Juventude "determinante" para vitória do PAI - Terra Ranka
9 de junho de 2023
Na Guiné-Bissau, analistas consideram que os jovens foram "determinantes" para a vitória do PAI - Terra Ranka nas legislativas. E afirmam que o Presidente Sissoco Embaló deve aceitar o resultado das eleições.
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Após a vitória da coligação PAI - Terra Ranka nas eleições legislativas guineenses, que alcançou a maioria absoluta no Parlamento, o sociólogo Miguel de Barros diz que o povo acaba de rejeitar o regime de Umaro Sissoco Embaló.
Na opinião do sociólogo, "o Presidente não tem interesse de ser visto como elemento de bloqueio do processo".
"Aquilo que é recomendável é que não só aceite a proposta de nome para o primeiro-ministro, como também uma negociação muito aberta em relação à formação do novo Governo para que não se perca muito tempo", afirma Miguel de Barros, citando Sissoco Embaló.
"Mensagem do povo"
O professor e historiador guineense Sumaila Djaló concorda com Miguel de Barros. E interpreta os resultados como um cartão vermelho contra as restrições às liberdades fundamentais no país.
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"O Presidente da República ou entende esta mensagem do povo, ou ele será derrotado política e democraticamente nas próximas eleições presidenciais logo à primeira volta", avalia.
Para o sociólogo Miguel de Barros, o vencedor das eleições tem um grande desafio pela frente: corresponder aos anseios dos jovens.
"E essa juventude foi determinante em superar as tradicionais bases dos partidos para demostrar as necessidades de viragem da democracia e da liberdade", considera Barros, acrescentando que "o desafio do PAIGC é de uma democracia implementada através de uma governação estável".
"Não foi capaz de capitalizar a tal relação que tinha com o Presidente da República. Foi o caju também o elemento para a sua própria derrota".
Entretanto, após a divulgação dos resultados eleitorais, o MADEM-G15 disse estar pronto para "cooperar" com o novo Governo.
Segundo o analista, outra grande derrotada das eleições legislativas é a Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau, liderada pelo primeiro-ministro cessante Nuno Gomes Nabiam, que obteve apenas um deputado, quando em 2019 elegeu cinco deputados.
Mas Partido de Renovação Socia (PRS) também foi muito aquém, na avaliação do sociólogo: "Em três eleições, saiu de 40 para 12 deputados. Nem sempre é virtuoso estar no Governo".
A Comissão Nacional de Eleições divulgou na quinta-feira (08.06) os resultados das eleições legislativas do passado domingo (04.06). A coligação PAI - Terra Ranka vencei com 54 dos 102 deputados do Parlamento, conquistando assim a maioria absoluta.
O dia do voto na Guiné-Bissau
As eleições legislativas da Guiné-Bissau decorreram num ambiente tranquilo, apesar de alguns problemas logísticos. Na diáspora, houve confusão. Líderes políticos pedem que a "vontade do povo" seja respeitada.
Foto: F. Tchumá/DW
Ambiente tranquilo
A votação começou pontualmente às 7h locais em toda a Guiné-Bissau, segundo as autoridades eleitorais. Em Bissau, a DW constatou que, apesar de longas filas, a votação arrancou num ambiente tranquilo e sem problemas.
Foto: F. Tchumá/DW
Votação não parou
Mesmo com a falta de tinta indelével em alguns locais de votação, os eleitores seguiram o processo eleitoral normalmente, de acordo com relatos dos correspondentes da DW na capital guineense.
Foto: Darcicio Barbosa/AP/picture alliance
Sissoco votou em Gabú
Longe de Bissau, em Gabú, no leste do país, o Presidente Umaro Sissoco Embaló depositou o seu voto na urna acompanhado de vários apoiantes. Em declarações à imprensa, Sissoco Embaló avisou que não vai permitir a contestação dos resultados das eleições legislativas: "O povo está a votar e quem for eleito é que vai governar", garantiu.
Foto: DW
"Bom-senso" nas eleições
Em Bissau, Domingos Simões Pereira, que lidera a coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) - Terra Ranka, disse temer "a eventualidade de alguém querer brincar com a vontade expressa pelo povo guineense". "Espero que tenhamos o bom-senso para não incorrer neste tipo de brincadeira", afirmou Simões Pereira.
Foto: Iancuba Dansó/DW
"Celebração da democracia"
O líder do MADEM-G15, partido que está no Governo desde 2020, votou no centro de Bissau e afirmou que estas eleições são uma "celebração da democracia", o caminho pelo qual os guineenses vão "encontrar a estabilidade consistente e duradoura". "Esta é a vez da Guiné-Bissau", disse Braima Camará.
Foto: A. Cabral/DW
"Aceitem a vontade do povo"
Botché Candé, do Partido dos Trabalhadores Guineenses (PTG), exerceu o seu direito de voto na cidade de Bafatá, no leste do país. Em declarações à imprensa, disse esperar uma boa convivência entre o Presidente da República e o candidato eleito nestas eleições. Também lançou um apelo aos líderes políticos do país: "Aceitem a vontade do povo".
Foto: privat
Um apelo à paz
A única mulher candidata à liderança do Governo nestas eleições fez um apelo à paz minutos após exercer o seu direito ao voto. Joana Cobdé, presidente do Movimento Social Democrático (MSD), disse que o país está cansado das crises políticas e questionou: "Se continuarmos a brigar, quem é que vai estabilizar este país?".
Foto: I. Dansó/DW
Confusão em Lisboa
A votação na Embaixada da Guiné-Bissau em Lisboa foi marcada por uma confusão na longa fila que se formou desde cedo. As autoridades eleitorais da embaixada admitiram que não foi fácil gerir o processo, mesmo com a ajuda da polícia portuguesa. Em Dacar, a votação foi adiada devido aos confrontos na capital senegalesa.