "precariedades" no desporto nacional reconhecidas, o secretário de Estado da tutela, Florentino Fernando Dias, deixou uma promessa: "Vamos de mãos dadas, com todas as federações, criar bases fortes, para elevar o nível do desporto para o patamar que orgulhará a todos os guineenses."
O secretário de Estado do Desporto pretende também apostar mais na capacitação de talentos e na sua captação, na formação, organização e proteção dos atletas e desportistas em geral. "Vamos sem dúvida, assumir, juntos, um programa ambicioso, mas não impossível, porque estamos disponíveis e determinados a trazer resultados concretos no campo desportivo nacional", sublinhou.
Guiné-Bissau: futebol descalço entre os buracos da rua
Na maioria dos países, pratica-se futebol com condições apreciáveis e perante um calendário supra definido. Na Guiné-Bissau, no caso dos que se dedicam à prática desta profissão, eles enfrentam situações desconfortáveis.
Foto: Braima Darame
Futebol descalço
Na maioria dos países, pratica-se futebol com uma certa regularidade, com condições apreciáveis e perante um calendário supra definido. Na Guiné-Bissau, os atletas que se dedicam à prática da profissão, enfrentam situações desconfortáveis. As estruturas oferecidas pelas entidades desportivas do país desencorajam o investimento dos atletas em se profissionalizarem.
Foto: Braima Darame
Diamantes anónimos
A Guiné-Bissau é uma mina de diamantes anónimos no futebol. Apesar dessa potencialidade ser reconhecida, o desporto rei foi relegado para segundo plano. Num país onde as escolas públicas andam em constante paralisação e com sucessivas greves de professores, as crianças preenchem o seu tempo com partidas de futebol nas estradas e nas ruas esburacadas.
Foto: DW/B. Darame
Campos improvisados
À primeira vista pode assemelhar-se a uma zona pantanosa, reservada a pasto de gado, contudo, é um terreno destinado à prática futebolística, localizado em São Domingos, no extremo norte do país. São terrenos com obras em curso, impróprios para a prática de desporto, mas ainda assim, este espaço é muito disputado pelas equipas.
Foto: Braima Darame
Pequenos autodidatas
Sem escolas de formação e sem orientação de profissionais, cada um aposta nas qualidades que reconhece em si. Para estas crianças, assumir a posição de ataque em campo é muito apetecível pois sabem que os melhores e mais galardoados jogadores do mundo atuam nas zonas mais avançadas do retângulo de jogo.
Foto: Braima Darame
O sonho da alta competição
Maurício Sissé, apelidado de "Messi" graças à sua agilidade em campo, sonha um dia disputar um Campeonato do Mundo pela seleção nacional portuguesa, pois, segundo ele, é improvável que a Guiné-Bissau reúna condições para disputar o Campeonato. Sissé, de 10 anos, é orfão mas nos últimos meses tem estado à guarda de um empresário de futebol que pretende coloca-lo nas academias de formação na Europa.
Foto: Braima Darame
O treino diário
Chama-se Aliu Seidi, tem 8 anos e estuda na 2ª classe. Aliu é ainda criança mas já cresce nele o sonho de se profissionalizar no futebol. E não deixa que as dificuldades económicas dos seus pais travem neste desejo. Todas as manhãs bem cedo, Aliu arruma os seus equipamentos e segue em direção ao campo pelado de São Domingos, norte da Guiné-Bissau, para mais umas horas de treino.
Foto: Braima Darame
Com os pés no chão
Com muita paixão, garra e vontade de vencer, na Guiné-Bissau as crianças ainda jogam futebol de pés descalços, em lugares impróprios - com pedras ou vidros. Apesar de em cada partida estarem sujeito a se magoarem nos terrenos, o sonho de se tornarem estrelas futebolísticas, fala mais alto e as más condições não os afastam da prática desportiva.
Foto: Braima Darame
Seguir as pisadas rumo ao sucesso
O jogo é constantemente interrompido para permitir a passagem aos carros que circulam. Mas isto não os desmotiva. Têm sempre os olhos no percurso dos internacionais guineenses, desejando igual para si. Um exemplo é Bocindji, jogador na primeira liga francesa. Sami, atualmente na primeira liga portuguesa ou ainda Bruma, transferido do Sporting Clube de Portugal para o Galatasaray na Turquia.
Foto: Braima Darame
Uma partida no intervalo da lavoura
Nos últimos anos têm surgido algumas academias de formação no país. Martinho Sá, da academia Fidjus di Bideras em Bissau, joga futebol no intervalo do trabalho nos campos de arroz, que faz acompanhado pelos seus familiares. Sá conta que já teve lesões graves pela falta de condições dos campos improvisados e que não teve à sua disposição medicamentos de primeiros socorros.
Foto: Braima Darame
Uma incubadora falhada de jogadores
A falta de alimentação diversificada e a fraca formação representam os principais problemas que o país enfrenta para aqueles que vêm no desporto uma carreira em potência. Observadores defendem que se estas questões pudessem ser combatidas, a Guiné-Bissau tinha condições de ser uma incubadora de jogadores de topo.
Foto: Braima Darame
O melhor jogador da aldeia
Saído Baldé, tem apenas 7 anos de idade e nasceu na aldeia de Pelundo, no extremo norte do país. Confessa que nunca teve a oportunidade de assistir a um jogo de futebol na televisão, pois na sua aldeia não há corrente elétrica. Conta que nunca tomou o pequeno-almoço antes de se lançar para campo. Tal como Saído, são muitos os jovens no país que apenas fazem uma refeição por dia.
Foto: Braima Darame
Novos e velhos no Campeonato Defeso
A partir do início da última década, o Campeonato Defeso tem ganho muito impacto entre as comunidades e tem animado os bairros e as aldeias da Guiné-Bissau. Este campeonato de futebol amador e improvisado junta centenas de pessoas curiosas em ver o desempenho de atletas familiares, mas também, interessadas em assistir a novos jogadores que se dão a conhecer à comunidade pela primeira vez.
Foto: Braima Darame
Um campo portátil
E quando a vontade de jogar é muita, qualquer material serve para construir um campo improvisado de futebol. No caso desta fotografia, a cana de bambu foi utilizada para erguer uma baliza. Resta esperar que o resto da equipa chegue para começar uma nova partida.