Guiné-Bissau e crise financeira dominam encontros da CPLP
7 de fevereiro de 2012 No encontro desta terça-feira (07.02) na capital portuguesa, em que participaram também os ex-presidentes da Comunidade de Países de Língua Portugues (CPLP), a preocupação foi sem dúvida a instabilidade na Guiné-Bissau.
Embora reconheça que os guineenses são os principais atores da estabilidade e desenvolvimento no seu país, o ex-Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, critica a morosidade da comunidade internacional, que não reagiu a tempo de prestar a devida atenção aos sinais de instabilidade no país.
Neste colóquio, Pedro Pires exortou a CPLP a prosseguir com os esforços para a normalização institucional naquele país lusófono. O atual presidente da Fundação Amílcar Cabral olha para o futuro da Guiné-Bissau no contexto da estabilidade em África .
"Em toda a África, não só na Guiné-Bissau, temos de trabalhar para termos Estados de direito sólidos com capacidade para oferecer aos países uma visão realista do futuro, para fazermos a marcha que queremos", argumenta.
O ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano vai pelo mesmo diapasão e evidencia um certo otimismo: "Com a ajuda de cada um dos países da CPLP e de outras organizações internacionais, a Guiné-Bissau poderá ultrapassar e enterrar esta fase difícil da sua história."
Questões económicas em cima da mesa
Joaquim Chissano pede um maior empenho na difusão da língua portuguesa, mas considera também importante intensificar a cooperação económica e empresarial, assim como uma real circulação de bens e serviços: "Não tenho dúvidas que a cooperação económica e empresarial é o cimento que reforça uma organização de povos", finaliza o ex-presidente moçambicano.
Assuntos que, aliás, foram debatidos esta segunda-feira (07.02) no Conselho de Ministros extraordinário, presidido pelo chefe da diplomacia angolana, George Chicoti. Com a crise profunda que abala a economia europeia, o ex-Presidente português Jorge Sampaio destacou a expansão de novos pólos como a China, a Índia, a África do Sul e o Brasil, e atribui à CPLP um papel relevante na redução da pobreza .
No seu discurso, Sampaio enumera vantagens e ligações que podem catapultar a organização rumo ao desenvolvimento: "A CPLP, no cruzamento desse mundo em mudanças, está bem posicionado, não só para servir de interface e proporcionar emprego, crescimento económico e desenvolvimento, como para criar sinergias e definir complementaridades e encontrar um justo equilibrio entre expetativas e necessidades mútuas."
Por ter condições para tal, Sampaio defende como uma das prioridades da CPLP atingir as metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. É na linha desta reflexão que o seu conterrâneo Mário Soares, antigo chefe de Estado, evoca a crise económica mundial, que também afeta os países lusófonos, apontando o dedo e responsabilidade às lideranças da União Europeia, com referência explícita ao papel da Alemanha, face à crise na zona euro.
O colóquio foi encerrado por Fernando Piedade dos Santos, vice-presidente de Angola, país que detém atualmente a presidência da CPLP.
Guiné Equatorial: um processo ainda sem desfecho
Outro assunto discutido no encontro dos ministros dos Negócios Estrangeiros da organização nesta segunda-feira (07.02) foi a adesão da Guiné Equatorial. Este país diz que tem reunidas todas as condições necessárias para se tornar membro de pleno direito da CPLP, a partir da cimeira dos chefes de Estado e de Governo da organização prevista para Julho deste ano, em Maputo, Moçambique.
A garantia foi dada pelo ministro guinéu-equatoriano dos Negócios Estrangeiros: "Acredito que há avanços consideráveis para a Guiné Equatorial ser membro da CPLP." Pastor Micha Bilee faz referência à preparação de um plano de ação, que conta com o apoio do secretariado executivo e com Angola, país que assume a presidência da CPLP.
Uma fonte da CPLP adiantou à DW África que se trata apenas de uma reunião informal, para troca de informação sobre os dossiers propostos pela presidência angolana. Embora a adesão da Guiné Equatorial esteja na agenda deste encontro, a par da situação na Guiné-Bissau, certo é que uma decisão final só será conhecida na cimeira de Maputo.
O ministro moçambicano dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Balói, que nessa altura presidirá o próximo Conselho, não avançou muito sobre o encontro: "Aguardamos pela discussão, há uma grande solidariedade para com este país, tudo que aflige os guineenses aflige-nos também. Relativamente à Guiné Equatorial, vamos fazer uma avaliação e depois tomarmos uma decisão."
O regime do presidente Teodoro Nguema é visto por alguns círculos políticos internacionais como "repressivo e corrupto". Na sua intervenção no ato inaugural, o presidente de Portugal Cavaco Silva, tal com o vice-presidente de Angola, sublinharam a democracia e os direitos humanos como um dos valores estruturantes da estabilidade na Comunidade.
Já o angolano Marcolino Moco, na qualidade de ex-primeiro secretário executivo da CPLP, considera ser um tema complexo, mas não se opõe à adesão da Guiné Equatorial. No entanto, deixa um recado em relação a Angola: "Estamos em paz há dez anos, mas temos problemas. Não digo que em Angola o regime não seja democrático, mas é preciso tomar alguns cuidados."
Autor: João Carlos (Lisboa)
Edição: Nádia Issufo/António Rocha