Guiné-Bissau: Dissidentes recusam coligar-se com PAIGC
Braima Darame (Bissau)
12 de junho de 2018
Os 15 deputados expulsos do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) criaram um novo partido. Agora, buscam "grandes consensos" e sobretudo o apoio do Partido da Renovação Social (PRS).
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As legislativas aproximam-se e os 15 dissidentes do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e os seus apoiantes criaram, no sábado (09.06), um novo partido: o Movimento para a Alternância Democrática (MAD).
É com o MAD que o grupo promete ir às eleições, marcadas para 18 de novembro, coligado com outras formações políticas.
Braima Camará, coordenador do grupo dos dissentes, defende que o MAD "está aberto" para estabelecer coligações "com toda gente", embora eleja o Partido da Renovação Social (PRS) como o seu parceiro favorito.
"Reconhecemos no PRS a defesa da verdade, da Constituição da República e da democracia", afirmou Camará.
"Sendo esses os princípios e valores que o PRS defende, naturalmente há uma grande convergência nesse aspeto. Assim, vamos continuar as nossas alianças estratégicas para a busca de grandes consensos no processo político na Guiné-Bissau."
Aliança com PAIGC fora de questão
No discurso de encerramento de uma convenção que juntou, no fim-de-semana, em Bissau cerca de 600 apoiantes do grupo dos 15 dissidentes do PAIGC, Braima Camará afirmou, por diversas vezes, que "o PRS é o dono do grupo dos 15".
O político exclui quaisquer entendimentos com o PAIGC no âmbito das próximas eleições legislativas: "Não temos condições de integrar um partido em que não há justiça nem democracia interna, e em que o dono do partido é o presidente do partido", disse.
Questionado sobre o assunto, o PRS prometeu pronunciar-se nos próximos dias sobre as alegadas "alianças estratégicas" com o grupo de dissidentes do PAIGC, após consultar o órgão deliberativo do partido.
Guiné-Bissau: Dissidentes recusam coligar-se com PAIGC
Dúvidas sobre eleições
Entretanto, em Bissau, ainda pairam dúvidas no seio dos guineenses sobre se há realmente vontade política para realizar as eleições legislativas na data marcada, 18 de novembro: há mais de uma semana que não há informações sobre em que moldes será realizado o recenseamento dos eleitores, com os dois principais partidos políticos a divergir em relação a esta questão.
O PAIGC defende, entre outras coisas, que, para que as eleições sejam realizadas a tempo, é preciso imprimir os cartões de eleitor no exterior. Mas o PRS recusa, alegando que isso poderá ser mau para o país.
Além disso, apesar das promessas feitas, a comunidade internacional ainda não disponibilizou ao Governo verbas financeiras para que se possa começar o recenseamento. Por isso, após um périplo a seis países da sub-região africana, o primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes, deslocou-se a Bruxelas para tentar mobilizar apoios da União Europeia e de países parceiros, para que seja possível realizar o pleito na data marcada pelo Presidente guineense, José Mário Vaz.
Puxar a vida numa carreta na Guiné-Bissau
Abandonaram os seus países de origem em busca de melhores condições. Pela falta de alternativas que muitas vezes encontram, muitos jovens sujeitam-se a trabalhos pesados e puxam carretas para sustentar as famílias.
Foto: DW/B. Darame
Em busca de um sonho
São carretas como estas que sustentam várias famílias dos guineenses da Guiné-Conacri. Lamine Sissé, um jovem da etnia mandinga de 26 anos, conta que com a sua carrinha "Hummer" - como a apelida - conseguiu poupar dinheiro suficiente para financiar o seu casamento no seu país. Lamine diz que apesar dos guineenses não aceitarem bem esta forma de rendimento, o seu trabalho é digno e rentável.
Foto: DW/B. Darame
Deixar tudo para trás
Abubacar Jáquete nasceu na região de Boke na Guiné-Conacri, próximo da fronteira com a Guiné-Bissau. Tem 27 anos e deixou uma esposa e quatro filhos para trás. Quando emigrou, pretendia encontrar trabalho na construção, mas o objetivo falhou. Decidiu, então, trabalhar como empregado de carreta. Levanta-se muito cedo todos os dias, e carrega sob sol e chuva, todos os tipos de mercadoria.
Foto: DW/B. Darame
A carregar pela rua
Abandonam os seus países de origem em busca de melhores condições que lhes permitam construir um futuro mais sólido. Pela falta de alternativas que muitas vezes encontram, estes jovens sujeitam-se a trabalhos pesados, que exigem muito esforço físico.
Foto: DW/B. Darame
A desordem que dificulta
A maioria das pessoas que se dedicam a este trabalho são originais da Guiné-Conacri, país vizinho da Guiné-Bissau. O preço para transportar a carga varia entre os 5 e os 10 euros, dependendo da distância percorrida e do volume da carga. Contudo, enfrentam grandes dificuldades neste transporte, nomeadamente nas subidas e nas estradas desorganizadas de Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Puxando nas ruas de Bissau
Os citadinos da capital acabam por recorrem ao transporte de cargas através de carretas por falta de alternativas. Fazem-no porque o transporte é barato e também porque estes carros de mão conseguem circular em zonas de difícil acesso.
Foto: DW/B. Darame
Cargas inimagináveis
Muitos destes homens chegam a carregar uma tonelada de mercadoria. Levam consigo quase tudo, desde sacas de arroz, caixas de cerveja, ferros, cimentos, imóveis para casas. Transportam essas cargas pela berma da estrada, por mais de duas dezenas de quilómetros, entre viaturas e pessoas.
Foto: DW/B. Darame
Reabastecer o comércio
Em diferentes recantos da capital estes meios de transporte assumem o caráter de pronto-socorro. Os grandes e os pequenos comerciantes usam-nas para transportarem as mercadorias para o interior das suas lojas.
Foto: DW/B. Darame
Transportadores de água em crises
Em tempos de crise de água em Bissau, os citadinos recorrem aos transportadores de carretas para transporte de bidões de 50 litros de água. Bacar Mané, pai de 7 filhos, chegou a transportar cerca de 100 bidões de 50 litros para mais de quatro bairros periféricos, prefazendo cerca de 20 quilómetros por dia.
Foto: DW/B. Darame
Nem todas as carretas são iguais
Pela diferença de dimensão que as carretas têm, percebe-se que existem dois tipos destes carros de mão em Bissau. Um, o mais comum, é utilizado nos trabalhos de obra e assegura o transporte de pequenos produtos. Outro (na imagem), com uma estrutura mais rigída, tem rodas de viatura ligeira e ferros cruzados, para transporte de cargas mais pesadas e de maior volume.
Foto: DW/B. Darame
A entrega
O último passo do transporte é a respetiva entrega da mercadoria aos seus destinatários. Atualmente, mais de mil jovens dedicam-se a esta atividade no país.
Foto: DW/B. Darame
E tudo recomeça na manhã seguinte
Os jovens aguardam pacientemente pelos fornecedores que irão descarregar os seus produtos nos armazéns, situados na principal avenida de Bissau. Às 7 horas da manhã, inundam paragens de transportes coletivos, portos e mercados informais. Vão cedo para garantirem entregas e trabalho para o dia que se avizinha.